terça-feira, 8 de outubro de 2024

A lucidez centenária de dom Edmilson, o bispo mais idoso do Brasil

Por Cláudio Ribeiro (*)

Dom Manuel Edmilson da Cruz fará 100 anos no dia 3 de outubro próximo. Com uma vida inspiradora e a memória admirável, mesmo que o tempo lhe cobre a fragilidade física

"Diz-me o que sabes e te direi quem és". Dom Manuel Edmilson da Cruz, arcebispo emérito de Limoeiro do Norte, gosta de lançar a frase como referência. Talvez como uma oração. Citou-a três vezes em quase duas horas de entrevista. É criação sua? "Foi Deus que me deu", divide a autoria.

É um dito que usa quando lhe perguntam e se impressionam por sua lucidez e disposição, por ele estar prestes a se tornar um centenário. São 99 anos e cinco meses de uma vida inspiradora. Em 3 de outubro próximo, completará os 100 — como inclusive o fizeram alguns de seus irmãos. Hoje, dom Edmilson é o bispo mais idoso da Igreja Católica no Brasil.

O pensamento dele é claro, completo, cheio de lances detalhados de uma memória privilegiada. Um sacerdote que foi voz altiva em defesa de perseguidos, pobres, desamparados. A mente ainda ferve, relembra, se posiciona, mas a voz e o corpo agora são mais fragilizados.

A cervical se dobra numa escoliose acentuada, as frases se encurtam, às vezes inaudíveis. A bengala, os estudos e as orações lhe dão o suporte. Ele ainda está ali, cruzando o tempo, reforçando convicções, bancando pontos de vista. As ideias que se construíram em um século de vida ainda se sustentam e são consideradas. A limitação é apenas física.

Dom Edmilson ainda gostaria de viajar: "Se eu pudesse, viajaria. Porque gostaria de ver alguma coisa no mundo ainda. E olhe que eu já andei muito". Conviveu com seis dos sete arcebispos de Fortaleza, foi refém num sequestro 30 anos atrás ao lado do amigo dom Aloísio Lorscheider, peitou militares que cercaram uma missa sua em plena ditadura, escreveu, ensinou, ainda aprende.

Hoje, o bispo descansa muito menos do que sua idade recomendaria. Gosta de orar, ler (em mais de um idioma), estudar, ainda celebra missa diariamente, recebe e faz visitas quando pode. Mantém a jovialidade que as idades cronológica e a do corpo lhe permitem. Segue inquieto e produzindo: quer lançar um livro no dia do aniversário.

O POVO - O que o senhor tem pensado sobre estar prestes a completar 100 anos de vida?

Dom Edmilson da Cruz - Antes de mais nada, vou dizer uma coisa importante: "Diz-me o que sabes e te direi quem és". É o saber verdadeiro. Não é o saber acadêmico somente. Mas você quer saber mais da minha vida? Eu nasci em Aranaú (distrito de Acaraú, a 233,5 km de Fortaleza). Nasci em 1924. Com quatro anos e meio, meu pai me trouxe para a sede do município de Acaraú. Meus primeiros professores foram meu pai (João Batista da Cruz) e minha mãe (Luíza Ferreira da Cruz). Professores e formadores.

OP - Eles eram praticantes na religião?

D. Edmilson - No começo ele (pai) não tinha tanta (devoção), ela (mãe) era mais. Ele era religioso. Era um poeta. Mas fui crescendo, a minha formação era em casa. Tive professoras por pouco tempo. Depois chegou um grupo escolar. Eu atuava como coroinha nas horas livres. Acompanhava o padre nas viagens às capelas.

OP - Quem era o padre?

Dom Edmilson - Monsenhor Sabino de Lima Feijão.

OP - O senhor tinha quantos irmãos?

Dom Edmilson - Lá em casa somos duas famílias de duas irmãs (Vicência e Luíza). Quando morreu a tia Vicência, mãe dos sete primeiros filhos, ela tinha dito à irmã "você vai se casar e cuidar deles (filhos)".

OP - Sua mãe, Luíza, casou com o marido da irmã, a Vicência, depois que ela morreu. A Vicência teve sete filhos. Sua mãe teve quantos?

Dom Edmilson - Cinco. Eu sou o do meio. Éramos ao mesmo tempo irmãos e primos.

OP - E só o senhor seguiu na vida religiosa?

Dom Edmilson - Nenhum padre nem freira. Mas tive uma irmã que tinha uma coisa extraordinária, a capacidade de aconselhar. Era uma pessoa piedosa, a mais meiga das minhas irmãs. O nome dela era Tereza Carmelita da Cruz Gadelha.

OP - Mas ainda queria saber se o senhor reflete sobre sua condição de ser uma pessoa centenária. O que o senhor pensa sobre chegar aos 100 anos?

Dom Edmilson - Eu penso que é um privilégio que eu não merecia e Deus me concedeu isso. Acho que não merecia. Mas o Pai do céu me concedeu. É interessante que essa minha velhice não para, no sentido de que ainda tenho mais o que aprender. Cada dia é um estudo e cada dia aprendo. Eu entendo cinco línguas, estou estudando alemão. Eu aprendo depressa.

OP - O senhor é uma pessoa com 100 anos que ainda está aprendendo e produzindo.

Dom Edmilson - Deus Nosso Senhor me deu essa graça de continuar crescendo. Não existe vaidade. "Diz-me o que sabes e te direi quem és". A maior parte da minha vida hoje, do meu dia, é oração. Oração silenciosa, oração com os outros, oração da missa, oração na manhã, no meio-dia e na noite. Além disso, a mentalidade aberta para que eu possa aprender e transmitir aos outros. Do jeito que vou, chego aos 100 no próximo dia 3 de outubro. Minha irmã Vicência completou 100, passou de 100. Meu irmão José morreu faltando dois meses para completar 100. Minha irmã Maria Abigail passou de 100. Todos já foram para a eternidade.

OP - Qual é a sua rotina de leitura?

Dom Edmilson - Leio todo santo dia. E leio em várias línguas. Para não perder, senão a gente esquece. Em português, latim. Podia ler em grego, mas perdi o hábito. Espanhol, inglês, italiano. O alemão, tô aprendendo. Não sei se posso dizer que falo, porque certa vez estava na França, falando em francês, aí disse uma frase e me corrigiram. Eu disse um francês lido. Então quer dizer que falar não é a mesma coisa que ler.

OP - O senhor se incomoda quando falam ou lhe pedem para falar sobre sua idade?

Dom Edmilson - Não é uma coisa que eu faça força para chegar. Chego porque Papai do céu está mandando. E eu agradeço. Mas eu faço a minha parte também, já que estou nas condições.

OP - O senhor tem seus cuidados próprios? Alimentação no horário, boas horas de sono, medicação?

Dom Edmilson - Eu tenho cuidados. É um dever nosso, de cada um de nós. É um instinto também, de autodefesa da vida. Todo santo dia eu faço massagem no joelho. Isso é importantíssimo. Outra coisa é a massagem na cabeça (faz o gesto), no cabelo. A meu ver isso evita muita coisa. Outra importante é não tomar água logo antes, durante ou logo após as refeições. Durmo muito bem. No momento eu saí do meu esquema — mas vou voltar —, de dormir cedo, antes das dez da noite. Porque estou muito extravagante nos últimos tempos. O ideal são oito horas de trabalho, oito horas de oração e oito horas de sono.

OP - O senhor faz questão de manter essa atividade toda?

Dom Edmilson - Me poupar, eu me poupo, sim. É uma exigência da idade e ao mesmo tempo porque eu estou na situação de doar o trabalho marcado para mim. Estou bem livre neste ponto.

OP - O senhor sempre teve posições muito firmes, desde a época da ditadura militar. Naquela época, em algum momento o senhor esteve prestes a ser preso por alguma atitude que tomou?

Dom Edmilson - Quem foi preso foi dom Aloísio Lorscheider (arcebispo de Fortaleza de 1973 a 1995). Não fui preso, mas houve ocasiões de luta contra a ditadura da minha parte. Numa delas, no dia da vitória pelas Eleições Diretas (1984), eu fui celebrar na igreja da Conceição, no Maranhão, estava cheinha de soldados e eu chamei atenção para o fato. "Não precisa desses soldados. Mandem levá-los para o campo de batalha". Eu disse que aquilo poderia responsabilizar até o presidente da República pela situação. Aí o capitão do Exército disse: "O senhor não falou sobre a palavra de Deus. Mas eu vou atender seu pedido". Quando eu terminei a missa, eles saíram todos. Quando vou saindo, com um padre ao meu lado, deram a segurança. Um companheiro que ficou celebrando.

OP - Mas quiseram lhe prender?

Dom Edmilson - Eu não sei se quiseram me prender. Só sei que o coronel Liége, quando me chamou para participar de algumas celebrações, me tratava sempre com muito respeito, mas ele fotografava a minha pessoa.

OP - Durante a missa?

Dom Edmilson - Fora da missa. Não sei qual era a intenção dele.

OP - O senhor completou 75 anos de sacerdócio, da primeira ordenação. E foi contemporâneo ou conviveu com seis dos sete arcebispos de Fortaleza. É uma marca sua.

Dom Edmilson - Um conviver que não é estar presente. Quando eu estive uma vez só com dom Antônio de Almeida Lustosa (arcebispo de 1941 a 1963), eu era professor do seminário e ele era uma pessoa muito distinta, trabalhava em pé. Ele era um cientista também. Era muito sábio. Ele não ia a essas reuniões comunitárias, consagrações importantes, ligadas a momentos históricos.

Era um homem muito metódico, muito santo. Comunicava-se muito bem, escritor de primeira qualidade, poeta. Me encontrei com ele em celebrações na capela do Pequeno Grande (Colégio da Imaculada Conceição, no Centro). Nesse tempo eu deveria ter uns 18 anos. Estava no seminário da Prainha. Fiquei admirado a primeira vez. O bispo dom José Tupinambá da Frota (ex-bispo de Sobral), um homem muito inteligente, mas por qualquer coisa ele dava um esbregue danado (faz gestos e caretas como se imitasse uma bronca de dom José Tupinambá).

OP - E dom Antônio de Almeida Lustosa era tranquilo?

Dom Edmilson - Exatamente aonde quero chegar, dom Antônio. A primeira vez que participei como seminarista numa missa na capela do Pequeno Grande, na hora caiu uma brasa, ele disse "cuidado para não queimar o tapete". Se fosse em Sobral teria sido… (dá uma risada comparando com possível atitude de dom José Tupinambá).

OP - Dom Antônio de Almeida Lustosa hoje já é venerável, a um passo da beatificação.

Dom Edmilson - Falta tempo ainda. Tem uma caminhada grande aí. Isso vai depender da constatação oficial de um milagre.

OP - Do que o senhor o conheceu, era uma pessoa que tinha o dom de um milagre?

Dom Edmilson - Aquele homem era um santo mesmo.

OP - O senhor poderia falar um pouco de cada arcebispo que conviveu na Arquidiocese de Fortaleza?

Dom Edmilson - Chamar atenção de uma história. Eu estava no curso de Filosofia no Seminário da Prainha e dom Manoel da Silva Gomes (bispo de 1912 a 1915 e se tornou o primeiro arcebispo, permanecendo até 1941), ao renunciar, resolveu voltar a Salvador. Lá, não tinha mais nenhum amigo vivo e ele resolveu voltar para o Ceará.

OP - Dom José de Medeiros Delgado, o segundo a ocupar o cargo (de 1963 a 1973), o senhor conviveu diretamente?

Dom Edmilson - Convivi muito. Ele era do Maranhão. Foi ele que fundou a Universidade do Maranhão. (De 1966 a 1974, dom Edmilson foi bispo auxiliar de dom João José da Mota e Albuquerque, na arquidiocese de São Luís).

OP - Com dom Aloísio Lorscheider o senhor conviveu 22 anos. Foi o seu maior amigo dentro da igreja?

Dom Edmilson - Esta é uma pergunta difícil. É porque eu me sinto uma pessoa que tem muitos amigos.

OP - O senhor acha que teve uma linha de atuação muito parecida com a dele?

Dom Edmilson - Bom, dom Aloísio era muito competente e me influenciou. Foi uma convivência que não tem nenhum momento de amargura. Nenhum, nenhum. Tem momentos difíceis como aquele sequestro lá do presídio IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate, em 15 de março de 1994, quando ambos estavam entre 13 pessoas que viraram reféns).

Naquele momento, dom Aloísio estava sentado numa poltrona no auditório. Ele ficou amarrado na cadeira por arame farpado. E os sequestradores exigindo a pressa para saírem, garantindo que em tal lugar deixariam dom Aloísio. Um deles disse "se não nos atenderem, se preparem para o churrasco".

OP - O senhor teve medo da morte naquele momento?

Dom Edmilson - Para falar a verdade, nunca pensei que fosse morrer ali, não. Eu podia estar com medo na hora, mas nunca pensei que fosse morrer. No dia seguinte, quando a Polícia me trouxe, me deixou aqui, minha irmã Terezinha, que era enfermeira, ela mediu minha pressão. Estava 12 por 4.

OP - Foi uma tensão grande, um refém amarrado numa cadeira com arame farpado…

Dom Edmilson - Aquilo fazia a gente duvidar. Mas o que mais admirei em dom Aloísio foi no dia em que ele foi lá onde eles (sequestradores) estavam (de volta ao presídio) para perdoar (na cerimônia do lavapés, no mês seguinte ao sequestro).

OP - E sobre dom Cláudio Hummes (arcebispo de 1996 a 1998)?

Dom Edmilson - Ele era um amigo pessoal. Ele tinha muito respeito a mim e eu a ele. Pouca gente sabe, dom Cláudio esteve em visita à região amazônica. Ele viu toda aquela situação e levou para o santo padre, que depois do Sínodo dos Bispos costumava sempre dar uma orientação apostólica sobre o assunto. No caso, ele não deu. Ele deu foi uma oração, coisa muito bonita, citando a situação da Amazônia. E isso motivou todo esse empenho que está havendo não só no Brasil, mas nas Nações Unidas para a conservação do planeta.

OP - E de dom José Antônio Aparecido Tosi (de 1999 a 2023), agora arcebispo emérito de Fortaleza?

Dom Edmilson - Eu nunca esqueço de uma coisa. Ontem ele veio me visitar. Eu tinha chegado aqui fazia pouco tempo, fomos passar uns dias de repouso numa praia. Quando cheguei lá, para minha surpresa, ele pegou minha bagagem para me ajudar. "Não precisa, arcebispo". Isso é um gesto muito bonito, de humildade de um arcebispo. É um homem muito organizado. As paróquias todas muito pensadas, bem divididas.

OP - Ele é mais reservado.

Dom Edmilson - Não é bem isso. Reservado ele é, mas muito prudente, inteligente e preparado. E canta muito bem.

OP - O que o senhor tem de expectativas em relação a dom Gregório Paixão, novo arcebispo de Fortaleza? Ele lhe citou três vezes no discurso de posse (em 15 de dezembro de 2023).

Dom Edmilson - Eu achei aquele gesto tão interessante. Falei com ele, gostei muito dele. Muito simpático e muito competente. A expectativa é daqui pra melhor. Mas cada arcebispo tem o seu mérito próprio.

OP - O senhor lembra da sua infância, de como se interessou pela vida religiosa?

Dom Edmilson - Lembro. É uma vocação, nasceu comigo. Uma vez no meu aniversário lá em casa, eu já era padre, falando sobre esse assunto, fui voltando a idade. No tempo dos estudos médios, científicos, pensava muito em grandeza literária, em ser um grande poeta.

OP - Antes de se tornar padre, de seguir sua vocação, o senhor pensava em alguma profissão?

Dom Edmilson - Vocação não é profissão. Nunca defini uma profissão. Em ser professor era uma coisa que fazia natural, que veio com a vocação. Ensinei muita coisa. Latim, francês, ensinei inglês. Isso eu estava com uns 26 anos.

OP - Voltando mais um pouco ainda, o senhor lembra quando foi a primeira vez que disse que ia ser padre?

Dom Edmilson - No dia que eu fui confirmado como bispo, lá em Sobral, eu disse que minha vocação era ser padre. Se eu nascesse 50 mil vezes, 50 mil vezes queria ser padre. Isso está na minha alma. É uma coisa que eu tenho como um dom de Deus.

OP - Dez anos atrás, em entrevista ao O POVO, o senhor falou aqui na sua casa…

Dom Edmilson - A casa não é minha. Não tenho casa nem transporte. E nunca me faltou casa nem transporte (risos).

É a idade mais feliz da minha vida. As idades atuais são sempre as mais felizes. A idade é a atual, que não é a mais gostosa. Porque há coisas que fazem a pessoa sofrer. Os limites físicos. Os limites de comunicação. Não tenho a possibilidade de viajar, por exemplo.

OP - O senhor ainda sente hoje a vontade de viajar?

Dom Edmilson - Se eu pudesse, viajaria. Porque gostaria de ver alguma coisa no mundo ainda. E olhe que eu já andei muito.

OP - O senhor hoje entende mais os seus limites? É muito mais difícil estar fisicamente num local?

Dom Edmilson - Eu diria que mais do que perceber, eu sinto. Mas pra mim não é uma limitação. Faz parte da vida. É o curso natural da vida. Pra mim isso é um ponto de referência para a eternidade. Para conhecer que o melhor está chegando.

OP - Tem algum momento que o senhor sofre ou se sente chateado por essa limitação?

Dom Edmilson - Não. Eu acho isso uma consequência da caminhada humana. Isso faz parte da observação da vida, da oração, de ouvir os outros.

OP - O que o senhor, que é sempre disposto e jovem nas atitudes, diz sobre o envelhecimento mental, que é muito pior que o físico?

Dom Edmilson - Eu diria que ela não se considere infeliz, são partes do processo da vida. Isso é caminho para uma plenitude de vida.

OP - Felicidade é muito difícil de ser alcançada? É mais elaboração do que conquista?

Dom Edmilson - Depende da pessoa. Há as pessoas que são muito fantasistas, inventam muita coisa, sem fundamento nenhum. Em vez de coisas complexas, são variáveis.

OP - O senhor está com projetos em andamento. Soube de um livro.

Dom Edmilson - Tenho mais de um livro escrito já. E minha parte poética pretendo publicar quando completar 100 anos. Vai se chamar "Ritmo Pascal". Através das poesias, em ritmo de Páscoa, pretendo mostrar o caminhar para a plenitude. São umas 90 poesias.

OP - O senhor se acha uma pessoa fora do padrão, pela memória privilegiada, por ainda estar produzindo nessa idade? Ou estou sendo etarista?

Dom Edmilson - É apenas a ocasião de fazer o que se é pra fazer. É da parte de Deus. Cada um tem o seu privilégio, você também tem o seu. Repito o que disse: "Diz-me o que sabes e te direi quem és".

OP - Essa frase é sua?

Dom Edmilson - Deus me deu.

OP - O senhor é um dos bispos mais idosos da Igreja Católica no Brasil?

Dom Edmilson - Sou o mais idoso. Sou o decano. O mais velho da Igreja Católica. No Brasil, sim.

OP - Sobre o papa Francisco, que se mostra sempre com posições e decisões vanguardistas para a linha da Igreja, o que o senhor tem a dizer?

Dom Edmilson - É Deus que dirige a Igreja. Mas esse papa tem atitudes que chamam a atenção. Quando ele, por exemplo, se comunica com o povo, quando ele partilha, quando vai visitar prisões, toma um preso nos braços, são gestos que um papa não fazia antes. Ele faz. Mostra muito bem como ele nos transmite a imagem de Jesus Cristo ao fazer essas coisas. E a palavra de Deus é inspirada. Pode notar que aquela palavra tem um conteúdo que é positivo. E mesmo quando é alguma coisa negativa, ele leva para o lado positivo em primeiro lugar. Isso não é muito comum, não. Ele hoje caminha com a bengala, sofre com o joelho. Porque não faz o que eu faço.

OP - É elogiável que o senhor, nessa idade, ainda faz planos, tem projetos.

Dom Edmilson - Mas projetos tranquilos. Quanto a viver, estou nas mãos de Deus.

(*) Jornalista de O Povo.

Fonte: O Povo, de 3/03/2024. Páginas Azuis. p.4-5.


AS TORTUOSAS TRILHAS DA CIÊNCIA NO CEARÁ

Por Armênio Aguiar dos Santos (*)

É promissor testemunhar a Universidade Federal do Ceará nos 70 anos restaurar o Colégio de Altos Estudos (CEA), incumbido de repensar sua atividade acadêmica. Ademais, pela palestra do Prof. Renato Janine, Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), "O papel das Universidades Brasileiras diante dos desafios contemporâneos", organizada pelo CEA e a Pós-Graduação em Sociologia da UFC, que aliás completa 30 anos.

A data marca ainda os 30 anos de efetiva atuação da Funcap, Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (C&T) que concede bolsas para graduandos, pós-graduandos e pós-doutores, além de bolsas BPI à pesquisadores no interior do estado. E este ano inaugurou o processo de internacionalização da C&T cearense. Já o programa Cientista Chefe desperta inovações em C&T nas secretarias mais estratégicas, tendo na pandemia apoiado a criação do capacete Elmo, premiado com a Medalha da Abolição. E agora, o Governador Elmano reativou, enfim, o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia, definidor das estratégias no setor.

Mas para ultrapassarmos a economia de subsistência agro-pastoril e exploração turística, urge novas atitudes. Apoiar PG sediadas no interior, pelo intercâmbio acadêmico do interior com a capital bem como atrair pesquisadores sêniores para o Ceará. Fomentar interação de grupos emergentes no Ceará e grupos de pesquisa já consolidados no Sudeste.

Retomar ações como: i) Programa de Apoio a Núcleos de Excelência, ii) Programa de Apoio a Núcleos Emergentes e iii) Programa Primeiros Projetos para jovens pesquisadores atuantes no Ceará. E fomentar o intercâmbio das Universidades locais com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em vias de ser aqui instalado. Reconhecendo o notável papel do governo estadual na melhoria do ensino básico, urge agora elevar o nível do ensino médio com a ajuda das Universidades via amplo programa de divulgação científica, ensejando assim a formação cidadã de nossos adolescentes e jovens.

Para tal, basta o Governo do Estado reafirmar o termo de ajuste do firmado em 2018 com o Tribunal de Contas e elevar, progressivamente, a execução financeira da Funcap até atingir os 2% da arrecadação estadual previstos na Constituição Estadual.

(*) Médico. Professor titular da Faculdade de Medicina da UFC. Conselheiro da região Nordeste da SBPC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/09/2024. Opinião. p.23.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Convite Lançamento: PALAVRAS CHAVES

A Diretoria da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará convida para o lançamento de “Palavras Chaves”, a quadragésima segunda antologia anual da Sobrames-CE.

O livro é prefaciado pelo médico e escritor Dr. Sérgio Telles, ilustre psicanalista cearense radicado em São Paulo, e conta com 64 autores participantes.

Local: Auditório da Unichristus - Campus Parque Ecológico.

Rua João Adolfo Gurgel, 133 - Cocó.

Data: 10 de outubro de 2024 (quinta-feira) Horário: 19h.

Traje: Esporte fino.

Após o evento será servido um coquetel.

Maria Sidneuma Melo Ventura

Presidente da Sobrames-CE


Saúde, formação médica e os impactos sociais

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

O tema remonta a uma discussão antiga sobre o acesso dos pacientes ao sistema de saúde. Alguns aspectos merecem uma análise mais aprofundada.

Recentemente, foi publicado no British Medical Journal um levantamento sobre iatrogenia médica, de 2001 a 2019. Refiro-me a efeitos adversos involuntários relacionados ao ato médico. Nesse período houve um aumento de 59% no mundo, enquanto o crescimento populacional foi de 45 %.

O tema nos interessa quando assistimos a política atual de expansão das faculdades de medicina pelo Brasil, enquanto somente 27% dos médicos brasileiros têm residência médica. Vale lembrar que em vários países não é possível exercer a medicina sem esse passo na formação. Entre alguns, estão Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha.

Será, assim, provável, que haja um crescimento dos erros, da iatrogenia e dos custos.

A formação médica é complexa, e exige habilidades técnicas e humanísticas.

Por outro lado, alega-se que parte do problema da saúde brasileira relaciona-se a um déficit de médicos. Cabe lembrar que essas estimativas baseiam-se em realidades anteriores, quando o perfil epidemiológico era diferente. As estimativas atuais, segundo a OMS, devem ser baseadas na média da idade e densidade populacional, qualidade da formação e infraestrutura adequada para os profissionais. Nesses quesitos, existem enormes diferenças entre as regiões brasileiras, e entre o Brasil e países da Europa e Estados Unidos.

É tempo de mudar as estratégias na área de saúde. Cito artigo publicado em 2022 no Jornal of American College, onde ressalta-se que a maior parte dos problemas de saúde tem relação direta com a qualidade das moradias e da vizinhança, da educação, do sistema de saúde e renda média familiar.

Precisamos rever os modelos do sistema e dos contratos de trabalho, pois grande parte dos profissionais de saúde têm vínculos precarizados. Além de dar eficiência ao gasto público. Segundo André Medici, no Brasil houve 37,8 bilhões de gastos inadequados na saúde brasileira em 2017.

Enfim, a sociedade precisa de uma cidade mais justa e melhor planejada, e de uma política mais transparente, altruísta e eficiente.

Urge romper com conceitos que já não se harmonizam com a necessidade contemporânea.

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/09/2024. Opinião. p.19.


domingo, 6 de outubro de 2024

UM CASAL APAIXONADO

Um dia, um casal de jovens amantes estavam falando no telefone à meia-noite, um declarando seu amor ao outro.

Ele: ''Porque por você eu sou capaz de qualquer coisa. Eu atravessaria o oceano nadando! Eu escalaria a montanha mais alta do mundo para encontrá-la e gritaria aos quatro ventos o meu amor por você''.

Ela: ''Ohh, meu amor! Você é muito doce... Estou muito feliz de tê-lo encontrado na minha vida! O que mais você seria capaz de fazer por mim?''

Ele: ''Eu seria capaz de enfrentar qualquer obstáculo que pudesse nos separar... Te lembraria todas as manhãs o quanto você é linda e como tenho sorte de ser seu namorado. Eu também seria capaz de protegê-la de todos os perigos que possam prejudicá-la. Eu te levaria à Lua se fosse possível!''

Ela: ''Amor! Eu te amo tanto... Quero muito te ver! Você poderia vir à minha casa hoje?''

Ele: ''Hum... Está chovendo, melhor amanhã...''

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


A AMEAÇA

Logo pela manhã, dois caipiras se cruzam na pracinha e iniciam uma prosa:

— Bom dia, cumpadre.

— Dia, cumpradre! Tudo em riba?

— Mai o mêno, cumpadre.

— Uai, cumpadre. Aconteceu arguma coisa?

— Sempre, cumpadre, sempre!

 — Mas, hómi... As vacas pararam de dar leite?

— Nada, cumpadre. Tudo estufada de tanto leite.

— As galinha pararam de botar?

— Nem! Tudo botando ovo pra mais de metro!

— Então é praga nas plantação? — Que isso, as plantação rendendo!

— O que é então, cumpadre?

— A muié, cumpadre! Taí um bicho que não consigo entender!

— A comadre anda te aprontando?

— Briga por qualquer coisa! Sempre que nóis briga ela ameaça de ir pra casa da mãe dela!

— Sério, cumpadre?? Mas o senhor é um homem de sorte!

— Uai, sorte? Mas por quê, cumpadre?

— Porque lá em casa, toda vez que a gente briga... a minha muié ameaça trazer a mãe dela pra nossa casa!!

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.


sábado, 5 de outubro de 2024

UM NOVO ROTEIRO PARA O CINE NAZARÉ: imóvel está à venda, mas ainda não é um Fim!

Por Cláudio Ribeiro (*)

Acervo do último cinema de bairro de Fortaleza é assumido oficialmente pela cultura estadual. Seu Vavá, criador da sala de projeções no Parque Araxá e "fazedor" de outros cinemas em várias cidades, faleceu em 2022. Seu sonho era ainda poder reativar o Cine Nazaré

Imaginar aqui, livremente, o roteiro da despedida, do último cinema de bairro de Fortaleza. O percurso feito por esta coluna aos pequenos recortes da rotina da cidade celebra o último ato, apenas físico, do Cine Nazaré, a sala de exibições de filmes do bairro Parque Araxá. Que existiu por mais de quatro décadas, num sonho corajoso, obstinado, e também poético, construído por seu Vavá (Raimundo Carneiro de Araújo, que faleceu em 2022 aos 91 anos de idade

O imóvel, de 295,68 m², na rua Padre Graça, nº 65, recebeu a placa de venda. Após a morte de seu Vavá, as filhas decidiram oferecer o prédio a quem interessar possa. Fica a menos de meio quarteirão da avenida Bezerra de Menezes. Segundo a corretora, há algumas avarias, que são recuperáveis. Mas o desfecho dessa história também tem um vento de reconhecimento ao que representou o Cine Nazaré. Não será uma cena final. Já há uma sequência garantida desse “filme” em andamento, em outro espaço.

CENA 1

> Som de fundo com uma trilha antiga, ideia de nostalgia. Câmera percorre a fachada lentamente. Mostra a placa da rua Padre Graça, no Parque Araxá. Aplica-se um efeito para caracterizar a cena como envelhecida. Via de pouco movimento, pessoas passando na calçada em frente. Uma mulher usa uma sombrinha para o sol forte, outras duas carregam compras. Um vizinho observa qualquer coisa e espera fofoca. O vira-lata se coça na sombra do poste. Calmaria inabalável.

> Duas palmeiras jovens demarcam a entrada principal do imóvel de número 65, que é o personagem principal. Cine Nazaré. (Em outra época, ali lotava. Três sessões por tarde/noite, gente interessada em assistir a clássicas produções do cinema italiano, francês, brasileiro. Exibições feitas em projetores de 8, 16 ou 35 mm. Era início dos anos 1970. E foi assim por mais de quatro décadas.)

CENA 2

> Cena volta para os dias atuais, sai o efeito de imagem envelhecida. Câmera direciona para uma portinha no lado direito do prédio (simetricamente, havia outra porta do lado esquerdo, foi fechada com tijolos). A placa diz: “Conserta-se calçados. Seu sapato velho ficará novo”. Mostrar seu Bené (Raimundo Benedito Rodrigues), de 91 anos. Ele é o inquilino do ponto desde 2009. Hoje sapateiro para aumentar o ganho do mês, já foi chefe de refrigeração, porteiro e zelador de cinemas tradicionais da cidade, como o São Luiz, Diogo, Fortaleza e Jangada. Trabalhou 29 anos no Grupo Luiz Severiano Ribeiro.

> Câmera mostra Bené encostado de pé em sua porta ou no balcão, à espera de algum cliente. O chapéu lhe esfriando o rosto daquele sol de meio-dia. Ao lado dele, uma máquina grande de fazer pipoca, original de sala de cinema (comprou para revender, pede R$ 600). A câmera parte dele e segue para uma tomada lateral de toda a fachada. Bené sabe que só ficará por ali por mais algum tempo.

CENA 3

> Novo enquadramento, frontal, mais aberto. Mostrar “a cara” do prédio. O branco da fachada está sujo, pedindo repintura. Fecha para mostrar o letreiro desgastado. Tomada fechada no nome do lugar, “Cine Nazaré”. Letras graúdas, a tonalidade quase apagada, precisando ser renovada de cores. Havia uma luminária, foi arrancada. O portão principal de acesso, de chapa de ferro, é um amarelo ouro, está pichado, tem pontos de ferrugem. Mostrar a tranca, um cadeado pequeno, frágil. O interior do prédio está vazio no andar de baixo. (No andar de cima, há quatro quitinetes, ainda ocupadas com moradores. Tanto eles como seu Bené deverão ser despejados, logo surja um novo proprietário).

CENA 4

> A tomada em movimento lento direciona para as duas placas fixadas em dois basculantes no alto da fachada. Nelas, o mesmo número de telefone (98826-6013) e o anúncio a quem interessar possa: “Vendo”. Segue a trilha sonora saudosista. A imagem enquadra o prédio e se distancia lentamente - volta o efeito envelhecido da cena. Destaca o tom de despedida. A tela vai escurecendo e… reabre, numa trilha e imagem mais atual, límpida, mostrando detalhes da nova Sala de Cinema Seu Vavá, num espaço inaugurado em 2024 dentro do Cineteatro São Luiz, no Centro de Fortaleza.

CENA 5 - FINAL

A nova tomada da câmera percorre o ambiente da Sala Seu Vavá. Ideia é mostrar tudo o que já esteve em funcionamento no antigo Cine Nazaré. Cena inicial mostra um projetor de 35 mm antigo, em funcionamento. Num contraluz, o rolo de filme gira exibindo cenas de clássicos italianos, franceses e brasileiros ainda dos anos 40. Também projetores de 8 mm e 16 mm. O público senta em poltronas vermelhas, 45 assentos de estofamento confortável (são originais do primeiro São Luiz, inaugurado em 1958, que haviam sido recuperadas e reaproveitadas por seu Vavá). A sala tem a magia de um passado recente. Ali o Cine Nazaré está reavivado. E a cena continua até aparecer o letreiro clássico surgir diferente: “(Não é um) Fim!”.

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A aura poética do lugar, e também o mobiliário, o maquinário e outros objetos do acervo de Seu Vavá já estão com a restauração e preservação garantidas, assumidas pelo poder público. Nesta sexta-feira, o Instituto Dragão do Mar (IDM), que atua ligado à Secretaria Estadual da Cultura (Secult), recebeu oficialmente todo o conjunto de equipamentos e filmes e pertences do trabalho de seu Vavá. A organização social gestora dos cines São Luiz e Dragão do Mar já estava de posse do material desde janeiro. Foi assinado um termo de comodato entre a presidente do IDM, Rachel Gadelha, e a filha mais nova de seu Vavá, Iris Machado, representante desse espólio. O contrato é válido por dez anos, renováveis por mais uma década. Sem ônus, com a obrigação dos gestores culturais zelarem os itens. Para exibições e exposições, sem finalidade lucrativa.

Conforme o termo assinado, a lista doada tem os seguintes itens: “um projetor manual de 35 mm; um projetor analógico de 8 mm; um projetor analógico de 16 mm; um projetor analógico de 35 mm; Lentes de Projeção Cinematográfica; 78 letras em acrílico, em tamanho pequeno e médio, para uso em letreiro de cinema; uma cadeira de madeira, remanescente das cadeiras do Cine Nazaré; 45 poltronas de cinema acolchoadas, de madeira envernizada e estofado na cor vermelha; 150 estojos contendo rolos de filmes de 8 mm, 16 mm e 35 mm, cujas condições de uso serão verificadas posteriormente; duas cornetas (alto-falantes); um voltímetro; 15 fitas VHS; oito livros de teor técnico; uma cartela de ingressos de cinema”.

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Seu Vavá tinha nove para dez anos de idade. Passava ao lado do Cineteatro São José, próximo ao Seminário da Prainha, quando viu, pela fresta da janela uma tela de cinema pela primeira vez. Era um faroeste, as imagens de cavalos atravessando a parede. Foi encantamento à primeira vista. Rapazote, nos seus 16 anos, virou um faz-tudo, de porteiro a gerente, do Cine Familiar, sala mantida pelos padres capuchinhos que funcionou por alguns anos na praça do Otávio Bonfim. Depois de muito trabalhar para outros, e quando os frades precisaram demiti-lo porque o Cine Familiar acabou, recebeu os direitos trabalhistas teve o estalo de abrir seu próprio negócio. Comprou o imóvel e montou o Cine Nazaré, em 1970.

Especializou-se como um autodidata, tinha as técnicas e macetes e virou um “fazedor de cinemas”. Porque era contratado para montar salas de projeções pelos cafundós afora. Percorreu várias cidades do Interior cearense, Nordeste e Norte do País. Chegou a ser chamado até para abrir um cinema no garimpo de Serra Pelada, na década de 1980. Os filmes de lá eram os pornôs e chanchadas - mas isso não era ele que definia. Tantas viagens, vivia longe de casa por isso. Ele fora vários meses ou semanas do ano, e dona Maria, sua mulher, cuidava das três filhas e chegou a administrar borracharia, marmitaria e escola de datilografia. “Minha mãe foi uma heroína”, conta Iris. Ela morreu em março de 2017.

(*) Jornalista de O Povo

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/10/24. Cidades. p.16.


 

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