quinta-feira, 31 de março de 2022

REFLEXO CONDICIONADO - A invasão do capitólio

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

O Capitólio é o local de reunião do Congresso estadunidense e sua invasão por vândalos continua nas manchetes internacionais. Advirto, tal episódio nada tem a ver com as obsoletas ideologias da direita ou da esquerda. O buraco é quilômetros mais embaixo e não serve como modelo para o Brasil.

Pondero que a situação criada pela saída de Donald Trump e a invasão do Congresso norte-americano não é motivo para tanto estardalhaço nem prognósticos sombrios – para nós brasileiros. Devemos em primeiro lugar analisar o psicossocial do país, do povo como Nação e esquecermos o nosso individual. É bom lembrar que o verbete psicossocial significa atividade e estudo relacionados com os aspectos psicológicos, em conjunto com os aspectos sociais da nação, considerados distintos dos aspectos políticos (condução e administração da coisa pública), dos aspectos econômicos (aumento e distribuição da riqueza nacional) e dos aspectos militares (salvaguarda dos interesses, da riqueza e dos valores culturais da nação).

O verbete, em suma, envolve simultaneamente apenas aspectos psíquicos e sociais. Mas, o que tem a invasão do Capitólio a ver com a Medicina?

Vamos entrar no assunto com calma e sem uma possível distorção profissional pois sou um simples esculápio de província. No final do século XIX e início do século XX, o fisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936), ao estudar a fisiologia do sistema gastrointestinal, fez uma das grandes descobertas científicas da História: o Reflexo Condicionado. Foi uma das primeiras abordagens realmente objetivas e científicas ao estudo da aprendizagem, principalmente porque forneceu um modelo que pode ser verificado e explorado de inúmeras maneiras, usando a metodologia da fisiologia.

Pavlov inaugurava, assim, a psicologia científica, acoplando-a à neurofisiologia. Por seus trabalhos, recebeu o prêmio Nobel concedido na área de Medicina e Fisiologia em 1904. A experiência clássica de Pavlov é aquela do cão, a campainha, a salivação e a visão de um pedaço de carne. Sempre que apresentamos um pedaço de carne a um cão, a visão da carne e sua olfação provocam salivação no animal. Se tocarmos uma campainha, qual o efeito sobre o animal? Uma reação de orientação. Ele simplesmente vira a cabeça para ver de onde vem aquele estímulo sonoro. Se tocarmos a campainha e em seguida mostrarmos a carne, dando-a ao cão, e fizermos isso repetidamente, após certo número de vezes o simples tocar da campainha provoca salivação no animal, preparando o seu aparelho digestivo para receber a carne. A campainha torna-se um sinal da carne que virá depois. Todo o organismo do animal reage como se a carne já estivesse presente, com salivação, secreção digestiva, motricidade digestiva, etc. Um estímulo que nada tem a ver com a alimentação, meramente sonoro, passa a ser capaz de provocar modificações digestivas. Conferir detalhes no site: https://cerebromente.org.br/n09/mente/pavlov.htm.

Se até as pessoas são múltiplas, não adianta estereotipar, ou seja, repetir grosseiramente o que outros países fazem. Por isso não gosto quando alguém me põe um letreiro (República de Banana), quanto mais em se tratando de uma Nação. Ou será que estamos aceitando que nós brasileiros fomos condicionados como os cães de Pavlov ou que permanecemos neste século XXI com um complexo de vira-latas?

Essa expressão do dramaturgo e escritor brasileiro Nélson Rodrigues originalmente se referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã.

Somos sim o país do futebol, mas jamais uma república bananeira ou um Estado xerox.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

quarta-feira, 30 de março de 2022

O QUE ESPERAR PARA 2022?

Por Leonardo Alcântara (*)

Associação primordial quando o assunto é o bem-estar e a proteção da categoria médica, o Sindicato dos Médicos do Ceará busca diariamente manter e fortalecer o vínculo entre os profissionais da saúde e os entes públicos e privados, mediando o constante debate sobre as políticas de saúde. Em 2021, tivemos diversas ações e conquistas que endossaram o compromisso do Sindicato para com os médicos e buscamos solucionar os mais variados problemas da categoria.

Dentre as ações, podemos citar: a projeção da palavra "Silêncio", em um prédio da cidade, pois os médicos estavam com atraso salarial de 3 meses. Com isso, tivemos retorno e o pagamento dos profissionais; além desta, o ano de 2021 foi marcado por todo o trabalho desenvolvido pela aprovação do PCCS: reuniões, manifestações e diálogo com a Secretaria de Planejamento e Assembleia Legislativa. Com relação ao enfrentamento da pandemia, tivemos ações realizadas por nosso Departamento Jurídico junto ao Ministério Público, Ministério do Trabalho e Ministério da Saúde, tais como as solicitações de vacinação para os médicos e também a antecipação de colação de grau dos estudantes de medicina.

Entre os nossos produtos, tivemos o lançamento do novo Clube de Vantagens, o podcast Laudo Med, a websérie CADE e a campanha de responsabilidade social. Entretanto, para 2022, a entidade espera ir além do que se vê. Com o propósito de ser um catalisador no que diz respeito ao papel social e sindical dos médicos, o Sindicato cria, em seu escopo, uma expectativa de aproximar cada vez mais o sindicalizado, por meio de processos modernos e solucionadores.

Pautado pela transparência e isenção de posturas ideológicas, o Sindicato tem o propósito de trabalhar em prol da categoria e pelo bem comum de modo geral, atuando para defender os interesses econômicos, profissionais e sociais dos seus associados.

Como afirmei em minha solenidade de posse, nós somos uma entidade que sempre receberá bem os médicos e fará de maneira incansável a defesa dos seus interesses, garantindo a valorização da atividade médica e a melhoria contínua da saúde.

(*) Presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/02/2022. Opinião. p.18.

terça-feira, 29 de março de 2022

A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA

Por Eduardo Jucá (*)

Quando me dirijo ao Hospital Infantil Albert Sabin, geralmente acabo escolhendo um caminho mais longo, que passa pela Rua Graciliano Ramos. É que ali, no número 210, morava minha avó. No lugar das grades há hoje um muro alto, mas através dele ainda posso ver uma palmeira na varanda, uma cachorra amistosa e o movimento de tios e primos em datas festivas.

A memória de longo prazo é assim. Guarda em áreas especiais do cérebro acontecimentos e cenários ancestrais, que compõem uma trajetória. Podemos esquecer fatos recentes e dados que tentamos manter em mente. Ao mesmo tempo, um passado distante persiste armazenado, pronto para aflorar diante dos gatilhos certos.

Essa memória pode até sofrer adaptações no tempo e não corresponder exatamente à realidade vivida. No emaranhado das sinapses, é comum que duas pessoas discordem sobre circunstâncias do mesmo fato antigo presenciado. Como disse Garcia Marquez, a história de uma pessoa é representada muito mais por suas lembranças do que por aquilo que realmente viveu.

De fato, a memória permanente e a de curto prazo estão ligadas a locais diferentes do cérebro. A de curto prazo, com dados descartados após o uso imediato, está ligada ao hipocampo, uma das áreas mais primitivas do córtex cerebral. Essa área é a primeira atingida na doença de Alzheimer, e por isso os pacientes em fase inicial esquecem informações do cotidiano, mas mantêm lembranças da juventude.

O cérebro tem critérios para definir quais lembranças ficarão para sempre. Momentos que provocam emoções fortes, por exemplo. O organismo interpreta que se um momento ou um cenário foi emocionalmente impactante, ele foi importante. E se foi importante, fica guardado na memória.

Diante disso, é preciso compreender que, a cada momento, nas relações pessoais ou no mundo do trabalho, estamos contribuindo para construir as memórias, nossas e das pessoas ao redor. Deixar uma marca que permaneça como algo agradável a longo prazo é também contribuir para que a história de cada um seja repleta de afetos positivos. Algo bom como passar em frente à antiga casa dos avós. 

(*) Médico neurocirurgião pediátrico, professor, pesquisador e palestrante.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/02/2022. Opinião. p.18.

segunda-feira, 28 de março de 2022

PADRE EUGÊNIO PACELLI: serenidade jesuíta, do pastoreio à gestão

 

Entrevista: Daniela Nogueira Fotógrafo: Aurélio Alves

Há um ano na direção do Mosteiro dos Jesuítas, em Baturité, pároco planeja o centenário da casa, antiga Escola Apostólica. Ao O POVO, ele cita, de forma recorrente, o também jesuíta papa Francisco, quando reverbera as ações da "Igreja em saída" e admite que os padres precisam sair mais das sacristias e se aproximar do povo

Foi no dia 19 de março, no ano passado, que padre Eugênio Pacelli recebeu o convite para a missão que hoje desempenha – diretor do Mosteiro dos Jesuítas, em Baturité. O sacerdote passa a coordenar a imponente casa de pedra, de retiros e de acolhida que chega aos 100 anos neste 2022.

O menino Eugênio saiu da pequena Ibiapina, sua cidade natal na Serra da Ibiapaba, para estudar na Capital, no Colégio Santo Inácio, onde anos depois se tornaria diretor. Após sete anos entre a direção geral e a direção pastoral da escola, o sacerdote se dedica ao Mosteiro e ao Polo Universitário Santo Inácio. Admite que sempre ocupou funções de gestão, mas se realiza mesmo é no pastoreio, na condução do outro ao encontro com Deus e consigo.

Talvez por isso cultive com tanta alegria a celebração da Noite da Misericórdia, que chegava a arrebanhar 5 mil pessoas na quadra do colégio, às segundas-feiras, antes da pandemia. Recusa-se a dizer que seu nome atrai a multidão. As pessoas vão porque têm fome de Deus, afirma. Na manhã em que recebeu O POVO no Colégio Santo Inácio, padre Eugênio reitera seu carisma jesuíta quando diz da acolhida e do serviço ao próximo, indissociáveis para a prática da fé. Fala em pandemia, vacina e política, indispensáveis para o respeito à ciência.

Padre Eugênio, pioneiro em Fortaleza no abraço a casais em segunda união, não tem mais vagas para celebrar batizados e casamentos por todo este ano. Aqui, revela gostos e hábitos. Gosta de dormir até mais tarde nas folgas. Lê de Santo Agostinho a Leandro Karnal. Reconhece-se nos versos livres, doces e rurais de Cora Coralina. E torce pelo Fortaleza.

O POVO – Como o senhor se sentiu ao assumir a direção do Mosteiro?

Padre Eugênio Pacelli  Eu assumi no ano passado, no dia 19 de março. Fui destinado pelos meus superiores para dirigir aquela casa centenária. E sempre gosto de dizer que eu estou onde os meus superiores me enviarem. Na Companhia de Jesus, a gente faz um voto muito especial de obediência, e quem obedece nunca erra. E eu sempre me proponho a obedecer. Foi em plena pandemia que recebi o convite para ir para aquela casa. Depois de um tempo aqui, no Colégio santo Inácio, aceitei essa missão com muito carinho. Um padre e um irmão jesuítas foram comigo para esse grande desafio de preparar a casa para o centenário dela.

O POVO – Quais são as mudanças que o senhor já fez neste um ano no Mosteiro?

Padre Eugênio – Quando eu assumi, a primeira coisa que eu fiz foi conhecer melhor a história do Mosteiro, para saber melhor o terreno onde eu estava pisando. Descobri que aquele terreno é sagrado, tem muitas vidas doadas, muitas vidas entregues, de padres, irmãos e vizinhanças que passaram por ali e deixaram sua marca, seu legado na história. Quando assumi o Mosteiro, eu tinha três pilares para intensificar — o pilar da espiritualidade, uma casa que favorece a experiência com Deus através da espiritualidade inaciana, do contato com a natureza, consigo mesmo e com os outros, para encontrar Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus. O Mosteiro também é cultura. Ali nós temos obras de cultura que já não pertencem mais a ele, pertencem ao povo. E o povo tem direito de conhecer toda a cultura criada e celebrada naquele espaço. A gente está abrindo um museu, em que vamos contar toda a história do Mosteiro. E outro pilar muito importante é o social. Aquele mosteiro por muito tempo se caracterizou por ser um espaço de ação social. Os nossos padres e irmãos que moravam ali sempre se preocupavam porque uma fé sem ação concreta é falha. O Mosteiro tem esse chamado de ser uma casa aberta aos pobres, de modo especial às pessoas que moram ali ao redor — uma casa de acolhimento, de assistência social e de promoção humana e profissional.

O POVO – O Mosteiro está completando 100 anos neste 2022. O que já há programado?

Padre Eugênio – Toda a programação está sendo feita em cima desses três pilares: espiritual, cultural e social. Durante esse tempo vamos favorecer às pessoas que quiserem uma experiência dos exercícios espirituais de Santo Inácio. Vamos saborear essa experiência que Inácio deixou como legado. Vamos oferecer cursos de aprofundamento da espiritualidade inaciana, uma imersão no conceito fundamental do encontro com Deus e consigo mesmo. Na parte cultural, teremos exposições contando a história do Mosteiro, mostrando objetos artísticos e culturais que fazem parte do Mosteiro. E na dimensão social, faremos ações sociais de promoção humana para a população, como cursos profissionalizantes e cooperativas. Nossa finalidade é ajudar aquela população, não só dar alimento, mas favorecer o desenvolvimento profissional. Uma fé, para ser verdadeira, cristã, movimenta o coração, mas movimenta os pés e as mãos no acolhimento.

O POVO – Agora como fica sua relação com o Colégio Santo Inácio e com o Polo Universitário?

Padre Eugênio – Depois de 10 anos na Paróquia do Cristo Rei, eu fui destinado ao Santo Inácio, que estava numa situação muito complicada. Vim com a missão de fazer um distrato com a Marquise, tinha um distrato para ser feito em que o colégio teria que andar com os pés e mostrar sua identidade própria. Cumpri essa missão e estou com a consciência tranquila de que deixei o colégio um pouco melhor do que recebi. Passei quatro anos como diretor geral e uns três anos como diretor de pastoral. Quando terminei minha direção, sugeri à congregação que colocasse uma leiga aqui. A professora Albanisa Gomes foi essa leiga escolhida, a primeira mulher a dirigir o Colégio Santo Inácio. Vou ficar aqui somente nas celebrações aos domingos e na Noite da Misericórdia. Meu foco agora é o Mosteiro dos Jesuítas e intensificar o Polo Santo Inácio, que terá uma sede própria, ao lado do colégio, para mostrar essa educação universitária católica aqui em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco e com a Universidade Católica de Quixadá.

O POVO – O senhor continua presidindo as missas no domingo à noite e às segundas-feiras. O que atrai tanta gente?

Padre Eugênio – O desejo de Deus, a fome de Deus, o desejo de encontrar um espaço em que as pessoas se encontrem consigo em silêncio para se encontrarem com Deus.

O POVO – O senhor admite que o nome do padre Eugênio atrai muita gente também?

Padre Eugênio – Eu não gostaria de centralizar no meu nome. Eu sou apenas um instrumento que favorece o despertar de Deus no coração das pessoas, porque o centro de tudo isso é Ele. Eu sou apenas aquele que indica o caminho. Mas a verdade, a vida, o alimento é sempre Ele. A gente aqui faz o acolhimento das pessoas no sentido de favorecer, no momento existencial em que elas estão, que elas sintam a força de Deus nelas. Há uma poetisa chilena que diz que, nos nossos momentos de dificuldade, há o despertar de uma energia tão grande que nos favorece vencer todas as nossas dificuldades. É isso. Dentro de cada um de nós existe essa força de Deus. Às vezes está obscurecida por tantas preocupações e inquietações. Quando a gente leva as pessoas a descobrirem isso, elas descobrem que “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”.

O POVO – O senhor ouve muitas histórias e problemas dos outros. Como o senhor se cuida espiritualmente para lidar com tantas questões?

Padre Eugênio – Eu tenho também meus momentos de fragilidades, de angústia. Eu tive momentos de depressão. Nesses encontros, eu sempre descubro a força da oração, a força de ter pessoas ao seu lado que animam em você a esperança e fazem olhar para além. Diante dessa realidade que é esta pandemia, eu também sofri muito com aqueles que estavam sofrendo, rezei com aqueles que estavam rezando e, nesse tempo, eu sempre tomei consciência de uma coisa — como a fé é importante. A fé é uma luz que Deus acende em nossos corações para iluminar as nossas escuridões.

O POVO – O padre precisa estar fortalecido. O senhor reconhece sua fragilidade no meio disso tudo.

Padre Eugênio – O pessoal pensa que o padre é um extraterrestre. E não tem emoção, não tem sentimentos. Eu sou igual a vocês em tudo, até no pecado. O padre precisa desses cuidados, com a saúde, com a mente, com o coração, com a capacidade de sonhar, de despertar.

O POVO – Como a pandemia tem mexido com o senhor?

Essa pandemia nos deixou órfãos de pessoas que nós amamos, de empregos, de sonhos, de esperança. Foi um tempo em que entrei na consciência da minha missão como padre. Eu não poderia ficar sozinho naquele quarto sem levar um pouco de esperança, de sonhos e de Deus para as pessoas.

O POVO – O senhor continuou com as celebrações, mesmo virtuais.

Padre Eugênio – Nós não paramos. Todos os domingos nós transmitíamos, pelo Instagram, as celebrações. Tive oportunidade de escrever um livro em que eu retratei os momentos mais fortes e mais cruéis dessa realidade que nós passamos. Como o papa Francisco sempre pede: uma Igreja a caminho, em saída. Nós fechamos as igrejas-pedras e abrimos tantas igrejas-famílias. Muita gente descobriu o ser igreja, ser família dentro desse contexto de pandemia.

O POVO – A pandemia aproximou as pessoas de Deus ou aumentou a descrença no espiritual? Passou-se a se questionar a existência de Deus ou houve um fortalecimento da fé?

Padre Eugênio – A pandemia aprofundou a nossa fé. Eu não acredito num Deus que manda sofrimento, que manda pandemia. Deus é amor. E quando a gente ama, a gente nunca quer o mal e nunca favorece o mal para as pessoas. Mas Deus tira dessa realidade, que não depende de nós e não depende dele, situações de crescimento para a gente. Pessoas se revoltaram contra Deus, outras descobriram que sem Deus é difícil vencer e ficar de pé nesse contexto. Nós percebemos isso aqui na Noite da Misericórdia. Houve um aumento significante de pessoas que não tinham vivência religiosa, mas sentiram necessidade de despertar nelas a força de Deus. A pandemia mostrou a fragilidade que todos temos e como a vida é breve e tem que ser vivida com intensidade e leveza.

O POVO – O senhor se vacinou contra a Covid até a terceira dose?

Padre Eugênio – Sim e acredito na vacina. Acredito que, se tivéssemos sido vacinados antes, teríamos enfrentado uma realidade não tão frustrante como nós enfrentamos até agora.

O POVO – O senhor concorda que houve uma politização da vacina e dos cuidados sanitários até por influência religiosa?

Padre Eugênio – Concordo, concordo.

O POVO – E qual é o seu posicionamento sobre isso?

Padre Eugênio – Meu posicionamento é que nós temos que escutar a ciência. A ciência é um dom de Deus, é uma iluminação de Deus. Negar a ciência é negar esse dom precioso que Deus dá ao homem da capacidade de cuidar, de preservar e de dar vida à vida de tantas pessoas.

O POVO – O senhor tem sido procurado por políticos nestes tempos? Como o senhor se coloca?

Padre Eugênio – Eu sou procurado, mas eu tenho muito claro o meu papel de padre. Dom Luciano Mendes (religioso jesuíta, 1930–2006) dizia que a Igreja não defende partidos, a Igreja defende valores. Nós temos que defender valores de pessoas que se colocam no cargo não para se beneficiar, mas se colocam a serviço de uma comunidade. Isso é ser político. Há muitos políticos que não procuram o bem comum, procuram o bem próprio. A nossa missão como Igreja é conscientizar as pessoas para que escolham bem, porque voto não tem preço. Voto tem consequências. Santo Inácio diz que, se a gente tem discernimento, vai sempre escolher o bem. Somos o que nós decidimos. A Igreja tem que ajudar as pessoas a terem discernimento — não só com relação à vida profissional e pessoal, mas também às suas escolhas políticas.

O POVO – A agenda de 2022 do padre Eugenio está fechada para batizados e casamentos. O que atrai as pessoas para ter o senhor como celebrante?

Padre Eugênio – Quando eu cheguei a Fortaleza, 13 anos atrás, eu tive muito contato com jovens casais. E senti um certo desejo de trabalhar com eles. Há sete anos fundamos o Movimento Amare, que acompanha jovens com até sete anos de casados. Como era convidado para assistir muitos casamentos, as pessoas pediam para acompanhar os votos. Escolhi um casal muito querido e começou a criar esse movimento. Hoje temos 980 casais. Nesse tempo de pandemia, esse Movimento fez tão bem a eles, pois foi um desafio muito grande para os casados. Eles nunca tiveram tanto tempo para estar um lado do outro, com suas alegrias e tristezas, com suas luzes e sombras. E é no contato que a gente se revela — luzes e sombras. Tivemos que dar um apoio espiritual muito grande, fizemos retiros e reuniões virtuais para que eles estivessem de pé. Deus é tão generoso que hoje temos mais gente querendo entrar do que os que já estão. Uma fila enorme. Mais de 2 mil casais querem entrar.

O POVO – Como o senhor dá conta?

Padre Eugênio – Eu trabalho em equipe. A gente delega. A riqueza da Igreja é essa. Todo padre que abre espaço à participação dos leigos na missão triplica sua atividade apostólica. O problema é que certos padres se acham donos da Igreja. O dono da Igreja é Deus. Somos apenas colaboradores da missão de Deus. Quando se abre espaço para participação dos leigos que querem ajudar, a Igreja acolhe com mais dignidade. Esse Movimento é feito por casais e para casais. São mais de 300 casais envolvidos nesse acompanhamento. Nosso lema é “Amar e servir”. Sempre digo: não adianta vocês se abastecerem de Deus e ficarem empanzinados de Deus. A gente se abastece de Deus para ser instrumento dele para os outros. Uma fé que não leva ao serviço não se fortalece e desanima com facilidade.

O POVO – Quais são os critérios para ingressar no Amare? É um grupo para casais ricos?

Padre Eugênio – Coitado do Amare tem essa fama... O Amare recebe todo mundo, temos casais de todas as faixas sociais, acolhidos com a mesma dignidade. Você preenche a ficha na internet. Quando vai abrir um grupo, convida esses casais para uma reunião e apresenta o Movimento. Nada é imposto, tudo é proposto.

O POVO – E qual é a dimensão social do Amare?

Padre Eugênio – Cada grupo do Amare tem, todo mês, que desenvolver uma atividade social. Seja no acompanhamento de uma creche, asilo, de uma ação social que a gente faz uma vez por semestre... Levamos alimentos, cestas básicas, atendimentos médico, odontológico e jurídico em Canindé, em Ibiapina e agora em Baturité. Atendemos mais de 700 famílias do bairro mais pobre de Baturité. Fomos fazer no bairro, mas os traficantes não permitiram. Então, levamos para o Mosteiro. Foi um dia muito especial. Visitei alguns moradores e soube que o pessoal que morava lá nunca tinha ido para o Mosteiro. Conseguimos transporte e, em um dia, o Mosteiro se abriu só para receber essas famílias. Se você visse a alegria desses jovens casais se colocando a serviço... Fizemos um dia que ficará na história do Mosteiro. É isso que eu queria: que o Mosteiro fosse essa casa aberta à dignidade de modo especial daquelas pessoas que mais precisam, que estão pertinho da gente.

O POVO – Como é o seu trabalho com casais em segunda união?

Padre Eugênio – Eu vou lhe confessar uma coisa. Nós fomos a primeira paróquia, quando eu fui pároco do Cristo Rei, a abrir um grupo para casais em segunda união. Naquela época não era fácil, os desafios maiores eram com as outras pastorais. A rejeição acontecia dentro da própria Igreja, pelos grupos que estavam lá. Hoje nós temos grupo de casais no Cristo Rei e também trouxemos essa experiência para cá (Santo Inácio). São mais de 80 casais participando. Esse pessoal se sente muito marginalizado. O papa Francisco dá acolhimento a esses casais, são igreja, têm direito de estar na igreja. A igreja não pode fechar porta. O coração de Deus nunca fecha porta para ninguém, é sempre escancarado. Pai que ama nunca fecha porta para filho nenhum. O filho mais frágil é o que precisa de mais amor e mais proximidade.

O POVO – Esses movimentos são uma forma de manter os fiéis na Igreja Católica e de atrair mais fiéis?

Padre Eugênio – Eu acredito no diálogo inter-religioso. Eu não acredito numa religião que é muro, mas que é ponte. Se essas pessoas passaram para outro espaço, é porque muitas vezes não receberam acolhimento na própria igreja. É a gente que tem que se questionar: por que as pessoas foram tão mal acolhidas? As pessoas procuram na Igreja acolhimento, compaixão, misericórdia. E, às vezes, nossas igrejas não são compassivas nem misericordiosas nem casas de acolhimento.

O POVO – Como o senhor avalia as atividades dos padres hoje em dia?

Padre Eugênio – O papa Francisco está lutando pedindo que os padres se desburocratizem. O serviço sacerdotal se tornou uma burocracia, em que a gente está mais no administrativo do que no pastoral. O padre não tem mais tempo de receber. Antigamente os confessionários eram lotados de padres. Os consultórios psicológicos substituíram os confessionários, porque o padre não tem mais tempo. A gente foi se burocratizando e ficando mais no administrativo do que na cura da alma. É o sonho do papa Francisco essa luta contra a igreja clerical, que centraliza tudo na pessoa do papa, do bispo e dos padres, e se impede a colaboração, o viver batismal de todo aquele que é batizado e que é instrumento de Deus para o mundo. Falta essa proximidade com o povo de Deus que vem ao nosso encontro. O pessoal divinizou muito a imagem do padre e, às vezes, o padre é criticado por ser uma pessoa mais próxima. Diviniza demais e, quando um padre manifesta sua humanidade, o pessoal se escandaliza.

O POVO – Quem é o padre Eugênio sem a batina, o Eugênio Pacelli que não o padre?

Padre Eugênio – Padre Eugênio é uma pessoa feliz com a vida que leva, realizado, pleno. É uma pessoa que tem seus momentos de alegria, mas também de inquietação e de dúvidas, uma pessoa que quer estar de bem com a vida e quer botar todas as potencialidades que reconhece nele a serviço dessa missão que o Senhor lhe confiou.

O POVO – Mas essa serenidade é constante?

Padre Eugênio – Não (risos). Quem me vê sorrindo não descobre as dores e os sofrimentos que eu trago.

O POVO – Quando o senhor despertou para o sacerdócio?

Padre Eugênio – Com 12 anos, eu já desejava ser padre. Eu congregava os meninos no Interior, na praça de Ibiapina. Mês de maio sempre me encantava, porque eu sou muito devoto de Nossa Senhora. Aí, juntava os amigos e a gente levava Nossa Senhora toda noite para casa. Eu tinha vigilância nessa imagem porque foi minha tia freira que me deu. Vim estudar nesse colégio (Santo Inácio) com 12 anos de idade, terminei o Ensino Médio aqui. Depois, vim morar no Seminário Menor. Quis prosseguir. Até hoje foi a decisão mais certa que tomei na vida. Sou feliz como padre.

O POVO – O senhor passou por algum questionamento?

Padre Eugênio – Passei por tudo. Uma vida em que não se tem dúvida não amadurece. Eu sempre peço a Deus que eu não tenha certeza de tudo, porque a gente corre perigo de se acomodar. Uma fé de que não se duvida é uma fé que não cresce, não amadurece. Eu nunca tive 100% de certeza de que Deus me convidava para a vida religiosa, mas na certeza da fé eu me joguei. As consolações que Deus me dá e as perseguições que sofro me ajudam ainda mais a ter certeza de que essa vocação é um chamado. Deus me convida todos os dias. A vocação não foi. Ela continua sendo. Todos os dias, assim como o matrimônio, é uma decisão que você toma de renovar. Aquilo que não se renova morre. Renovo o amor a Deus, a vocação e o serviço aos outros.

O POVO – O senhor já administrou a Paróquia Cristo Rei, o Colégio Nóbrega no Recife, o Colégio Santo Inácio...

Padre Eugênio – Mas eu não fui feito para administrar. Eu fui feito para ser pastor. A congregação sempre me confiou cargos de administração, mas digo com toda a sinceridade: eu me realizo como padre na dimensão do contato, na dimensão celebrativa, de ser pastor. Eu não entrei na Companhia de Jesus para ser administrador. Entrei para ser pastor. As funções de administração eu desempenhei bem, com responsabilidade, mas no fundo gostava era do contato com os alunos, com as famílias, na dimensão celebrativa.

O POVO – Perdemos muita gente nesta pandemia. A dimensão da morte mudou nestes dois últimos anos?

Padre Eugênio – Quando a gente começa a expulsar o contexto da morte da vida cotidiana, a gente não valoriza a vida. A gente privatizou muito a morte, tirou a morte do contexto de nossas famílias, como algo que vai nos separar plenamente. As pessoas morriam bem, até sorrindo, em seu leito. Hoje morrem na frieza de uma UTI, solitárias, sem contato com a família. E a gente não pode banalizar a morte. Essa pandemia fez a gente tomar consciência de que a gente é frágil, uma luz acesa que a qualquer momento pode apagar. Viver é morrer aos poucos. Os primeiros cristãos usavam “adormecer”, e não morrer. Adormece para o mundo e acorda em Deus. “Cemitério” é uma palavra latina que significa um grande dormitório. Ibiapina, minha cidade, tem a porta do cemitério mais sábio do mundo: “Hoje sou eu, amanhã serás tu”. Que consolação! (risos) Por que a morte nos amedronta? Porque fomos feitos para viver.

O POVO – O senhor cita muitas pessoas nas suas homilias. Quem são suas referências?

Padre Eugênio – Eu gosto muito de ler Santo Agostinho, Leandro Karnal... O poeta Fernando Pessoa foi o meu melhor psicanalista, um homem que descortina a alma da gente. Cecília Meireles também. Cora Coralina desperta em mim o meu Interior, a minha vivência de cidade pequena. Eu me encontro nos poemas de Cora Coralina de forma esplêndida.

O POVO – O senhor conviveu com Santa Dulce no noviciado em Salvador. Quais lembranças o senhor tem dela?

Padre Eugênio – Irmã Dulce tinha uma vida doada. Quando fiz essa experiência, os hospitais de Salvador, particulares e públicos, estavam em greve. Mandavam todos os enfermos para a porta lá do hospital e ela dizia: “Não volta ninguém”. E mandava colocar colchão para acolher todo mundo. Era uma mulher de corpo frágil, mas de alma forte. Você via Deus agindo naquela mulher. Ela dormia com um balão de oxigênio do lado, porque tinha problema de pulmão. Dormia três horas por noite em uma cadeira. Era de uma disponibilidade, de uma sabedoria, de amor... Tímida, ela não olhava para você, fruto da formação que ela teve. Era uma santa alegre. Tocava acordeom. Irmã Dulce quebrou paradigmas na igreja, na própria congregação. O santo é um ousado. Na sua fragilidade, se joga sem medo no coração do pai.

O POVO – Qual é o lema da sua ordenação?

Padre Eugênio – “Eu te conheço, eu te amo e eu te envio.” É o amor de Deus incondicional que me mantém de pé. Eu tenho dever de falar de Deus misericordioso, porque eu o experimento na minha vida. Que Deus me anime sempre e não me deixe jamais abrir espaço para o desânimo, que me faça ousar e acreditar para ver o milagre acontecer. Deus é muito bom. Deus é dez! (risos)

Fonte: O Povo, de 21/03/2022. Opinião. p.4 e 5.


domingo, 27 de março de 2022

A ESPOSA DE FÉ

Um homem, já de malas prontas, diz à esposa que tem uma viagem de 3 dias para uma reunião de negócios, coincidentemente nos dias de carnaval.

Ao receber a notícia, a esposa diz:

Meu amor, deixe a mala e vamos fazer uma oração juntos antes da viagem.

- Claro meu amor - responde ele.

Então a esposa começa:

-  Senhor, peço-lhe para conceder uma viagem em segurança para o meu marido;

- Amém - ele consente.

- Proteja-o de toda ansiedade e tentação;

- Amém - mais uma vez ele concorda.

- Deixe-o impotente caso alguma mulher o queira.

- (Apenas silêncio)

- Se ele pretende me enganar, que a amante morra;

- (silêncio absoluto)

- Se ele cometer adultério, não o deixe voltar, pode matá-lo lá mesmo...

Desconfortável, o marido interrompe:

- Amor, pode parar! O Espírito Santo acabou de me avisar que a reunião foi cancelada ... Eu vou ficar em casa...

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

A MULHER QUE NÃO SABIA FRITAR UM OVO

 Uma mulher está fritando ovos na cozinha quando o marido chega correndo...

Imediatamente, ele vê os ovos e grita, com uma expressão de horror: "Tenha cuidado! CUIDADO! Coloque em um pouco mais de manteiga! Oh, meu Deus!"

A mulher, assustada com a reação do marido, corre para a geladeira para pegar um pouco de manteiga.

"Você está cozinhando muitos de uma vez só. DEMAIS! Vire-os! Vire AGORA!"

A esposa, preocupada com o estado do marido, se esquece da manteiga e volta correndo para o fogão.

"Precisamos de manteiga! Você está louca?! Onde vamos conseguir mais manteiga? Eles vão grudar na frigideira! Depressa!"

A mulher corre para a geladeira novamente.

"Cuidado com os ovos! CUIDADO. Você nunca me escuta quando você está cozinhando! Nunca! Vire-os rapidamente! Não, não tão rápido! Você não sabe cozinhar? Você está louca? Vire o OVOS!"

Nessa hora, a mulher começa a chorar, pois já não tem nenhuma ideia do que fazer.

Engasgada, ela diz: "O que está acontecendo com você? Eu sei fritar ovo..."

O marido simplesmente sorri, diz "Eu só queria lhe mostrar o que sinto quando estou dirigindo o carro com você do lado", e vai embora...

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

sábado, 26 de março de 2022

ORTOGRAFIA ANTIGA

Há três sistemas ortográficos para se escrever os vocábulos do nosso idioma. O sistema fonético que consiste na exata figuração dos sons, escrevendo as palavras como se pronunciam, a exemplo de “esgoto”. O sistema etimológico que representa a escrita das palavras de acordo com a grafia de origem, tal qual “exgotto”. O terceiro sistema ortográfico é o misto, que combina os dois primeiros.

Um saudoso poeta amigo meu, que dominava o étimo das palavras, tratava-as com liberdade, sem perder, contudo, o encanto com o léxico. Gostava de brincar com os vocábulos, deliciava-se com a sonoridade dos fonemas, criava neologismos. Era poeta! Certa vez, contou-me que a filha Ana Luiza, quando criança, perguntara-lhe: “Pai, ‘ambos’ quer dizer dois, não é?!” “Exatamente, minha filha” – respondeu o pai. “Então, três quer dizer ‘trambos’ ” – concluiu a menininha sabida. “Perfeitamente, minha filha!” – e contava essa história se deleitando de felicidade, enquanto caminhávamos na Praça das Flores. A gente logo lhe percebia o bom humor, manifestado pelo seu discretíssimo sorriso.

Pois bem, à guisa de entretenimento, certo dia desafiou-me que produzisse um texto com o emprego de vocábulos escritos consoante o sistema etimológico, que fora abolido com a reforma ortográfica de 1943. Infelizmente, ele não chegou a ler “O esculptor”.

O esculptor

Para o poeta PHS Leão

Haghora vou contar uma história que é mais uma anecdota. Tracta-se de um esculptor de edade avançanda com tosse. Ele garantiu que não sofria de phthisica, que a tosse era da asthma. Andou septe chilometros para chegar à egreja, o logar da obra.

Ele frequentara a eschola da própria egreja até os 10 anos de edade. Tinha dificuldades de aprender os diphthongos. Mas, os monophthongos lhe pareciam fáceis. Gostava das aulas das quintas-feiras porque havia catechismo, onde aprendeu o significado da palavra charidade. Adotou como sancto de devoção o auctor da Suma, Santo Tomás de Aquino. Diz que amadureceu seu character lendo a Suma Teológica e as chartas do sancto.

No adro da egreja ele fez a esculptura do Padre Cícero. Quando chegou no poncto de lhe colocar a bengala na mão, a falta de practica fê-lo romper a chorda que suspendia o pesado cajado. Este tinha o tammanho do pescoço de uma girafa. Tractou de resolver o problema. Coisa egual jamais lhe tinha acontecido. Lamentava consigo mesmo. Mas, considerava-se exempto de culpa.

A bengala ao cair mactou um rato que acabara de sair do exgotto. O idoso com phleugma olhou para o rato sem prancto. Ele tinha schisma com o dicto animal desde menino.

O perseverante auctor de edade avançada inceptou numa schedula um novo projeto para confeccionar a bengala. Comprou uma espathula para preparar o gesso. Tinha consciência que o trabalho lhe estava saindo muito charo.

Antes de reiniciar a confecção da bengala, deu uma mirada nos scirros, e viu uma scentelha. Logo começou a relampejar. Ele se lembrou da recomendação da sciência, e logo procurou se proteger dos raios sob um tecto. Então, entrou na egreja, rezou o psalmo, e deu por concluído o officio.

Fevereiro/2022

Sebastião Diógenes Pinheiro

Da Academia Quixadaense de Letras

Da Academia Cearense de Medicina e da Sobrames/CE


O CHEFE E A LÂMPADA MÁGICA

O diretor de produção, o estagiário de marketing e o presidente de uma empresa estacionaram o carro e estão a caminho de um restaurante por quilo.

Em um canto sujo eles encontram uma lâmpada antiga. Esfregam a lâmpada e de repente aparece um gênio, que lhes diz:

— Olá! Anh? Vocês três me acharam? Eu só posso realizar três desejos, por isso, cada um só pode pedir um!

O diretor de produção diz logo:

— Eu primeiro, eu primeiro! Eu quero estar em uma praia de Cancún, tomando umas bebidas exóticas com as modelos mais lindas do mundo!

Puff! Ele imediatamente é teletransportado pra lá.

— Agora eu, agora eu!, grita o estagiário de marketing. — Eu quero estar em Miami, no volante de um barco ultrarrápido e rodeado de mulheres!

Puff! Também foi direto pra lá.

Em seguida diz o gênio ao presidente da empresa:

— É a sua vez!

E o presidente diz:

— Cancele os pedidos deles. Eu quero estes dois cretinos de volta ao trabalho depois do almoço!

MORAL DA HISTÓRIA

Não seja idiota! Deixe sempre o chefe falar primeiro.

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

COMO ERA NOS VELHOS TEMPOS...

Um garoto volta para casa depois de ter feito compras para seu avô em quarentena.

Ele diz: "Vovô, consegui encontrar tudo o que você queria! No total, deu a R$ 60,22. Aqui está o seu troco".

O vovô diz: "Meu Deus, Zezinho, como o mundo está caro hoje em dia. Quando eu era garoto da sua idade, eu trazia cinco quilos de batatas, três pães, dois quilos de carne, um litro de leite, uma carteira de cigarro para meu pai e um pacote dos meus doces favoritos, tudo por cerca de cinco centavos.

"Mas não posso fazer isso hoje. Não, "seu" Zezinho!"

"Por que não, vovô?" pergunta o garoto.

"Tem muitas dessas drogas de câmeras de segurança por aí."

Fonte: Disponível na home page “Tudoporemail”.

CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Março/2022

 

A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) convida a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de Março/2022, que será realizada HOJE (26/04/2022), às 18h30min, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Médica São Lucas

Nota: Serão aplicadas as medidas preventivas ainda recomendadas pelas autoridades sanitárias, sendo obrigatório o uso de máscara por todos os fiéis presentes.

Sociedade Médica São Lucas

sexta-feira, 25 de março de 2022

CONVITE: Lançamento de “MEDICINA, MEU HUMOR!” (2ª edição)

A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Ceará (Sobrames-CE) convida para a noite de autógrafos da segunda edição de “Medicina, meu humor! contando causos médicos”, livro do médico e economista Marcelo Gurgel Carlos da Silva, cuja renda será revertida para as ações culturais da Sobrames-CE.

O livro e o autor serão apresentados pelo Dr. Paulo Gurgel Carlos da Silva, ex-presidente e sócio-fundador da Sobrames-CE.

Local: Espaço Cultural Dra. Nilza dos Reis Saraiva, na Av. Rui Barbosa, n°1.880 (altos) - Aldeota.

Data: 28 de março de 2022 (segunda-feira) Horário: 20h.

Traje: Esporte Fino.

Dr. Raimundo José Arruda Bastos

Presidente da Sobrames-CE

Obs.: Confirmar presença: 98406-5963 ou 3244-3807 (Sra. Orlania).

Nota: Uso obrigatório de máscara.

Crônica: “Aqui vale mentir, só não vale acreditar” ... e outro causo

“Aqui vale mentir, só não vale acreditar”

O pensamento está afixado no bar do Paulinho (Tibúrcio Cavalcante com Alves Teixeira), onde a moçada se encontra pra contar as lorotas mais cabeludas, reproduzindo, quiçá, o fenômeno que a mundiça cearense batizou de Cajueiro da Mentira ou Cajueiro Botador - "árvore que ficava na Praça do Ferreira, pelo lado da Rua Floriano Peixoto, à sombra do qual, todo 1º de abril, havia sessão de mentiras e, em seguida, a eleição do maior mentiroso do ano". (Enciclopédia da Fala Cearense)

Quem nos traz essas novidades é o amigo Honorato, que ainda na temática da "afirmação que não corresponde à verdade, feita com a intenção de enganar", explica que certa feita indagou o bispo do Crato acerca dessas coisas que deixam esbranquiçadas as unhas de quem as pronuncia.

- Dom Gilberto, é verdade que minha mãe (filha de Maria) dizia que mentir combinado não é pecado?

- Verdade, meu filho. Só é pecado mentir sem combinar... Quer um exemplo?

- Diga, não entra na "caxola" uma arrumação dessas!

- Zé de Alencar! A índia descia a Serra da Ubajara, lavava o cabelo na lagoa da Messejana, voltava pra trás, tornava a subir a serra e ainda dava tempo fazer a tapioca do guerreiro chefe!

- Faz sentido...

- Nem de teco-teco era possível! A questão é que Zé combinou!

- Com quem?

- Com a técnica literária! Não tem um erro de português!

Eiágua!!!

Besta quem bota fé na pabulagem desse povo exagerado, que dispara a mentira mais braba do mundo com a maior naturalidade, e se enfeza se alguém fizer cara de desconfiança. Prestenção, por exemplo, ao converseiro medonho que vi nas redes sociais (@meupaisceara) envolvendo cinco compadres, comentando sobre chuva muita, enchentes, arrombamentos, inverno. De Noé se encabular, sentir-se neófito em matéria de dilúvio (pedir pra obrar e sair "distrenado"). Um a um eles soltam as suas.

1º sujeito: "Oriel, aqui no Iguatu deu um trovão tão grande que desatou os punhos de uma rede, tu acredita?"

2º mentiroso: "O negócio dessas chuvas aí eu não duvido não, porque é chuva com força. Pra tu ver, aqui em Areia Branca, a chuva foi tão forte que a creche lá do Mutirão passou em frente à minha casa, cheia de menino dentro, gritando. A chuva arrancou a creche, até Paulim, menino de minha sobrinha, ia dentro. Ave Maria, é chuva!"

3º camarada: "Não é mentira não, acontece! Eu vim-me embora de Pinheiro, na sexta-feira à noite, e mamãe me disse que ontem deu um trovão com relâmpago (tão forte) que amadureceu as siriguelas verde tudim dos pé, duma vez."

4º loroteiro: "Aí tá chovendo, é? Pois bom tá é aqui, que já escureceu. Deu um relâmpago tão marrumeno que foi meia hora de céu claro, parecia que tinha amanhecido o dia. Os galo subindo no poleiro pra cantar, pensando que tinha amanhecido o dia de novo. Aqui tá chovendo demais. Passou um jumento no teto duma Kombi, boiando e rinchando, eu tentei jogar a tarrafa pra pegar o bicho, mas não consegui não..."

5º potoqueiro: "Isso é lá chuva, menino! É chuva pequena! Chuva grande deu em Sobral. A chuva foi tão grande que um trem passou boiando e eu pensei que fosse uma jiboia. Era todo mundo correndo com um pau pra matar essa cobra, mas era um trem..."

Fonte: O POVO, de 18/03/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

 

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