Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)
O orgulho do
professor é sempre constatar o sucesso do aluno. No caso do Dr. Cialdini tenho
muito orgulho de ter sido seu professor e é sempre com muito cuidado que leio
seus artigos. Sempre excelentes. Assim nunca fiz qualquer comentário sobre
aqueles que li.
Este, entretanto,
me chamou a atenção por tratar de um assunto dos mais difíceis em ciência
econômica: o fenômeno "causa-efeito".
Não quero aqui
entrar na discussão filosófica do fenômeno "causa´-efeito', discussão esta
que se arrasta desde Aristóteles (384AC - 322AC), quando em seu trabalho sobre
metafísica definiu as quatro "causas" que poderiam existir.
Mas é importante
termos consciência que o fenômeno "causalidade" envolve muito cuidado
quando queremos determinar "o que causa o que".
Aqui vale lembrar
que a "causalidade" entre dois eventos, do tipo: o evento X determina
o evento Y não pode ser tomada como uma lei determinística. Isto só será
verdade se o "não X implica no não Y"
Sabemos que a
"causalidade" é um dos temas mais controversos (embora um dos mais
discutidos) em ciência econômica. De fato, essa ciência se utiliza de muitas
"leis", onde são estabelecidas muitas "causações".
Exemplo: a
relação renda-consumo. Todo aluno principiante de economia já é capaz (já que
lhe foi ensinado) de atestar que "o aumento da renda determina um aumento
no consumo".
Mas aí vem o
consumo dos bens inferiores, que desmente essa lei. Ou o "efeito
catraca" de James Duesenberry que, também não corrobora tal lei. Ou a Lei
de Wagner, sobre os gastos públicos. Eu poderia citar inúmeros exemplos.
O artigo do Dr.
Cialdini procura mostrar que há uma relação direta entre arrecadação e IDH. Me
pareceu que temos aí uma variante da Lei de Wagner.
Vale salientar
que o Dr. Cialdini chama a atenção para o problema da "Causalidade",
em termos de "estabilidade". Entretanto, o problema não é a
"estabilidade" dessa relação, mas sua veracidade.
No caso do artigo
ora discutido, a causalidade foi expressa como: "quanto maior a
arrecadação (X), maior o IDH (Y)".
Entretanto, não
foi discutido o problema que no cálculo do IDH o que entra é a renda total da
sociedade (não somente a renda do setor público) e não o valor arrecadado, e
defende que os outros dois indicadores no cálculo de IDH (nível de vida e
educação) dependem fortemente do gasto público. Hipótese não necessariamente
verdadeira.
Chamo, ainda, a
atenção que o uso de instrumentos econométricos sofisticados, neste caso, não
determina que a causalidade "Não X implica o não Y", seja verdadeira.
Sabemos, apenas,
que quanto maior for o sistema econômico, maior é o setor público.
De qualquer forma
parabenizo o Dr. Cialdini pela defesa da arrecadação, ele que é um excelente tributarista.
(*)
Economista e professor titular aposentado da UFC,
Fonte: O Povo, de 1/06/25. Opinião. p.186.
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