sexta-feira, 28 de maio de 2010

O BRASIL ANEDÓTICO XV

A IGREJA E O ESTADO
Ferreira da Rosa - "O Jornal", de 2 de dezembro de 1925
No tempo do Império, a Capela Imperial, que é hoje a Catedral, estava ligada às dependências do Paço (onde é hoje a Academia de Comércio) por meio de um passadiço sobre a rua Sete de Setembro. Outro passadiço sobre a rua da Misericórdia, ligava essas dependências ao próprio Paço, que é onde hoje fica o edifício dos Telégrafos. O governo provisório mandou derrubar esses passadiços, isolando os edifícios.
- É assim que se separa a Igreja do Estado! dizia-se no tempo.
AS RONHAS DE AFONSO PENA
Anedota recolhida pelo autor no Ceará
Quando Afonso Pena andou pelo Norte, na sua viagem presidencial, resolveu ir visitar o interior cearense, principalmente os açudes de Quixadá e Aracajú-Mirim, que haviam consumido, já, milhares de contos.
Na ocasião da partida para o interior, chegou o presidente à estação da Estrada de Ferro de Baturité, em Fortaleza, e saiu pela plataforma, a examinar o comboio. Ao dar com a locomotiva resfolegante, em que havia uma placa com o seu nome, franziu a testa, com aborrecimento.
- A placa é nova... - observou.
E como quem compreende aquela lisonja da última hora:
- Mas a máquina é velha...
OS "BÊBADOS"
Vieira Fazenda - "Antiqualhas e Memórias", pág. 75.
D. João VI, que mostrava sempre grande entusiasmo pelas festas de igreja, a ponto de ir à Penha assisti-las, nutria uma aversão irreprimível ao teatro. Forçado, porém, a ir a espetáculos de gala, como uma satisfação ao corpo diplomático, dormia a bom dormir na sua cadeira de espaldar, encontrando nesse divertimento a maior das estopadas.
Com o barulho da música, das palmas, ou o grito dos personagens da peça, acontecia-lhe, porém, despertar de vez em quando, estremunhado. Então abria a boca, passava as mãos pelos olhos, indagando, aborrecido, de quem se achasse mais próximo:
- Já se casaram, esses bêbados?
O COMPROMISSO
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 207.Três ou quatro dias antes de 15 de novembro, Benjamim Constant mostrou-se apreensivo com a situação de Floriano Peixoto. E confessou os seus receios a Deodoro.
- Não se aflija com isso, - aconselhou o general.
E contou, a propósito, que, tempos antes, Floriano, em conversa com ele, lhe dissera, pegando-lhe com dois dedos nos botões da farda:
- "Seu" Manuel, a Monarquia é inimiga disto!
E adiantara, logo:
- Se for para derrubá-la, estarei pronto.
O CAPACETE DO FUNDADOR
Frei Vicente do Salvador - "História do Brasil", pág. 191.
Acabava Mem de Sá de fundar a cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, quando uns mercadores chegados do reino lhe foram pedir permissão para vender vinho por certo preço exorbitante.
- Concedo, - respondeu o Fundador, - com uma condição.
E arrancando o seu capacete:
- Há de ser este o quartilho!
A sua imposição foi obedecida, e, por muito tempo, o quartilho brasileiro ficou sendo aferido por um capacete, sendo assim muito maior que o de Portugal.
OS ÍMPETOS DE PEDRO I
Alberto Rangel - "Pedro I e a Marquesa de Santos", pág. 61.Ia, certa vez, o imperador em uma das suas visitas de amante à residência da marquesa de Santos, quando, à porta da casa, o seu guarda-roupa, José Caetano de Andrade Pinto, que o acompanhava, se deteve, escrupuloso:
Na soleira desta porta, Majestade! - exclamou, - terminam as minhas funções!
- Pois, considere-se demitido do meu serviço! - bradou Pedro 1.
No dia seguinte, porém, mandou chamar o funcionário demitido.
- Fique o dito por não dito, - comunicou.
E com gravidade:
- Refleti melhor: o senhor portou-se como devia.
A RIQUEZA PAULISTA
"Correio da Manhã", do Rio, de 24 de abril de 1927.
Era Martim Francisco Ribeiro de Andrada secretário da Fazenda do governo de São Paulo, quando foi espalhada a notícia de que o Tesouro atravessava uma situação delicada, lutando com dificuldade para satisfazer os seus compromissos. Alarmados com o boato, alguns credores correram ao secretário da Fazenda.
- É falso! - protestou Martim Francisco.
E com o seu orgulho de paulista:
- São Paulo, para pagar a sua divida, precisa de tempo para contar o dinheiro!

Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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