Por Eduardo Fontes,
jornalista e administrador
Recentemente, Fortaleza viu partir uma das figuras mais
emblemáticas da Medicina do Ceará, o médico Sérgio Gomes de Matos, de
tradicional família cearense e um dos luminares da Cultura, não só da ciência
médica mas também geral. De forma múltipla, reunia na sua pessoa o bibliógrafo,
o historiador, o amante da música clássica, o literato, o cultor enfim das
Belas Artes.
Mas antes e acima de tudo, era médico em tempo integral,
pneumologista e uma das figuras mais carismáticas e respeitadas da Medicina no
Ceará, como professor de gerações de médicos e de profissional sem jaça. Viveu
para servir o próximo, sem distinções de classe ou de poder econômico, e quem
quisesse encontrá-lo, bastaria comparecer à Casa de Saúde São Raimundo, onde
praticamente morava. Era afável no trato e acolhia a todos com um sorriso de
bondade extravasado nos lábios e no brilho dos olhos.
Por essa vocação acendrada, consumiu-se a si todo inteiro, como
se fora uma vela acesa num castiçal. Não conhecia sábados, domingos, nem
feriados. Era verdadeiramente um sacerdote a serviço da Medicina. Sacrificava o
lazer e os momentos de descanso em família, pois tinha por obrigação visitar a
qualquer hora do dia ou da noite os seus doentes internados. Eu próprio dou
testemunho desse seu empenho, quando estive ali internado por mais de um mês
sob o seu permanente cuidado.
Foi um apóstolo, um samaritano da Medicina, fiel ao juramento de
Hipócrates. Foi portanto um dos últimos lídimos representantes de médicos e de
uma Medicina humanizada e humanitária, que atendia olhando as pessoas nos
olhos, consultando suas dores, sem se importar para as condições financeiras do
paciente. Sérgio Gomes de Matos fará imensa falta à Medicina do Ceará, e muitos
dos seus pacientes curados e em tratamento rendem-lhe o preito de sua gratidão
e de sua saudade. Descanse em paz, amigo.
* Publicado In: Diário do Nordeste, de 8 maio 2019.
Ideias. p.2.
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