sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

CONVITE: Posse dos novos membros e confraternização natalina da Sobrames-CE-2025

Prezado(a) Sobramista,

A Diretoria da Sociedade Cearense de Médicos Escritores - Sobrames Ceará, tem a honra de convidar seus membros e familiares para a confraternização do Natal 2025 e Cerimônia de Posse dos novos sobramistas:

Sócios Titulares: Dra. Maria Carlos Pereira da Silva, Dra. Ivna Hitzschky Silva dos Fernandes Vieira Previdelli, Dr. Fernando Antônio Lopes Furtado, Dr. Ricardo Rangel de Paula Pessoa e Dr. Angelo Roncalli Ramalho Sampaio.

Sócio Acadêmico: Éden moura Mendonça

Data: 8/12/2025 Horário: 19h

Local: Auditório da Sociedade Cearense de Pediatria - SOCEP

Endereço: Rua Maria Tomásia, 701 – Aldeota

Traje: Esporte Fino

Contamos com a presença de todos

Após a cerimônia, será servido coquetel.

Maria Sidneuma Melo Ventura

Presidente da Sobrames-CE


Crônica: “...na alma, toda experiência tem a forma de cicatriz”

"...na alma, toda experiência tem a forma de cicatriz"

E tem. A primeira vez que Claudinha foi assaltada deixou marcas profundas na alma "principalmente no juízo". Esgueirava-se pela Liberato Barroso, em busca da Av. do Imperador, pela calçada - tarde chuvosa, quando aparente pacato casal dela se aproxima, vindo do outro lado da rua. O homem, portando uma tesoura cega; a mulher, um terço faltando cinco contas. Pedem encarecidamente à vítima dois vales-transportes, três pastilhas Valda e 10 reais "de preferência em notas de 2". Claudinha emudece do susto.

- Hum, hum, hum, hum!!! Hum!!!

- É mudinha, ela! - imaginou a meliante.

- Desembucha, senão tu vai ver o que é bom tosse! - impõe o ladrão.

- Pra tosse, xarope Melagrião! - ensina a vítima.

- Ela fala!!!

Refeita do susto, Claudinha, referindo-se aos 10 reais...

- Pode ser duas de cinco, colega? - pelando-se de medo, em risco de dar uma "pilôra".

- É, vai!!! E os vale? Passa logo! - disparou a companheira do ladrão, "que tinha cara de Socorro", imaginou Claudinha, ao ser instada.

- Posso dar só um, minha senhora? O outro é pra eu voltar de topique, moro no Siqueira! Longe que só!

- Tá bom, tá bom! Loura véa lisa, serve nem pra ser assaltada!

- Lisa, vírgula, sua... - Claudinha retruca, mas pensa no perigo da desvantagem numérica.

- Ok, ok, ok! Tome! E antes que eu esqueça: ainda querem as pastilhas?

- Não! Chau!

Era o casal que se afastava celeremente do local do crime, pois vinha gente se aproximando. E Claudinha, com a partida da dupla marginal? Caiu durinha pra trás! Até ser socorrida por um povo que vinha vindo de lá. Ao tornar, já dentro de uma mercearia, pálida, perturbada...

- Onde estou? Que se passa? Cadê o Papai Noel?

- Calma, dona, calma! Você foi encontrada desmaiada no meio da rua e uma senhora e o filho dela a trouxeram para cá. Está melhor agora?

- Ah, desculpa! Estou. Foi a agoniação do assalto! Obrigada pelos cuidados. Vou-me já que está pingando...

Realmente, a chuva começara

Claudinha já em casa e tal e coisa e coisa e tal... E os anos se passaram. Certo dia, voltando agora da empresa pela Guilherme Rocha, quem ela divisa a mais ou menos 30 metros de onde se encontrava? O mesmíssimo casal de malfazejos, dirigindo-se ao seu encontro. Pelo aperreio da situação, a criatura de novo perde a fala. A suposta Socorro dispara:

- Passa as chinelas havaianas, o cordão de ouro e a sombrinha!!!

- Hum, hum, hum, hum!!! Hum!!!

- Largue de frescura! Tu num é muda não!

- E num sou mesmo não?!? - disparou Claudinha, irritada e corajosa. - Casal de ladrão fí duma ééééégua!!!

O magarefe não gostou do que ouviu e trava-se ali acalorada discussão:

- Ei, freguesa! Fí duma égua não! Respeite ao menos mamãe!

- Magote de ladrão metido, pode ser?

- Ah, assim sim!

- Pois então, socoooooorro!!!

- Ela sabe meu nome, Zé! Tamo lascado! Corre, macho! Ela é perigosa!

E Claudinha, com a fuga da dupla marginal? Caiu durinha pra trás!

Fonte: O POVO, de 7/11/2025. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

A CALÇA CRESCEU

Por Patrícia Soares de Sá Cavalcante (*)

Caminhava pela calçada quando parei diante de uma banca. Na capa da revista Quatro Cinco Um, a manchete: "Cem anos de Mrs. Dalloway", um clássico de Virginia Woolf. Que coincidência! Havia terminado o livro naquela semana. Fiquei feliz; para mim, a revista era um presente que chegava na hora certa. Comprei-a e comecei a folheá-la, sentada em uma loja próxima, quando um senhor entrou sozinho e perguntou: - Eu tô ficando velho, e a calça cresceu. Vocês fazem o ajuste?

A vendedora foi solícita e sorriu. Achei uma graça a pergunta dele. Inverteu a perspectiva: não foi ele quem diminuiu, foi a calça que cresceu. O passar dos anos não lhe diminuía o tempo que viria; ao contrário, alargava a trama do tecido da vida vivida.

"Mrs. Dalloway disse que ela mesma compraria as flores." Assim começa o livro, que se passa concretamente em um único dia, cujas vinte e quatro horas são marcadas pelas badaladas do Big Ben. Mas, entre um som e outro, cabe uma vida inteira. As horas que o relógio mede são poucas diante das que a memória de Clarissa, a protagonista, abriga. O tempo de fora corre em linha reta, o de dentro se esparrama, desdobra-se e se multiplica para todos os lados. É infinito.

Fiquei pensando em como usufruir melhor do que nos é mais sagrado: o tempo. Não apenas na dimensão da quantidade ou das escolhas que dão sentido aos nossos dias, mas também na forma de alargar a trama da existência, para que ela não cresça só no comprimento, e sim na densidade do que vivemos.

Clarissa Dalloway saiu em busca de flores, eu fui à banca de revista, e aquele senhor saiu para ajustar a calça. Há uma semelhança entre nós três: estávamos fazendo coisas triviais, comuns à rotina da vida diária. Não havia nada de extraordinário em nossas ações.

Um livro escrito há cem anos foi capaz de me tocar e transformar um instante comum em algo mais profundo, que vai além do que simplesmente "acontece". O passado e o presente pareciam um só, eu estava aqui e lá. São os pequenos momentos em que o banal se torna sagrado - e a vida, maior.

(*) Médica psiquiatra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/11/2025. Opinião. p.16.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

O TROFÉU SEREIA DE OURO PARA ADRIANA FORTI

O Troféu Sereia de Ouro foi instituído, em 1971, pelo chanceler Edson Queiroz. com o propósito de homenagear, de forma expressiva, aqueles que se notabilizaram e concederam importante contribuição ao desenvolvimento do Ceará, em seus distintos campos de atuação.

A Academia Cearense de Medicina (ACM) sente-se igualmente prestigiada quando tem um dos seus membros entre os recipiendários da “Sereia de Ouro” e, no caso deste ano de 2025, rejubila-se em ver a confreira Adriana Costa e Forti no quarteto dos agraciados com o honroso troféu.

Adriana Costa e Forti nasceu em Mossoró, no Rio Grande do Norte, em 25/04/1948, filha de Manassés Moreira Costa e Ieda Menezes Costa.

Fez o Primário e o Ginasial em sua cidade natal e o Científico no Colégio Juvenal de Carvalho, em Fortaleza, porque desejava cursar Medicina. Bem-sucedida no exame vestibular, ingressou na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1966, e foi diplomada médica em 1971.

Recém-formada, viajou para o Rio de Janeiro, onde cumpriu a Residência Médica no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (1972-73) e a Especialização em Endocrinologia, na Escola de Pós-Graduação Carlos Chagas (1972).

Adriana Costa e Forti recebeu o Título de Especialista em Endocrinologia da Associação Médica Brasileira / Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por concurso, em outubro de 1974.

Cursou Mestrado em Endocrinologia, de 1975 a 1978, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, concluso com a defesa da dissertação “Estudo do receptor vascular renal em coelhos diabéticos”, sob a orientação do Prof. Manassés Fonteles, recebendo nota máxima da banca examinadora, e Doutorado em Ciências Médicas e Biológicas, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de 1991 a 1993, com a tese “Papel do endotélio vascular renal nas alterações renais no diabetes”, sob a orientação dos Profs. Drs. Antônio Roberto Chacra e Manassés Fonteles.

Ingressou no quadro docente da UFC, como professora auxiliar, via concurso público, em 1975, e seguiu na trajetória acadêmica atingindo o cargo de professor titular em 2016, no qual viria a se aposentar em 2021, após mais de 45 anos de serviços.

Em 1982, a Profa. Adriana Costa e Forti participou da criação da disciplina de Farmacologia Clínica, da qual foi coordenadora de 1985 a 1988. e também da criação do mestrado em Clínica Médica da UFC em 1995, o qual coordenou de 1996 a 1997.

Foi fundadora em 1988 e diretora, por mais de trinta anos, do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. instituição que serviu de modelo, ao Ministério da Saúde em 2001 e em 2002, para implantar o Plano de Reorganização de Ações à Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus no Brasil.

Foi a primeira mulher e, também, a primeira nordestina a presidir a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (1981-1982 e 1983 e 1984) e a Sociedade Brasileira de Diabetes, e foi uma das fundadoras das regionais cearenses dessas sociedades médicas. Presidiu quatro congressos nacionais de Endocrinologia e de Diabetes realizados em Fortaleza.

Participou ativamente da implantação e coordenação de projetos educacionais em parceria com instituições internacionais: (Harvard - Joslin SBD), International Diabetes Center (Mineapolis-USA); Programa de Educação do European Association for Study of Diabetes (EASD), para profissionais de saúde e para pessoas com diabetes no Brasil.

A Dra. Adriana Forti, durante seis anos, representou o Brasil no Comitê da OMS, em Genebra, no Task Force on hormonal contraceptives.

Coordenou no Ceará vários estudos epidemiológicos nacionais na área do diabetes, além de trabalhos de capacitação e desenvolvimento de equipes para lidar com o Diabetes Mellitus, junto às secretarias de saúde do estado e de diversos municípios cearenses.

A Profa. Dra. Adriana Costa e Forti publicou muitos trabalhos científicos, com destaque para 75 artigos, 11 capítulos de livros e 164 resumos, orientou dissertações de mestrado e teses de doutorado, tendo participado de várias diretrizes de sociedades cientificas e de documentos técnico- científicos para educação de profissionais e de pessoas com diabetes e teve centenas de apresentações em congressos nacionais e internacionais.

Integrou o corpo editorial de importantes periódicos da sua especialidade e foi contemplada com o Prêmio Francisco Arduíno da SBD, em 2019, e com o Prêmio José Schermann da SBEM, em 2022.

É Membro Titular da ACM, desde 13/05/2005, como a segunda ocupante da Cadeira 24, patroneada por Antônio Guarany Mont’Alverne, sendo recepcionada, por ocasião da posse, pelo Acad. Manassés Claudino Fonteles.

Do enlace matrimonial com o seu colega de turma César Augusto de Lima e Forti, gerou os filhos Cássio (administrador e economista) e Márcio (administrador e advogado), que se desdobram em três netos: Giovana, João Lucas e Maria Luiza.

Por suas atividades de ensino e de pesquisa e, sobretudo, como médica que prestou, e segue prestando, relevantes serviços a comunidades carentes, resultando em notável impacto na saúde de pessoas com doenças crônicas do Ceará, a Profa. Dra. Adriana Costa e Forti se fez merecedora do Troféu Sereia de Ouro, configurando, indubitavelmente, um reconhecimento público do enorme valor da agraciada.

Cons. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Membro titular da ACM – Cad. 18

* Publicado In: Jornal do médico, 21(198): 34-35, novembro de 2025.


A reforma da Previdência Municipal e a necessidade da segregação de massa

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

A Secretaria de Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE) e sua Escola de Gestão Pública (EGPCE) têm levado a todos os municípios cearenses o Programa de Governança Interfederativa Ceará um Só. Uma das maiores contribuições da Seplag tem sido mostrar a importância da segregação de massa nos regimes de previdência municipal.

A segregação de massas é uma solução viável para o equacionamento do déficit atuarial nos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS). A estratégia consiste em dividir os segurados ativos, aposentados e pensionistas em dois fundos: o Fundo em Capitalização (ou Fundo Previdenciário) e o Fundo em Repartição (ou Fundo Financeiro).

Essa divisão torna a gestão dos recursos mais eficiente e aumenta a transparência no controle dos passivos previdenciários. O Fundo em Capitalização é formado pelos servidores mais jovens ou recém-ingressos no serviço público. Seu objetivo é garantir o equilíbrio financeiro e atuarial, assegurando que os recursos arrecadados sejam suficientes para cobrir os compromissos futuros.

No momento da segregação, o saldo disponível em investimento é transferido para o Fundo em Capitalização. Em alguns casos, parte dos aposentados e pensionistas também pode ser incluída nesse fundo, conforme as regras adotadas.

Já o Fundo em Repartição é composto pelos segurados que não foram incluídos no Fundo em Capitalização, sendo fechado para novas adesões e destinado à extinção gradual ao longo dos anos.

Todo o déficit financeiro e atuarial do RPPS é alocado nesse fundo, sendo coberto pelo ente público por meio de aportes mensais. Essa cobertura será necessária enquanto houver benefícios a pagar, sendo apurada mês a mês conforme a folha de pagamento dos benefícios.

A Seplag tem orientado e repassado aos municípios três alternativas concretas para amortecer o déficit e gerar poupança corrente, de modo a não sobrecarregar o caixa do Tesouro municipal. São elas:

1 - Alienar bens públicos móveis e imóveis para compor, exclusivamente, o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) dos servidores públicos municipais;

2 - Securitizar a Dívida Ativa – a Lei Complementar 208/2024 abriu essa possibilidade, determinando que 50% dos recursos provenientes sejam aplicados na previdência;

3 - Criar o Regime Próprio de Previdência Complementar (RPC), exigido pela Emenda Constitucional 103/2019, que tornou obrigatória a instituição desse regime para os servidores públicos titulares de cargo efetivo de todos os entes federativos que têm Regime Próprio de Previdência Social.

A manutenção da regularidade previdenciária e a emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária dependem, entre outros critérios, da instituição e vigência do RPC.

No ciclo das políticas públicas, não basta formular e implementar: é fundamental monitorar. Somente assim será possível ampliar a capacidade de investimento dos municípios cearenses.

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 30/10/25. Opinião. p.21.


terça-feira, 2 de dezembro de 2025

FRONTEIRAS CULTURAIS: o imaginário do interior cearense

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Dentre as muitas riquezas do Ceará, a literatura oral tem uma enorme relevância, pela tradição rica em mestres do improviso e da narrativa, como os nossos contadores de história, cordelistas, repentistas e as benzedeiras e parteiras.

Para além de artistas, esses personagens são os guardiões do nosso patrimônio imaterial, da memória coletiva e da identidade regional, em contraste a um mundo cada vez mais voltado para as telas dos computadores e dos celulares.

Quando se perde um desses guardiões, parte dessas riquezas também é perdida, com exceção daquelas que tenham sido gravadas, escritas, ensinadas. Mesmo nessas, há uma perda com relação à performance, pois o tom de voz, os gestos e o contato direto nunca podem ser repostos.

Os nossos repentistas, têm uma habilidade rara de criar versos sob pressão, totalmente conectados com temas atuais ou do passado e a responder a motes complexos, mesmo assim respeitando a métrica e as rimas e criando um ambiente único.

Já nossos cordelistas fazem o elo entre o oral e o escrito, popularizando a literatura e a história contada, com temas que despertem a atenção do povo, levando à venda dos respectivos cordéis, impressos de forma artesanal e comercializados normalmente em feiras do interior.

Quanto às benzedeiras e parteiras, estas carregam também saberes dos seus ancestrais, que são repassados por gerações, incluindo rezas, orações e curas, em rituais carregados de fé e tradição.

O Ceará tem buscado preservar esses saberes, como é exemplo o projeto que instituiu o Programa de Mestres da Cultura, que além do incentivo à difusão e fortalecimento das tradições, apoia financeiramente esses guardiões, para que possam melhor se dedicar à sua arte.

As instituições cearenses, de uma forma geral, devem juntar esforços no sentido de ampliar essas iniciativas, para que nomes como o poeta Patativa do Assaré, o cordelista Arievaldo Viana, o repentista Geraldo Amâncio, a contadora de histórias, Mestra Zulene Galdino e a benzedeira, Mestra Margarida Guerreira permaneçam vivos, mostrando que a literatura oral cearense é um manancial de poesia, fé e memória.

(*) Professor aposentado da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE. Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Fortaleza.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/11/25. Opinião. p.22.


COP 30: problemas globais e soluções locais

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Aproxima-se a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a se realizar em Belém (PA). Milhares de pessoas das mais diversas origens institucionais deverão participar deste megaevento. Metas globais não cumpridas, acordos sem perspectivas de futuro são alguns dos problemas que podem surgir nesse festivo cenário. Soluções globais são importantes. Para além das agendas internacionais, contudo, é oportuno enxergar outros movimentos.

A margem do burburinho, é animador reconhecer o crescimento de ações individuais e coletivas de mitigação dos efeitos da degradação ambiental. Há iniciativas emblemáticas do poder de inovações simples em curso.

A ação cidadã de Hélio da Silva conquistou atenção nacional por ter plantado mais de 40 mil árvores em praças e parques de São Paulo. Mais longe, na caatinga pernambucana, o povo indígena Xukuru do Orubá tem feito algo similar, mediante o plantio de milhares de mudas nativas em áreas degradadas. Em meio a um ambiente cercado de cimento armado, também em São Paulo, pequenas florestas são cultivadas em escolas da rede pública, abrigando crianças em sua sombra.

Esses e outros exemplos revelam o potencial de soluções locais para o enfrentamento de desafios globais. Sobre o tema vale conferir o documento "O impacto das mudanças climáticas na educação: iniciando um debate" (VIEIRA, D3E. Todos pela Educação, 2024).

Nas mais diferentes esferas da vida, mudanças que partem de iniciativas dos próprios cidadãos reservam a esperança de dias melhores para o planeta. Nesse contexto, a educação ambiental crítica é alternativa fecunda ao enfrentamento dos desafios do clima. A escola pode ser lugar de cultivar uma lógica de respeito e preservação da natureza.

Em lugar de querer ensinar, é preciso aprender com lições concretas existentes que passam praticamente despercebidas em eventos de massa como a COP30. Em Belém, do outro lado do rio, na Ilha de Combu, vale conhecer o exemplo da Escola Municipal do Campo Milton Monte. Nesta escola ribeirinha, como em tantas outras espalhadas pela Amazônia, se ensinam coisas que o mundo precisa aprender.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/11/25. Opinião. p.22.


 

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