Por Tales de Sá Cavalcante (*)
No livro "Sobre a China", Henry
Kissinger elogia Mao Tsé-Tung por ter ordenado seu exército a se manter
"comedido e probo" em antiga guerra da China contra a Índia. A
vitória sobre posições indianas gerou nova fronteira. Mao determinou a volta ao
limite anterior e a devolução dos armamentos pesados retidos.
A China usou a força não para conquistar
territórios, senão "para obrigar a Índia a voltar à mesa de
negociações". A China de hoje faria o mesmo? E Putin? E Trump? A mídia nos
diz que este deseja tomar a Groenlândia, o Canadá e capturar Gaza. E, sem
garantir a proteção aos ataques russos, exigiu da Ucrânia US$ 500 bilhões em
terras com minerais raros e 50% da renda gerada pela exploração desses
recursos.
Em 2001, o consultor internacional Kenichi
Ohmae lançou o livro "O Continente Invisível". Nele destacou a
descoberta e a colonização dos continentes e o advento da internet, "o
continente invisível", que, em seu dizer, seria colonizado, porém, com
futuro imprevisível. Após 24 anos, Bolívar Torres, no "O Globo",
comenta o compêndio "Tecnofeudalismo", de Yanis Varoufakis, ex-ministro
das Finanças da Grécia, a ser lançado no Brasil em abril, em que o autor
compara as big techs a senhores feudais e defende que o capitalismo morreu e
foi substituído por algo pior.
Varoufakis afirma que os mercados teriam
sido trocados "por plataformas de comércio digital que, na prática, operam
como os antigos feudos. Os usuários digitais se tornariam 'servos', enquanto os
detentores do capital tradicional [...] se limitariam ao papel de 'vassalos'. E
o lucro, motor do capitalismo, teria sido substituído por seu antecessor
feudal: a renda. [...] Os usuários não são clientes no sentido clássico, mas
servos que geram dados e precisam dessas plataformas para acessar informações,
trabalho e serviços essenciais".
Para Arthur Bezerra, também citado por
Torres, a influência das big techs sobre Trump leva muitos a achar que Elon
Musk é o "verdadeiro" chefe de Estado dos EUA. Será o tecnofeudalismo
uma das respostas às indagações de Kenichi Ohmae sobre o continente invisível?
O futuro dirá.
(*) Reitor do FB UNI e
Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/03/25. Opinião, p.18.
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