Por Almir Magalhães (*)
Ao que tudo indica,
desde os “mestres da suspeita” (Nietzsche, Marx, Freud), que criticaram o
cristianismo através de um ateísmo sistematizado ou postulatório, em função da
humanização da pessoa humana, da emancipação e autonomia humanas, já que
consideravam o cristianismo como um entrave ao processo de humanização da
pessoa humana, e, neste sentido, decretada a morte de Deus, passando pelo
desafio do secularismo, da sociedade laica (mais precisamente do laicismo), do
pluralismo que coloca o indivíduo diante de diversas concepções de mundo, modos
de pensar divergentes que acabam gerando confusão, pelo desenvolvimento da
tecnologia e da razão científica, e a respiração profunda da cristandade, ainda
sobraria alguma tarefa para nós cristãos? Qual seria o papel do cristianismo
numa sociedade com estas marcas? Como deveria ser nossa presença neste mundo?
O teólogo Mario de
França Miranda, fazendo alusão à missão atual, afirma que o cristianismo deve
recuperar “a novidade própria do evento Jesus Cristo. Pois o inaudito de sua
proclamação e o inédito de suas ações acabaram, no curso dos séculos,
soterradas por doutrinas, normas, instituições que, procurando estar a serviço
deste evento primeiro, terminaram por ocultá-lo” (REB, Jul-Set 2014 -
Evangelizar ou humanizar - p.540). Continua afirmando que a “atual sociedade
abriga também em si muitas dúvidas, sofrimentos, desorientações, injustiças,
realidades estas às quais o evangelho poderia aportar luz, sentido e consolo.
Mas é importante, diante dela, ter primeiramente um olhar de compaixão e não de
censura e julgamento” (idem, p. 541).
Daqui, devemos
extrair duas posturas: uma delas o Papa Francisco tem feito não poucas vezes
alusão a uma aproximação, ao cheiro de ovelha, a uma presença junto aos
necessitados e a outra postura, uma atitude deixar de olhar para a sociedade
como inimiga, como adversária que tem como seu fundamento, O demo e pensar em
compromissos, a romper com a busca da felicidade individual sem pensar nos
outros, a colocar no centro a misericórdia num mundo dilacerado, ferido.
Outra tarefa
importante é encarar de fato o cristianismo como um “estilo de vida”, “um modo
de existir” e abandonar o “verniz” do qual falara o Papa Paulo VI na Evangelii
Nuntiandi (1975). Evidente que isto necessitará de uma formação cristã adulta
pois a infantil já mostrou a que veio e se foi válida num passado longínquo,
não o é mais hoje, Daí a insistência da CNBB hoje em motivar para a Iniciação à
Vida Cristã, com inspiração catecumenal.
Retomo aqui os
evidentes pensamentos de M. F. Miranda, quando reconhece que as religiões têm
algo a oferecer à sociedade civil:
São elas que
denunciam a marginalização a que são condenados os mais pobres, bem como as
injustiças de políticas econômicas.
São elas que
oferecem uma esperança que sustenta e mobiliza os mais fracos.
São elas que, livres
de um dogmatismo doutrinário e impositivo, oferecem motivações e intuições
substantivas (e não apenas funcionais) para as questões sujeitas a debate
público.
São elas que, numa
sociedade neoliberal e prisioneira de uma racionalidade funcional em busca de
resultados, desmascaram a frieza burocrática e tecnocrática apontando os
efeitos devastadores de certas decisões. (M.F.Miranda, Igreja e Sociedade,
Paulinas, 2009, p. 139-140).
Fica evidente que
aqui elas são colocadas como reflexões sobre o papel do cristianismo na
sociedade moderna e pós-moderna; daí se deduz que elas devem se tornar em
práticas na medida em que não percebemos isto de forma hegemônica em nossa ação
pastoral e evangelizador.
(*) Almir Magalhães padre da
Arquidiocese de Fortaleza, Diretor e Professor da Faculdade Católica de
Fortaleza.
Fonte: O Povo, de
12/4/2015. Espiritualidade. p.13.
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