Médico-Psicoterapeuta
A inveja é o desgosto ou
pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem ou o desejo exasperado de possuir o
bem alheio. A percepção de inveja modifica-se com base nas diferentes culturas
ou religiões. Na Grécia antiga a condenação ao ostracismo (isolamento ou
exclusão) era uma forma de punição aplicada aos cidadãos suspeitos de exercerem
poder excessivo ou restrição à liberdade pública. Naquele tempo essas ações já
eram matéria de Justiça.
No Budismo, a inveja é
encarada como a conjunção da cobiça e do ciúme, sentimentos que impedem o
alcance ao nirvana, o paraíso. Em outras religiões, como a Islâmica, a inveja é
considerada doença espiritual corrosiva que destrói e anula todas as boas ações
praticadas pelo invejoso.
Para a Igreja Católica, a
inveja é um dos sete pecados mortais e contra ela se prega a virtude da
caridade e o amor ao próximo. No Judaísmo, a inveja só é considerada pecado
quando existe o desejo de tirar algo do outro. Quando tem o caráter de
admiração, é vista como estímulo para o desenvolvimento material e espiritual,
o que consagrou a expressão "inveja santa" ou "inveja boa",
incentivo para alcançar os objetivos de desenvolvimento.
Para mim a inveja não tem
cura, não adiantam os argumentos religiosos, prefiro ficar com o pai da
História, Heródoto (485? – 420
a .C.):
“A inveja nasce com o homem
desde o princípio...”.
Inexiste bondade nela. E
quem disso discordar leia ou releia, por gentileza, esta fábula. Nada como uma
fábula para explicar qualquer assertiva. Digo isto sabendo serem as fábulas
imaginadas pelos homens alguns dos melhores instrumentos para explicar as
razões ocultas dos sentimentos cujas causas não podemos esclarecer usando
crenças ou lógicas.
Vamos a uma delas:
Uma cobra começou a
perseguir um vagalume que vivia brilhando, como todos de sua espécie. Ele fugia
rápido da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir. Fugiu um dia, dois
dias e nada... No terceiro dia, já sem força, o pirilampo disse à cobra:
- Posso lhe fazer duas
perguntas?
- Não costumo abrir tal
precedente para ninguém, mas já que vou te comer mesmo, pode perguntar.
- Pertenço a sua cadeia
alimentar?
- Não.
- Então por que você quer me
comer?
A cobra percebeu o absurdo
de estar motivada por sentimento tão baixo e, envolta em seus pensamentos,
respondeu:
- Porque não suporto ver
você brilhando...
Inveja mortal!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
Nenhum comentário:
Postar um comentário