Szegedi teve uma avó que sobreviveu aos horrores do campo de concentração de Auschwitz |
Enquanto espera para subir ao palco do auditório de uma
escola em Budapeste, Csanad Szegedi, anda pelo corredor como um urso que chega
a uma parte desconhecida da floresta. Quando sobe ao palco, em meio aos
aplausos dos estudantes, o fluxo de sangue colore suas orelhas de vermelho.
Szegedi usa a mesma energia antes vista em comícios e
discursos no Parlamento Europeu. Mas o húngaro não poderia ser uma pessoa mais
diferente nos dias de hoje: há três anos, ele era um dos membros mais ativos do
Jobbik, partido nacionalista húngaro de tendência extremista e posicionamento marcado
pelo antissemitismo.
Foi em 2012 que Szegedi descobriu ser judeu. E não apenas
isso: sua avó sobreviveu aos horrores do campo de concentração de Auschwitz.
Ele foi criado como protestante pelos pais, apesar de sua mãe ter origem
judaica.
Auschwitz
A revelação o fez dar as costas para um passado de
intimidações e intolerância. Vice-líder do Jobbik, Szegedi foi tambem fundador
da "Guarda Húngara" uma milícia que tinha como hábito marchar
uniformizada por bairros de Budapeste com presença de comunidades ciganas. Ao
lado dos judeus, os povos nômades eram "acusados" pelo Jobbik por
todos os problemas da sociedade húngara. Uma plataforma que encontrou
ressonância suficiente para eleger Szegedi membro do Parlamento Europeu, em
2009.
Na Hungria, estima-se que apenas entre 50 mil a 120 mil
dos 10 milhões de habitantes são judeus. Mas calcula-se que, antes da Segunda
Guerra Mundial, a população chegava a 800 mil - centenas de milhares foram
deportados para campos de concentração.
Ao contrário do que se pode imaginar, o partido não
expulsou Szegedi quando ele revelou seu passado. O líder do Jobbik pensou em
usar Szegedi como prova de que a legenda não era puramente antissemita. Szegedi
se converteu ao judaísmo ortodoxo. Viajou para Israel e fez uma visita a Auschwitz.
Ela também pôs fogo em cópias de sua autobiografia, Eu
Acredito na Ressurreição do Povo Húngaro.
Hoje, Szegedi se dedica a dar palestras em escolas contra
os perigos da intolerância. E para tentar explicar a cultura judaica de forma a
enfrentar estereótipos. Isso inclui descrições bem-humoradas do ritual da
circuncisão. Ou o fato de que sua avó nos meses de verão usava um curativo no
braço para esconder a tatuagem com um número de identificação, feita em
prisioneiros de campos de concentração nazistas.
Seu antigo partido hoje tem uma linha mais moderada, mas
Szegedi não cogita um retorno.
"O partido pode ter adotado uma postura mais para o
centro, mas ainda está cheio de pessoas que se filiaram por causa de suas
posições radicais, pelo nacionalismo e extremismo. Há um limite para o quão
moderado o partido pode ser. Não penso mais numa vida política", conta
ele, em entrevista à BBC.
Szegedi critica o discurso antissemita na Hungria, mas ao
mesmo tempo defende seus compatriotas. Para ele, é uma consequência do que
chama de paradoxo do nacionalismo húngaro.
"Temos orgulho de nossas conquistas, mas não
examinamos as conquistas de outros povos (que fazem parte da sociedade
húngara). Temos medo de que sua cultura possa ser tão rica como a nossa",
afirma.
Fonte: BBC Brasil/AFP/UOL Notícias, de 9/05/2015.
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