Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Embora a causa mais comum de sangramento retal esteja nas
hemorroidas, quem sangra pelo reto tem câncer do reto, até que o proctologista
prove o contrário. Em saúde, convém admitir o pior. Nos Estados Unidos, por
ano, é mais frequente o câncer dos pulmões (1,2 milhão), das mamas (1,05
milhão), dos cólons e do reto (945 mil), seguido pelo estômago (876 mil), o
fígado (564 mil), e o útero (471 mil) (Kurzweil, R. & Grossmann, T.).
A despeito de condutas alternativas e/ou ancilares
(complementares) muita vez o câncer ano–retal só é curável cirurgicamente. Para
erradicá-lo e deter sua expansão (metástases), as operações amiúde implicam
ressecar a musculatura perianal, causando incontinência fecal. Os dejetos
digestivos passam a desembocar diretamente na pele abdominal por um orifício
ali praticado (colostomia), ao qual adapta-se uma bolsa coletora, plástica ou
de borracha.
Não comentaremos aqui as ileostomias – quando o intestino
delgado é aflorado à pele – nem as derivações cutâneas urinárias (urostomias).
As colostomias podem ser temporárias ou definitivas. Naquelas – geralmente em
doenças benignas – após algum tempo, o cirurgião refaz o trânsito intestinal,
assim normalizando as evacuações. Os estomas definitivos acarretam
significativos sintomas e sinais (síndrome) físicos, e psicossomáticos, pelo
então diferente funcionamento do corpo, e mercê da estranha imagem corporal.
Para melhor entendimento holístico (integral) destes
pacientes, fundamos pioneiramente em Fortaleza, há 40 anos, o Clube dos
Colostomizados do Brasil, em 17 de setembro de 1975 (aos leitores mais
interessados, recomendamos ler dois livros nossos: Colostomias & colostomizados.
Ed. UFC, 1981; Síndrome pós-colostomia. Ed. UFC, 1989 assim como Adaptação dos
colostomizado no processo de desenvolvimento humano. Ed. LCR Christus,
Fortaleza 2001, da professora Euridea Castro).
Àquela época, assessorados por uma competente e decidida
equipe multidisciplinar (proctologistas, enfermeiras, assistentes sociais,
psiquiatras) e coadjuvados por políticos amigos (deputados Filinto Elisio e
Flávio Marcílio), obtivemos reconhecimento local e nacional. Em 2009, o
Ministério da Saúde perfilhou tais clubes, no Ceará mantidos pelo governo
estadual. Até setembro último, havia no Estado 2.098 ostomizados, no Interior
(1.267) e na Capital (836).
Todos dependentes de sua bolsa, licitada pelo menor preço,
de qualidade inferior, como se a saúde não exigisse e o paciente não merecesse
o melhor. Há cinco meses, pasmem, faltavam bolsas (O POVO, 17/10/2015)!
Inexistiam, não para os ricos, mas para o povão, que também é gente. E agora,
José? Onde descomer? Wie Scheisse! Wie Schade!
(*) Professor
Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de
Médicos Escritores.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 11/11/2015. p.6.
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