Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
‘Notícia é aquilo que você ainda não sabe’
(?) é uma das chamadas de um canal de TV paga que costumo sintonizar. Quando
ela aparece fico pensando na autenticidade dessa mensagem. Não sei se a pessoa,
na hora da morte, vê em poucos instantes, como um flash, a exposição de toda a
sua vida. Sei que quando acontece alguma catástrofe reflito sobre a
insignificância da maioria das minhas pequenas preocupações do dia a dia. Foi isso que aconteceu comigo quando foi noticiado
o desastre com um avião de passageiros da companhia alemã German Wings.
Chocou-se contra uma montanha dos Alpes franceses.
Não me
espantou a intensidade da cobertura midiática, considerando-se o local da
ocorrência. Acredito que, caso o mesmo número de pessoas tivesse perecido em um
lugar menos midiático, a notícia rendesse tanto tempo/espaço nos meios de
comunicação. O número de vítimas foi grande, pereceram 150 seres humanos. Pouco
importa a causa do acidente: terrorismo, erro humano, falha técnica, condições
atmosféricas desfavoráveis ou preço mais barato da passagem.
O que me
espantou foi o assombro exagerado das autoridades aeronáuticas, dos peritos,
das companhias aéreas, dos especialistas do ramo na suposição (difícil de
provar) da causa do desastre: o distúrbio psiquiátrico de um dos tripulantes
teria provocado o acidente. O copiloto trancou-se na cabine de comando quando o
piloto foi atender a necessidades fisiológicas e deliberadamente (suicídio)
jogou a aeronave contra a montanha.
Como
leigo em aviação não sei como os peritos poderão garantir essa hipótese. O medo
de avião é um dos maiores fantasmas da espécie humana e quando voamos ficamos
mais perto das mãos de Deus. O medo de voar é atávico. Uns se adaptam, outros
nem tanto. Não sei se o motivo foi arranjado para resguardar prejuízos
empresariais. Noticiou-se que oito casos semelhantes já aconteceram. O copiloto
sofria de doença mental, e por aí seguem as explicações.... Filosofias à parte,
no caso deste suicídio-assassinato o fato é que 149 pessoas saíram desta pela
vontade de um só mortal.
A minha
pergunta é: será que a notícia do suicida como causador do desastre é mais
simpática para o Mercado? Que a tecnologia de ponta, os avanços científicos e
outros blábláblás nos fizeram esquecer que pode haver falha humana? Ou será que
nossa vaidade e confiança científica é tamanha que esquecemos a verdade que
todos somos mortais e se a morte é aquilo que todo mundo sabe, como que ela
sempre vira notícia, ao contrário dos nascimentos?
O que sei
é que os maiores triunfos da propaganda não foram obtidos fazendo alguma coisa,
mas deixando de fazê-la. A verdade é ampla, mais ainda maior, de um ponto de
vista objetivo, é o silêncio acerca da verdade.
***
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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