Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)
A verdadeira oração é uma lembrança de Deus, frequente
despertador da “memória do coração” (CIC 2697). A oração é
fruto da vida, é um filho que fala com seu Pai dos cansaços, das conquistas e
frustrações, alegrias e tristezas, êxitos e fracassos. E o elemento essencial
para a oração é um coração humilde e contrito.
Quando os discípulos pediram “Senhor, ensina-nos a orar”
(Lc 11,1), Jesus ensinou-lhes a oração do Pai-Nosso. Dois evangelistas narram o
Pai-Nosso. Lucas, de uma forma mais breve, com apenas cinco petições (Lc
11,1ss), e Mateus, de forma mais longa, com sete petições (Mt 6,9ss), o qual
usamos para nossa oração. O Pai-Nosso é chamado oração dominical e oração do
Senhor, porque foi uma oração revelada pelo próprio Jesus Cristo. A primeira
parte do “Pai-Nosso” é um pôr-se na presença de Deus nosso Pai. A segunda
parte são as petições em relação a nossas necessidades.
Rezar “Pai-Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu
nome; venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no
céu” é pôr-se na presença de Deus Pai para
adorá-Lo, amá-Lo e bendizê-Lo.
Aos 12 anos, Jesus disse à sua
mãe: “Não sabeis que devo ocupar-me com as
coisas de meu Pai?” (Lc 2,49). Já com 12
anos, Jesus supera a tradição judaica. Ele não se refere a Deus como Javé, El
Shaday ou Senhor dos Exércitos. Ele deixa a antiga tradição e já começa a
chamar Deus de Pai. Ao ensinar os apóstolos a rezar, Jesus começa com Pai; isso
demonstra que essa palavra já fazia parte do cotidiano. Ele verbaliza o que a
sua filiação sentia.
Chamar Deus de Pai é uma
ousadia filial, e Deus quer que sejamos ousados como filhos, porque o filho não
tem medidas, ele pede, implora, chora, grita, mas não desiste. Somos
autorizados por Jesus a ter essa ousadia, pois não estamos nos relacionando com
um Deus abstrato. Jesus estabelece uma relação íntima, entre nós e o Pai.
“Pai-Nosso que estais nos céus” é um
apelo de conversão de vida, porque chamar Deus de Pai nos coloca numa atitude
de nos parecermos com Ele. Quando Jesus diz “Pai
nosso”, e não “Pai meu”, Ele quebra
toda possibilidade de exclusão do outro no processo da salvação. Ao rezarmos “Pai-Nosso”, entramos
em profunda comunhão com os irmãos crentes ou não crentes, com aqueles que já
encontraram Deus e com aqueles que não O encontraram ainda. Incluímos os justos
e pecadores. Dizer Pai-Nosso é sair do individualismo. É compreender que o amor
de Deus é sem fronteira e nossa oração também deve ser assim.
(*) Fundador e presidente da
Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de
Guadalupe, em Curitiba (PR).
Fonte: O Povo, de 3/7/2017.
Opinião. p.17.
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