Por Ana Maria Fontenele (*)
Somos formados tradicionalmente pelo princípio da escolha e da racionalidade nesta escolha
A
história da Economia confunde-se com a história das civilizações. Desde o marco
de sua criação como ciência, com a investigação smithiana sobre as razões da
riqueza das nações, sua trajetória é marcada a partir do que conceituo como
“tombamentos teóricos” que também definem ações fundamentadas em visões de
mundo, as mais diversas. Dessa forma, marcamos o trajeto das teorias inseridas
nos diversos paradigmas.
A história da Economia confunde-se também com a história
da Política, intrinsecamente ligada a história das civilizações. A trajetória
da Economia Política como ciência define e também é consequência da vida em
sociedade e é marcada pelas visões de mundo daqueles que põem em prática a
política e, em consequência, a política econômica. Neste ambiente, como atores
protagonistas, estamos nós, os economistas. Dessa forma, marcamos o percurso
vivido por nossa sociedade.
A história da Economia também segue a história da ética.
Neste percurso, aprendemos que a felicidade pessoal não é mais importante que a
felicidade dos demais. Assim, marcamos nossos limites como economistas.
Por nossas decisões, provocamos eventos espetaculares em
ciclos de crescimento que elevam a qualidade de vida, que reduzem a
desigualdade, que ampliam a felicidade e que incluem. No entanto, às vezes,
fazemos opções por processos depressivos que retiram a dignidade conquistada,
que expulsam o emprego, que excluem. Em um e em outro caso, sabemos a quem
servimos. Em um e em outro caso, fazemos opções, somos economistas.
Somos formados tradicionalmente pelo princípio da escolha
e da racionalidade nesta escolha. Este é apenas um aspecto. Somos formados
para, mesmo atuando em ambientes específicos, termos a visão da totalidade para
absorvermos a centralidade e, para em busca desses objetivos, desenhar
prováveis saídas. Assim, vamos interpretando o mundo e suas manifestações, mas
não podemos nos alijar do papel de transformá-lo, desviá-lo para algo que
achamos melhor, somos economistas.
Neste dia dedicado aos economistas, celebramos nosso
ecletismo na formação, celebramos a diversidade de nossas concepções e nossa
capacidade de atuar nas mais diversas atividades. No entanto, nos cabe um
alerta: precisamos garantir formação humanística e priorizarmos a transformação
do mundo retirando a máscara frágil que afirma que, cada um, ao buscar o melhor
para si, estará produzindo o bem-estar de todos. Afinal, somos economistas!
(*) Economista,
professora da Universidade Federal do Ceará e doutora em Economia pela USP.
Fonte: O Povo, de 12/08/2017. Opinião.
p.11.
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