Por Lauro Chaves Neto (*)
A economia brasileira entrou em recessão após o
ciclo de lento crescimento (2017-2019) que ainda não havia recuperado os
patamares de atividade anteriores à crise (2014-2016), o cenário, no entanto,
prevê que ela será mais curta, porém com uma queda dramática, talvez o maior
tombo da série histórica.
Se os dados do primeiro trimestre já estavam bem
abaixo do esperado, no segundo trimestre, devido às medidas de isolamento
social, em muitos locais com lockdown, os números são dramáticos.
A datação mensal dos indicadores de recessão aponta
o recorde nos 33 meses entre 2014 e 2016, sendo a segunda maior a de 30 meses
entre 1989 e 1992. Já a de maior intensidade foi a queda acumulada de mais de
8% do PIB de 2014 a 2016, taxa que poderá ser superada em 2020.
A OCDE projeta que a economia mundial experimentará
a maior perda de renda desde 1900, com exceção dos anos das duas guerras
mundiais. A ONU estimou que a pandemia colocará 420 milhões de pessoas de volta
à extrema pobreza.
Neste contexto, o mais importante é buscar entender
como ocorrerá a recuperação econômica. O isolamento social atingiu mais
pesadamente o setor de serviços, com predomínio de baixos salários e empregos
precários. Verifica-se que o mercado de ações está em elevação e a renda em
queda, estas contradições contribuem para o aumento na desigualdade, como mais
uma consequência do coronavírus.
Este impacto na desigualdade favoreceu o surgimento
de uma terceira corrente entre os economistas a respeito da recuperação da
economia. Se antes o debate era se a saída da recessão seria em "V"
(queda e recuperação) ou em "L" (queda e estagnação), agora existem
os que acreditam no formato em "K", em que as grandes empresas e os
mais ricos aumentarão a sua parcela na renda, enquanto os pequenos negócios, os
trabalhadores de baixa renda e os informais empobrecerão, aumentando o gap
entre eles.
Espera-se que este custo econômico, como
consequência das medidas adotadas para evitar a propagação do vírus, tenha o
êxito sanitário esperado e que, a partir do segundo semestre de 2020, a
economia brasileira retome a rota de crescimento com redução das
desigualdades.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte:
O Povo,
de 14/7/20. Opinião. p.18.
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