Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Ao
prevenirmo-nos da Covid-19, perigosamente ainda por aqui, perdemos a liberdade
de ir e vir. Muitos ficaram diferentes. Uns agitados, outros tristes. Pessoas
leves tornaram pesadas suas atitudes e mensagens. Algumas, antes lúcidas,
passaram a ser "do contra". Em tom jocoso e com a devida vênia dos
médicos, criei a palavra "pandemiose", a significar "doença
ocasionada pela pandemia".
Gore
Vidal dizia: "A luz se foi, e agora nada mais resta, a não ser esperar por
um novo sol, um novo dia, nascido do mistério do tempo e do amor do homem pela
luz." Inúmeros brasileiros excluídos talvez tenham recebido pouca luz, mas
a sua pobreza foi iluminada de modo a nos mostrar um Brasil desigual, que
necessita ser mais justo.
Ao
contar a amigos algo de bom ocorrido no isolamento, eles também o farão. E
inicio a corrente. Privilegiado, resido num sítio que é parte da história
familiar e lugar preferido de minha mãe, Hildete, quando entre nós. Várias
foram as descobertas no confinamento. Para o professor Marcelo Pena, com um
smartphone ao meu lado, posso perfeitamente trabalhar lá ou cá, ali ou aqui.
Percebi
que o lar não deveria ser só para repouso e refeições, senão, e principalmente,
para convivência com familiares, e fiz de minha casa o meu templo, conforme
ensina um pensamento oriental. Segui meus pais, que, nos almoços, davam-nos
aulas sobre a mais importante disciplina: vida. Li e escrevi bastante. Assisti a
ótimos filmes.
Troquei
ideias com quem lá trabalha. E como aprendi! Exercitei-me tal qual na
juventude, quando "andava de bicicleta" e agora "pedalo na
bike". Admirei as plantas, entre elas uma linda cajazeira, que o médico
César Ponte tanto estima, mesmo sem degustar seus frutos após drinques. Ao
lembrar o professor Carlos Barbosa, apreciei o farfalhar das folhas das
palmeiras. E entendi o porquê do banho da Iracema, de Alencar, na Lagoa de
Messejana. Ao sol, ela banhava-se com a água, que nos dá a vida, e esta, por
sua vez, renovava-se com a brisa de Messejana.
E
como o sol também nos concede vida, que tal cada um de nós se fazer a seguinte
pergunta? O que me tornou melhor na quarentena?
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 10/09/20. p.16.
Nenhum comentário:
Postar um comentário