Por Tomaz Crochemore (*)
Todos os dias, mulheres morrem no Brasil e
no mundo devido a hemorragias graves durante o parto. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), o sangramento pós-parto é a principal causa de morte
materna no planeta — mesmo sendo, na maioria das vezes, evitável.
As causas incluem falha na contração do
útero, cesáreas de emergência, distúrbios da coagulação e atrasos no
diagnóstico. Estima-se que, só em 2021, mais de 60 mil brasileiras enfrentaram
hemorragias graves no parto. A falta de preparo das equipes e a ausência de
recursos diagnósticos imediatos comprometeram muitos desfechos.
Com o reconhecimento da OMS sobre a
importância do conceito PBM (Patient Blood Management — Gerenciamento do Sangue
do Paciente), a medicina de precisão permite hoje individualizar o tratamento
do sangramento com base em testes modernos realizados à beira do leito.
Os chamados testes viscoelásticos do sangue
funcionam como um “mapa” da coagulação: mostram qual etapa está comprometida e
guiam a escolha do tratamento ideal através do uso de medicamentos hemostáticos
e produtos derivados do sangue — como, por exemplo, ácido tranexâmico ou
concentrado de fibrinogênio. Desta forma, é possível definir o diagnóstico mais
cedo, e aumentarmos a eficácia terapêutica, reduzindo, inclusive, o uso
desnecessário de transfusões.
A adoção do PBM traz benefícios concretos e
imediatos para a prática clínica. Para os médicos, representa maior segurança
na tomada de decisão, com base em dados objetivos da coagulação, alinhados ao
conceito de medicina de precisão — ou seja, conforme a necessidade de cada
paciente. Com isso, é possível evitar tanto intervenções excessivas quanto
atrasos no tratamento.
Para as pacientes, o impacto é ainda mais
direto: menor risco de complicações, menos transfusões, menor tempo de
internação e maior chance de recuperação plena. Em centros que aplicam o PBM de
forma estruturada, a mortalidade materna por hemorragia vem diminuindo
significativamente, evidenciando que essa abordagem é um verdadeiro divisor de
águas no cuidado obstétrico.
Reduzir a mortalidade materna por
sangramento exige treinamento de toda equipe multiprofissional, acesso à
tecnologia diagnóstica, medicamentos hemostáticos e protocolos bem definidos.
Cada minuto conta. E cada vida importa.
(*) Médico
intensivista. Diretor médico na Werfen, mestre e doutor em Ciências da Saúde e
pesquisador em coagulação.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/08/2025. Opinião. p.18.
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