Longe de quem trabalha, perto de quem come
Pra
pobre (lascado na forma da lei), é uma "lembrancinha", principalmente
quando ele dá; pro rico (barãozão, cheio da pila), um "gift",
tradução elegante de "homenagem, oferta, agrado, presente especial,
delicadeza, tributo, reconhecimento". Presente é, sim, expressão de afeto,
sobretudo quando ofertado em seguida a palavras de carinho, um abraço caloroso,
um "você é peixe, me importo contigo". Não substitui o toque amoroso
do cuidado, mas é melhor presentear com uma rapadura de coco que com o diabo do
nada.
Já
recebi e dei roupa que ganhei - às vezes tendo já sido usada; fofolete, pacote
de bolacha Maria, casal de pinto novo colorido, espiga de milho assada (na
palha), livro do grande Procópio Straus, caneta BIC pela metade. E ainda
calendário do ano passado - só por causa das fotos do Roberto Carlos e da
Vanderléa, bola Rivelino com problema no pito, jogo de lenço de pano com a
letra G, quartinha e vale-transporte. Contudo, entre todos os presentes de que
tenho notícia, um acolá chamou a atenção.
Jair
Moraes, Poeta dos Cachorros da Vila União, recebeu do zabumbeiro Michael
Jackson, nos 65 anos "interados", um caixão (ataúde, esquife,
féretro) adesivado com a logo do Ferrim. E um cartãozinho gentil: "Nunca
se sabe o dia de amanhã...".
Em
tempo: O caixão era pra sogra do zabumbeiro, que, às portas da morte, ganhou da
família a urna funerária novinha em folha. "Mas a véa achou de não morrer
daquela mazela no 'rins', Jair. Tá vivinha. Me deram pra eu guardar lá em casa,
mas era teu aniversário e eu me lembrei do amigo".
-
Amigo do carvalho, Michael Jackson! Tire isso daqui!!!
Computador fofoqueiro
E
o Core i9 com RTX 306 - computador de última geração chegou à longínqua zona
rural da Lagoa de Dentro. Estamos no Sindicato dos Trabalhadores na
Agricultura. Na fila do recadastramento, seu Bobó, conhecido por dar uma
voltinha no mulherio sem carecer de tomar Viagra, useiro e vezereiro da prática
pulativa de cerca.
-
Deixo a caixa no bolso só pro meu 'valente rapaz' lamber os beiço.
Bobó,
velho brabo, de frente pra mocinha atendente do Sindicato, enfim.
-
Nome?
-
Bobó, 'apilídio' de Raimundo Leopoldo.
-
Muito bem, seu Raimundo Leopoldo Vieira Neves. Vejamos aqui...
A
funcionária do Sindicato acessa a ficha de Bobó e busca do velho confirmações
para o que está posto. "Tem 78 anos e sete meses, é viúvo de dona Telma
Ramos, mora na Rua 15, casa 29, cursou a..."
-
E é alérgico a leite, certo?
-
Cuma num havéra de sê, dona!
-
Bem, sua última ocupação foi no cartório de registros. É isso?
-
Ôxe! Cuma a senhora sabe tanta coisa d'eu?
-
O computador tá dizendo aqui.
Bobó,
depois doutros surpreendentes dados pessoais, sai 'dicretado' pra casa,
horrorizado. Encontra a filha Presbiterina preparando o almoço e dispara:
-
Já tinha 'ouvisto' muita gente fofoqueira, mas cuma esse computador do
Sindicato, nããã!
Menino querendo se governar
Afilhado
de 10 anos - Bruno Parcifal - manda bilhete questionador ao Jair Moraes,
referindo-se às madeixas sedosas do Poeta, nesses termos - exatamente como
escrito: "Tio, seja 'símcero': como o senhor faz para manter seus cabelos
sempre sebosos?"
Fonte: O POVO, de 15/08/2025. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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