quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sim, mas quem não tem problemas?

Por Ricardo Alcântara (*)
Já escrevi aqui: depois de furar uma montanha com as unhas na primeira eleição e atravessar a nado a tempestade da segunda, Luizianne Lins passou a superestimar sua reconhecida astúcia política. Julga-se invencível? É quase sempre neste capítulo da novela que o encouraçado naufraga.
Mais uma vez, ela optou por uma decisão fora da margem de segurança, ao indicar um candidato desconhecido para representar a continuidade de uma administração mal avaliada pela população. Foi como apontar aos aliados a porta da rua. Não deu outra: fuga em massa.
Até aqui, 15 dias antes das convenções que carimbam os passaportes das candidaturas, o fator que colocou em movimento todas as articulações eleitorais foi este: a combinação de risco entre uma gestão municipal com baixa popularidade e um candidato identificado com ela por inteiro.
Agora que a indicação da prefeita, personificada em Elmano de Freitas, se impôs como aquilo que o velho Ulisses Guimarães chamava de “sua excelência, os fatos”, é boa a oportunidade para se perguntar, observando as circunstâncias das outras candidaturas: qual delas não tem seus problemas?
Moroni – O discurso monocórdio em favor da Segurança já não tem o mesmo impacto de dez anos atrás. Suas taxas de rejeição são altas. Ainda faltam a ele apoios que lhe garantam tempo adequado de propaganda na televisão. Há quatro anos o xerife não anda pelas ruas. Não é perfil de favorito.
Inácio – Se não for nutrido como candidato alternativo do governador, terá diminuto tempo de televisão. Oposição à prefeita? Esteve por lá até poucos dias. Seu mandato de senador não agregou muito à sua imagem. Votação dos inativos, ministério dos Esportes? Problemas à vista.
Cals – Herda a brutal rejeição do seu partido na capital. Pior: nem o partido o deseja. Em longa vida parlamentar, nada fez de muito lembrado. O Lula faria qualquer coisa para ferrar um tucano. Ser bom sujeito e ter programa é pouco para uma campanha tão disputada. O Meireles não elege prefeito.
Heitor – Candidato e partido falam línguas diferentes: a cúpula, mimada pelo governador que ele detona, combate a prefeita que ele tanto poupa. Precisará alargar muito sua base de apoio para alcançar a periferia. O partido não costuma profissionalizar na medida suficiente suas campanhas.
Poste do PSB – Quem for indicado inicia com um patamar mínimo de conhecimento. As pesquisas não carimbam o governador como notável transferidor de votos. Agora, o palanque do Lula é outro. Sim, tem aquelas cenas de sangue na Assembleia e o alto índice de criminalidade na capital. Chega?
Roseno – Terá um minuto para dizer “meu nome é Renato”. Acima de 30 anos, quem já votou nele? Estar além do próprio meio poderia ser ótimo: ao contrário, é sua sentença. Como diriam velhos bolcheviques antes de ferrar um camarada, “sua mensagem é incompreensível para as massas”.
Claro, nada do que foi descrito acima define nenhuma candidatura. Há também aspectos favoráveis em todas elas. Apenas destaca os desafios que as aguardam, alguns deles de proporções não inferiores aos que terão de ser superados pelo candidato da prefeita, Elmano de Freitas.
De tudo, pode-se até o momento assegurar bem pouco: não tem bezerro premiado, nem galinha morta. Quem não estiver bem estruturado, posicionado de modo consistente, em condições de fazer leituras corretas e dar respostas criativas que vá logo negociando seu apoio de segundo turno.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.

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