Está comprovado
que o clube de futebol que possui o maior número de jogadores é o Coceira
Futebol Clube. Já não é nem mais um clube, já é uma irmandade internacional.
São poucos os jogadores que não pertencem a esse conglomerado de atletas. É
muito fácil identificar aqueles que fazem parte do Coceira. Basta aproximar um
microfone do atleta que ele vai logo se identificando. Se ele se coçar, e quase
sempre acontece, é porque pertence ao Coceira Futebol Clube.
O Coceira, como
é vulgarmente chamado, não possui sede nem diretoria, nem estatuto. E pior, não
possui nem torcida, mas é o maior clube do mundo e sai dos gramados, passa
pelas salas de entrevistas, entra pelos canais de comunicação e invade nossas
casas a qualquer hora, com tanta coceira que já há muito torcedor contaminado
com a moda de se coçar atleticamente. Já é comum encontrar em reuniões sociais,
pessoas, homem, principalmente, que se coçam como se atletas fossem.
Já foram
consultados até cientistas de renome ao lado de pangarés do pensamento, mas não
se chegou ainda a uma conclusão convincente e única sobre o fenômeno. Um
psicólogo quase alcoólatra chegou a afirmar que é tudo uma questão de
nervosismo. Disse que, segundo Lacan, esse tipo de manifestação externa é a
metáfora, o sintoma de uma realidade interna que o atleta não revela. Essa
teoria foi contestada por um atleta amador, segundo o qual, no seu tempo de
atividade futebolística, ele se coçava por causa de um tipo de mucuim de grama.
Essa teoria, em
seguida, foi contestada pelos torcedores do futsal. Afinal os atletas de quadra
também se coçam e não têm contato com grama. Uma dona de casa e mãe de 14
meninos concluiu, na pesquisa, que é tudo uma questão de sujeira. Segundo ela,
quando o suor aflora, tudo que é piolho, lêndea, pixilinga e pulga começam a se
movimentar incomodados e se vingam no couro cabeludo do coitado do atleta. Ao
seu lado uma vizinha, disse que, no caso, era só usar Neocid, que matava tudo.
Fato é que já
há um pesquisador de universidade estrangeira, propenso a pesquisar para tese
de doutoramento o real motivo de tanta coceira. Acha ele que essa mania é
infecciosa pois já há muita gente, fora das quatro linhas do profissionalismo,
com esse sestro incorrigível. Já flagraram um coronel se coçando em plena
solenidade de formatura, um cardeal em celebração religiosa e um faquir que de
tanto se coçar, esqueceu a cobra e foi mordido por ela.
Fato é que a
grande imprensa já olha de trivela para o fenômeno, pelo medo da contaminação
em repórteres e cinegrafistas. Os otorrinos estão “lavando a burra” com esse
surto, pois a mania de coçar o ouvido com o dedo mindinho termina por
transformá-lo em cotonete e empurrar o cerol do ouvido para os tímpanos, o que
leva à necessidade de limpeza médica. É grande a presença de atletas nessas
clínicas com problemas de audição. Prova é que, em campo, às vezes, o juiz
apita e alguns não ouvem nada.
Um cientista
europeu embrenhou-se nos rincões da África e apoiando-se nas teorias
evolucionistas de Darwin concluiu que a origem de toda a coceira humana é
proveniente dos nossos ancestrais macacos. Depois afirmou que o crescimento do
futebol africano e a consequente exportação dos seus melhores atletas fez com
que a coceira ancestral se disseminasse no mundo inteiro como um prognóstico da
aldeia global definitiva em que estamos. O coitado foi preso por racismo e essa
teoria já foi posta em prática por alguns torcedores que estão sendo
processados ou presos.
Finalmente,
pode-se dizer que a polêmica sobre o assunto vai durar muito ainda. Para o
torcedor, no entanto, não importa se o jogador se coça, se tira a camisa quando
faz o gol, para melhor se coçar e espantar os mucuins. Fato é que a coceira
existe e é real. Mesmo depois do banho nos intervalos e nos finais de jogo, ela
continua atazanando os atletas. É tanto que já estão inventando um sabonete
especial, acompanhado de um xampu antisséptico que vai ser o fim da coceira.
Para especialistas em marketing, isso é apenas jogada comercial, afinal, não há
nada escrito nos códigos do Direito que proiba alguém de se coçar, isso desde o
bicho de pé, passando pela frieira, coçar-se pode se transformar num gostoso
prazer.
(*) Professor da Unifor e da Uece e membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Diário do Nordeste/Caderno3, de 6/01/2015.
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