Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O consumismo é tido como um dos grandes problemas da vida
moderna. Ele causa não apenas transtornos financeiros, mas, afeta também, o
psicológico das pessoas. Existem, por exemplo, pessoas compulsivas por comida,
luxo, sexo ou poder; e existem aquelas que necessitam comprar qualquer coisa,
para satisfazer o mecanismo de compensação e sua compulsão. Hoje, muitas
pessoas têm depressão, e um dos motivos disso é a perda da própria essência.
Dito de outra maneira, elas "abraçam" as coisas do mundo, mas,
esquecem de si mesmas.
Em determinadas circunstâncias, elas podem se comportar
de forma infantil, impensada, movidas inteiramente pelos impulsos. Não se
tratam de seres "infantilizados", porém, de pessoas que, apenas em
algumas situações, agem de forma inadequada, como se fossem crianças,
obedecendo somente à sua impulsividade e sem qualquer discernimento.
Posteriormente, têm consciência de seu comportamento, e
se sentem até incomodadas por ele, mas não conseguem evitar que se repita:
acabam não enxergando a vida, ou não a aproveitando, como ela merece. Tudo isto
é explorado pela propaganda desvirtuada.
No presente, a palavra de ordem é virtualidade. Tudo é
virtual: até o amor e a atração sexual passaram a ser virtuais. Penetramos na
virtualidade de todos os valores, onde não há compromisso com o real. Passamos
a ser ainda cidadãos virtuais, e ficamos à mercê da propaganda. Nela,
"possuir" algo, dirigir tal carro, tomar tal refrigerante, usar tal artigo
de grife, é mais importante do que "ser". E, mesmo depois de
consumirmos, o resultado final não traz a felicidade propalada. É a civilização
da imbecilidade!
Tenho a impressão de que ficamos, a cada dia, menos
cultos. Os psicanalistas e psicoterapeutas tentam descobrir o que fazer com os
desejos de seus pacientes. Eu, que trabalho nessa área, gostaria de oferecer
uma sugestão: o grande desafio é gostar de si mesmo, e ver como é bom ser livre
de todo esse condicionamento globalizante.
Muitas vezes, passeando pelos shoppings, digo aos
vendedores, que me assediam para comprar: Estou apenas fazendo a minha
higiene mental! Diante de seus olhares espantados, explico que estou
parafraseando Sócrates, o filósofo grego do século IV a.C. A verdade é que
gosto de tranquilizar minha alma, percorrendo o "Centro Comercial de
Atenas". E, caso os vendedores continuem insistindo comigo, ressalto: Estou apenas observando quantas coisas
existem, e que delas não preciso para ser feliz!
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros
neonatologistas brasileiros.
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