quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

CASTIGO DE DEUS

Por Carlos Viana (*)

Na última semana, a vereadora de Arcoverde (PE), Zirleide Monteiro (PTB), afirmou que uma mulher da cidade teve um filho autista como "castigo de Deus".

A fala da parlamentar nos faz remontar a época da Idade Média, quando a Igreja afirmava que pessoas com deficiência eram fruto do pecado, e que tinham o diabo no corpo. Com esse discurso, muitas pessoas com deficiência foram perseguidas durante a Idade Média, sofrendo inúmeros tipos de violência, como física, psicológica e sexual. Sem falar, claro, que muitas pessoas com deficiência por, segundo a Igreja, terem o diabo no corpo, terem sido queimadas vivas nas fogueiras da inquisição.

É inegável que o Brasil, nos últimos anos, vem vendo discursos capacitistas contra pessoas com deficiência aumentando. Muitos desses discursos, a exemplo do que aconteceu na Idade Média, são proferidos por pessoas ligadas a setores mais radicais de algumas igrejas.

Não sei qual a religião de Zirleide Monteiro, mas seu discurso inflamado mostra que esse tipo de pensamento capacitista é cada vez mais comum no Brasil.

Eu mesmo, enquanto pessoa com deficiência, já sofri inúmeros preconceitos e ouvi falas capacitistas. Em muitos casos, a pessoa em questão dizia que eu tinha que buscar uma igreja para "me curar" e encontrar a salvação.

Importante ressaltar que a deficiência não é uma doença, mas sim a condição de uma pessoa. Dizer que uma pessoa com deficiência "precisa ser curada" é extremamente desrespeitoso e grosseiro.

Mas Zirleide não é a única parlamentar a usar a tribuna para proferir discursos contra pessoas com deficiência. Há poucos meses o vereador e presidente da Câmara de Jucas, Eúdes Lucas (PDT), disse que autismo se curava na "chibata".

O pseudo humorista Leo Lins também se junta ao time. Atualmente ele responde na Justiça processos por piadas racistas e capacitistas contra pessoas negras e com deficiência. Rafinha Bastos também é outro que usou sua fama para estimular o preconceito. Ele já chamou pessoas com síndrome de Down de "ridículas".

Que tal se essas pessoas utilizassem sua fama ou, no caso dos parlamentares, a tribuna, para passarem informações que contribuam para uma sociedade mais  nclusiva? Fica a dica.

(*) Jornalista. Repórter do Núcleo de Opinião do jornal O POVO.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/11/23. Opinião, p.18.

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