Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Em agosto de 2011, após introdução à literatura pelo
professor Pedro Paulo Montenegro, e secundando considerações sobre o livro
(prof. João Evangelista Bezerra), e o binômio medicina e literatura (profs.
Murilo Martins e PHSL), Machado de Assis foi evocado pelo prof. Lúcio
Alcântara. No ano seguinte Vargas Llosa, Lima Barreto, Rachel de Queiroz,
Fernando Pessoa e Guimarães Rosa foram igualmente examinados por respeitável
junta de professores de literatura, os quais dissecaram-lhes a obra comprovando
sua imortalidade.
Tais sessões, para uma média de 65 espectadores,
ocorreram nos cursos destinados a médicos – os “Unimedlits” – da novel Célula
de Cultura da Unimed Fortaleza, esta, no Brasil, a única a dispor de setor
dedicado à divulgação cultural. Como subsídio para erudição do médico, o cinema
também foi usado, em duas exibições do “Unimedcine” (ler Maria Preta, O POVO,
23/5/2012). Vale repetida a histórica afinidade entre medicina e literatura,
desde as primeiras descrições de ferimentos cirúrgicos por Homero, nos poemas
épicos “Ilíada” e “Odisseia”; e Apolo, pai dos poetas, era pai de Asclépios, em
seu santuário de Delfos. Há muito, pois, reconhece-se o valor da leitura de
ficção como tônico da competência humana dos facultativos, enriquecendo seu
raciocínio e o discernimento diagnóstico.
Atestando este intimo parentesco, com frequência vimos
nos ocupando neste jornal: Há que ler, há que ler (10/11/2007), Literatura para
médicos? (11/3/2009), 1º Unimedilit (22/4/2011), Biblos (15/8/2012), Airton
Monte (10/10/2012), Literapia (27/2/2013), Blume (24/4/2013), Medicina
humanística (14/8/2013). Os leitores interessados poderiam (re)lê-los! Ali nos
referimos a médicos também figuras solares da literatura mundial, e sublinhamos
Chekhov (A Enfermaria Número Seis), A.J.Cronin (A Cidadela), Avel Munthe (O
Livro de San Michele), Conan Doyle, criador do famoso Sherlock Holmes.
Incluímos os brasileiros, culminando com o imortal Moacyr Scliar.
Em alguns países agremiações reúnem médicos escritores, e
no Brasil, desde 1965 funciona a Sobrames (Sociedade Brasileira de Médicos
Escritores), fundada em São Paulo pelo doutor Eurico Branco Ribeiro,
paranaense. As Sobrames operam em vários estados, sendo significativas em São
Paulo, Pernambuco e a nossa, cearense, a qual tive a honra de presidir, antes
de sê-lo da sua homônima nacional.
A importância de tão germano relacionamento motivou o
ensino do binômio medicina / literatura em faculdades norte-americanas, desde
1972, exemplo adotado no Brasil, em Santa Catarina, em 2011. Também cogitamos
disto, incentivando a criação de disciplina semelhante na Faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Ceará. Para incentivar e acolher a produção
literária dos colegas, em abril último, criamos a “Blume” (Biblioteca
Unimédicos Escritores), e homenageamos nosso excepcional cronista Airton Monte.
Os novos diretores dessa Unimed, preocupados tão somente
com preços, ignoraram o valor dessas promoções, e de pronto, extinguiram a
Célula de Cultura. inviabilizando o III Unimedlit, programado para setembro
próximo. Mas, como dizia o alemão Schiller: “Gegen die Dumheitkampfen die Götter
vergebens”!
(*) Médico,
ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 27/8/2014. p.8.
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