Médico-Psicoterapeuta
De quando em vez
surpreendo-me com coisas que já sei. Desta vez foi com a pesquisa de julho de
2010 do Tribunal Eleitoral sobre o nível da escolaridade do eleitor brasileiro.
Se não, vejamos: de um total de 135,8 milhões de votantes, 5,9% são
analfabetos, 35% informaram saber ler e escrever, mas a maioria não concluiu o
primeiro grau escolar, o que significa que não frequentaram escola e
provavelmente não sabem interpretar textos.
Apesar de concordar com a
ideia de que o processo democrático é algo dinâmico e em constante
aperfeiçoamento, enquanto os regimes ditatoriais são estáticos e donos de uma
verdade que é a do ditador, acredito no que ensina o sociólogo alemão Max Weber
(1864-1920): "A Democracia é a
melhor forma de governo, porém possui o seu calcanhar de Aquiles. É o seu
colégio eleitoral".
Continuo.
O voto de curral era a
expressão empregada para designar o sistema eleitoral onde a eleição era
manipulada pelos Coronéis, figuras que detinham o poder social e político em
diversas regiões do País. Não importando a forma de governo central, Brasil
Colonial, Império ou República, quem mandava e desmandava eram esses pequenos
caudilhos. O seu poder assemelhava-se ao feudo medieval, mas em lugar de fossos
e muralhas havia cercas de arame farpado para guardar seus eleitores de
cabresto...
Com o advento da TV e da
eletrônica pensei que muita coisa iria mudar. Mudou sim, mais muito pouco. Nas
grandes cidades - ou na maioria delas - quem manda são os donos da Mídia,
principalmente os donos das cadeias de TV. De um povo cuja cultura vem das
novelas, dos programas de baixo nível, desestruturado, analfabeto, o que se
poderá esperar como resultado eleitoral?
Olhando de determinado
ângulo este tal progresso tecnológico, tenho cá minhas duvidas. Quem sabe com
esses esclarecimentos, venhamos a fazer escolhas piores do que as que fazíamos
antes. Não há mais barreira física contra a informação: onda de rádio, sinal de
televisão ou onde despontam os sinais da Internet com a sua democratização da
informação.
A informação penetra em
todos os lugares e lares. Esboroaram-se os castelos dos nossos antigos
coronéis. E tem mais, pelo andar da carruagem, a cerca do curral e os poderes
dos coronéis estão ultrapassados, mas não deixam de existir - subliminarmente.
Agora o céu é o limite. Ou dizendo de outra maneira: continuamos cercados pelos
arames farpados do analfabetismo, agora intoxicados pelos marqueteiros
eleitoreiros com suas mídias sociais.
Sem Educação e Ensino não
haverá tecnologia que seja capaz de fazer avançar a Democracia Brasileira.
Ficamos no mesmo coronelismo, agora apenas camuflado. Que importa se a urna é
eletrônica, quando a massa eleitoral não tem escola para aprender ou se
esclarecer? Se a cabeça do votante continua desinformada e agora mais confusa.
Para concluir, vou confessar
uma coisa (sem saudosismo piegas). No tempo dos coronéis era tudo mais simples
e havia um folclore mais engraçado. Costumo dizer: sem humor, do que vale
viver? Havia todo um folclore envolvido, cujo centro era, na maioria das vezes,
o chefe político ou o dito coronel. O voto era passado das mãos do coronel para
o eleitor em cédula dobrada e quando o pobre do eleitor queria ver o nome em que
ia votar, o chefe, o capataz ou o cabo eleitoral ou qualquer coisa que o valha
gritava: "Pra que olhar primeiro se você nem sabe ler e depois o voto é
secreto. Você não sabe disso? Seu idiota! Quer ir pro xilindró? Olha o meganha
aí para te prender..."
Agora tudo mudou, graças a
tal da(s) cestas(s) básica (s)???Tenho minhas dúvidas!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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