sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Crônica: “A minha ave de Natal!” ... e outro causo

A minha ave de Natal!

É tudo uma questão de bom senso, com uma coisinha de nada de audição melhor para que o todo seja melhor compreendido.

Morávamos em São Gerardo, perto da igreja homônima. Casa de esquina, minissítio que ia duma ponta a outra do quarteirão, entre as ruas Dom Rego (hoje Dom Manuel) de Medeiros e Azevedo Bolão. Por esse tempo, meu avô Simão Emídio, já velhinho, tinha propriedade em Caucaia, no Buriti, proximidades do Garrote.

Todo começo de mês de lá vinha à cidade o caseiro seu Chicó, trazendo para o "patrãozim" os frutos melhores do terreno, no lombo duma burra - da manga e da rapadura ao murici, à siriguela e à galinha caipira viva. Chegava cedo pra cedo voltar; viagem longa e sacrificosa.

⁃ Cumpade Simão, cumade Mariinha, bom dia!

- Bom dia, Chicó! Disapêie o animal, bote abaixo a mercadoria, almoce e descanse... - pedia vovô alegre.

Começo de dezembro de 1969, eu era menino, mas lembro bem, seu Chicó, ao despedir-se, montado já na alimária, pede otimista à vovó, igualmente velhinha, precária das ôiças:

- Minha cumade, volto aqui no dia 23 do corrente pra trazer umas cajás... Não esqueça minha áve de Natal, viu?!?

- Tá certo, Chicó! Vá com Deus e pomba do Divino, que é branca!

Por que Chicó pediu a "ave de Natal"? Dona Eloísa, bodegueira vizinha dos meus avós, tinha novidade em seu estabelecimento, o que chamou visceralmente a atenção do caseiro de vovô: árvores de Natal belíssimas, enfeitadas de bolas vermelhas e estrelas amarelas, com lâmpadas piscando e até neve. Chicó, passando por lá pra tomar uma bicada, viu a coisa e se encantou.

No dito dia 23/12/1969, tal como combinado pelo caucaiense humilde para trazer "as festas" dos patrões e pegar as dele, como foi ele recebido por vovó? Com uma "galinha cheia" (assada e cheia de farofa dentro). Chicó se espanta.

- Beisso, cumade Mariinha?

- Tua ave de Natal, Chicó!

- Mas eu falei áve!!!

- E a galinha é o quê?

- Uma ave!

- Ave de póbi é galinha, peru é pra povo rico!

- A áve que eu falei é que nem a da dona Eloísa!

Vovô, ouvindo a conversa atravessada, entendeu tudo. E foi comprar a árvore de Natal que seu Chicó tanto queria, na dona Eloísa.

Essa é do amigo Giovani Oliveira

Toinho, oito anos, morador do Tabuleiro, foi acompanhado da mãe, na véspera do Natal, à casa de sua madrinha, senhora conhecida por ser rica e muito mesquinha. Lá chegando, o menino toma a bênção e a madrinha, logo após, se retira por alguns instantes. O afilhado, pensando que ela havia ido buscar seu presente natalino, fica surpreso quando a observa com um pedaço de pão seco, e lhe entrega o mimo. A mãe de Toinho, que assistia a tudo, fala pro filhote:

- Toinho, meu filho, como é que a gente diz?

- Madrinha, não tem uma manteiguinha aí não?

Fonte: O POVO, de 24/12/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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