Por Henrique Soárez (*)
Em um mercado competitivo, nem compradores nem vendedores têm o
poder de determinar os preços: eles serão definidos pela relação entre oferta e
demanda. Em uma grande economia como a brasileira os principais preços
são o câmbio e os juros. Estes dois preços não são independentes pois o
crescimento esperado da economia os vincula entre si. Se esperamos que nossa
economia irá crescer mais que a economia global então o real irá apreciar, se
nossa economia cresce mais que a dívida pública então o juro cai (por que o governo
passa a demandar menos reais para se financiar). O Tesouro
Nacional está longe de ser um comprador qualquer de crédito, mas isso não
afasta a hipótese da competitividade do mercado. Já o Banco Central tem o poder
de interferir nos preços do crédito e faz isso com o objetivo de preservar a
estabilidade da moeda.
As expectativas também afetam os preços. A partir do início
do governo Temer o mercado acreditou que dias melhores viriam: saímos
de juros anuais de 14,15% até inacreditáveis 2,25%. Esta expectativa durou até
o início da pandemia. Os gastos públicos impostos pelo combate ao
vírus causaram expansão monetária e surtos inflacionários em todo o planeta. No
nosso país os juros subiram rapidamente buscando coibir a inflação, mas
permaneceram na estratosfera para lidar com a indisciplina fiscal que costuma
anteceder as eleições federais.
O governo Lula 3 não demonstrou compromisso algum com
o equilíbrio fiscal e assim impediu a queda dos juros. Para o Banco
Central, a necessidade de financiar o Estado (à luz da expectativa de
descontrole) passou a representar a principal ameaça à estabilidade da moeda. O
presidente foge da discussão preferindo minar a independência do
Banco Central e assim retarda ainda mais a queda dos juros (são as expectativas,
lembram?).
Poderíamos estar caminhando para integrar a OCDE, mas corremos
o risco de retroagir nas regras mais básicas de administração macroeconômica.
Os rentistas se abrigam no CDI, as empresas entram em recuperação judicial, e a
população sofre nas garras da inflação e do desemprego.
(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da
Uni7.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/02/23. Opinião, p.20.
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