segunda-feira, 28 de agosto de 2023

JUROS E INFLAÇÃO

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Entendemos por política monetária a fixação de determinados instrumentos pelas autoridades, visando ao controle dos meios de pagamentos. Dessa maneira, o objetivo básico é influenciar o nível de oferta de moeda, mediante mecanismos expansionistas ou contracionistas. Ao longo do tempo, aqui no Brasil, foram usados instrumentos como as operações de redesconto e de mercado aberto, os recolhimentos compulsórios, principalmente com relação aos depósitos à vista e as modificações diretas nas taxas de juros. A Utilização desses instrumentos pode variar de governo para governo e de época para época. As dificuldades com a aplicação da política monetária estão associadas à complexidade dos elementos integrantes do mercado financeiro e, notadamente, à existência, quase sempre, de objetivos conflitantes relacionados com crescimento econômico, inflação e emprego. De maneira geral, pode-se dizer que os principais efeitos da política monetária são levados ao setor real da economia por meio de alterações nas taxas de juros e na disponibilidade de crédito. As principais aplicações da política monetária dizem respeito a três situações: tendência deflacionista, tendência inflacionista e déficits orçamentários. No Brasil, nos últimos anos, com receio da volta da inflação, as autoridades vêm adotando políticas contracionistas, ou seja, reduções na oferta de moeda, motivando o desestímulo à produção, à redução do nível de emprego, bem como ao arrefecimento da procura. Vale ressaltar que uma política monetária fortemente antiinflacionária pode levar a economia de um país de uma situação com perspectiva de elevação de preços para uma depressão. Dessa forma, sua aplicação deve ser feita, criteriosamente, levando-se em conta uma dosagem adequada, como também as peculiaridades sociais do país. Por outro lado, acreditamos que a política monetária, isoladamente, apresenta eficiência duvidosa, sendo que sua aplicação deve ser concretizada dentro de uma política econômica ampla, abrangendo componentes fiscais, cambiais etc. Ademais é preciso levar em consideração o tipo de inflação, isto é, se de demanda, de custo ou setorial. Outro ponto significativo, por exemplo, diz respeito à estrutura de passivo das empresas, de vez que unidades pouco capitalizadas necessitam de empréstimos a qualquer taxa de juros, transferindo o custo financeiro para os compradores, o que poderá realimentar um processo inflacionário em vez de conter. Por fim, consideramos, de um lado, ser a inflação um processo circular em que é difícil o estabelecimento de relações de causalidade e, por outro, que a interação existente entre as forças de mercado, mesmo diante de interferências das autoridades governamentais, pode distorcer a sistemática de análise.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, 30/06/2023. Ideias.

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