quarta-feira, 16 de agosto de 2023

VIVA OS MESTRES E MESTRAS DA CULTURA DO CEARÁ!

Por Cláudia Leitão (*)

O social é sempre emergente e, por isso, encontrá-lo é um exercício de revelar o invisível, de mirar o pequeno de uma forma a fazê-lo maior e mais significativo, de conectá-lo com mais vigor na rede. Encontrar o social é, mesmo, um grande exercício de imaginação. Afinal, o desafio da construção de novos mundos a partir do agir na rede, implica na oferta de novos repertórios, de novos atores naturalmente marginalizados e invisibilizados.

A esse respeito, o princípio da biodiversidade cultural é essencial na ampliação dos atores-rede não humanos, fazendo da economia criativa um eixo estratégico para um novo desenvolvimento brasileiro.

Bruno Latour faz um chamamento aos novos coletivos, para que venham socorrer o Ocidente, sobretudo, àqueles considerados arcaicos e pré-modernos. O alerta de Latour, sobre o papel regenerador das comunidades tradicionais que ainda não foram varridas da Terra, em função dos desmandos do Antropoceno, também é uma convocação às epistemologias do Sul, um reconhecimento da pluralidade de seus valores e imaginários essenciais à regeneração dos seres vivos.

"Cessar de modernizar para ecologizar", conforme observa Eduardo Viveiros de Castro, também nos serve de alerta diante do esgotamento dos modos de viver da modernidade-mundo, que perverteu os sentidos do "criar" para os de "destruir", simbolizado pela imagem proposta por Davi Kopenawa, de um céu prestes a cair.

Em um mundo de indiferenças entre seres vivos, somente uma imaginação ativista, oriunda de uma cosmopolítica, pode redimir o planeta de um futuro funesto e trazer de volta os sentidos da Terra para os seres vivos.

Em agosto desse ano, a Lei dos Mestres da Cultura Tradicional Popular do Ceará celebra 20 anos de existência. Tenho imenso orgulho de ter, como secretária de cultura, provocado o Estado a agir na valorização e proteção dos "tesouros vivos". Afinal, são as comunidades tradicionais que integram casa, ofício, religião, trabalho, lazer e cuidados em torno do bem comum, ensinando-nos, sobretudo, a conviver. 

(*) Cientista Social. Ex-secretária de Cultura do Estado do Ceará. Professora da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/07/23. Opinião. p.20.

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