quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CONGELE O SEU FUTURO FÉRTIL

Por Evangelista Torquato (*)

Com tantas campanhas ao longo do ano, ainda encontramos aqueles que consideram a dificuldade de ter filhos um problema menor, que não merece espaço nas políticas de assistência e nos meios de comunicação. Na contramão desse pensamento, os dados mostram que olhar a saúde reprodutiva é urgente e inevitável.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou no último mês de abril um estudo que comprova um fato com o qual nos deparamos todos os dias no consultório: a infertilidade está aumentando. O relatório da OMS alerta que 1 em cada 6 pessoas será afetada pela infertilidade ao longo da vida. Trata-se de um importante problema de saúde pública, que atinge homens e mulheres em todo o mundo, sem distinção de classes sociais. O acesso aos tratamentos, por outro lado, continua desigual.

Aliado a isso, temos, no Brasil, uma diminuição da taxa de fecundidade, que é a medida de quantos filhos as mulheres têm ao longo da sua vida reprodutiva. Segundo dados do IBGE, em 1960, as brasileiras tinham em média 6,28 filhos. Em 2010, essa média caiu para 1,87. A estimativa é que a taxa de fecundidade atinja o patamar de 1,5 em 2030.

O número médio de filhos por mulher vem se reduzindo no Brasil por importantes mudanças culturais, com o aumento da escolaridade, a ampliação do acesso aos métodos contraceptivos e, principalmente, o protagonismo das mulheres no mercado de trabalho. Esses mesmos fatores as levaram a adiar a maternidade. No entanto, as mulheres têm uma reserva ovariana limitada, que vai caindo ao longo da vida reprodutiva.

Engravidar mais tarde impacta negativamente nas chances de gestação natural e no sucesso dos tratamentos de reprodução assistida. A única forma de preservar a fertilidade feminina, diante do tempo ou de um câncer, é o congelamento de óvulos.

Não há silêncio que não termine. Falaremos sobre a infertilidade. Alertaremos as mulheres que sua capacidade reprodutiva é finita e que há alternativas para preservá-la. E, sobretudo, buscaremos tornar a reprodução assistida mais democrática para todos (as). 

(*) Ginecologista com atuação em reprodução humana.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/09/2023. Opinião. p. 18.

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