quinta-feira, 21 de novembro de 2024

AS BETS E O JOGO NO BRASIL

Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)

Não é novidade que o homem sempre gostou de jogar. Assim, já em 1538, foi fundada na França, a primeira Loteria que se tem notícia.

No Brasil, a primeira loteria que começou a funcionar foi em Vila Rica, em 1784, quando a cidade era a capital de Minas Gerais.

A primeira regulamentação sobre as loterias no Brasil foi o Decreto Nº 357, de 27/04/1844, do Imperador D. Pedro II.

A partir dessa data as loterias proliferaram no País. Praticamente, cada Estado criou a sua própria loteria.

A primeira observação que se deve fazer é que o "jogo" foi patrocinado pelo governo, quer monárquico, quer republicano.

Portanto, foi o setor público o primeiro "crupier" deste País.

Como a renda dessa atividade ia para os cofres públicos, logo tal atividade chamou a atenção do setor privado. E aí começou a exploração das loterias estaduais pelo setor privado. Mas parte da renda era transferida para os cofres públicos.

Até para resolver o problema para a manutenção do zoológico o Rio de Janeiro, o Barão João Batista Viana Drummond criou o Jogo do Bicho, em junho de 1892.

Dado o sucesso do empreendimento, logo outros indivíduos começaram a se utilizar dessa invenção para ganhar dinheiro. Foram os famosos "bicheiros".

O Governo, então, não gostou da ideia e determinou que esse tipo de negócio era uma "contravenção".

Portanto, no Brasil, o governo pode ser um "explorador da sorte". O setor privado, não.

Mas, o governo brasileiro permite que as BETs explorem o jogo, pois apostas em qualquer situação não passam de um jogo.

O Governo agora, depois de não se importar com o crescimento enorme do número das que aqui foram instaladas, resolveu limitar o número em, apenas, 89 empresas. E algumas internacionais.

Veja-se dois problemas aqui embutidos: a) primeiro o que chamou a atenção do Governo foi o número de apostadores que recebem o Bolsa Família. A pergunta é: quem aposta em jogo está passando fome? Precisa desse auxílio?

Uma segunda pergunta é por que a existência de cassinos é proibida, mas empreendimentos que lucram com rifas é permitido? Lembremo-nos que os cassinos podem ser fiscalizados, que neles não entram (por falta de "cacife") beneficiários de programas sociais de distribuição de renda; que as rendas transferidas para o governo, via seus lucros, podem voltar para a população (vejam os exemplos dos cassinos de Las Vegas que são a maior fonte de receitas para o Estado de Nevada, ou os de Mônaco, que sustentam um principado).

O argumento contra os cassinos é que eles induzem o cidadão ao vício da jogatina. Este argumento, na realidade, é o mesmo que deveria ser utilizado contra qualquer tipo de jogo. Inclusive loterias. Entretanto, hoje o grande cassino brasileiro se chama Caixa Econômica Federal. 

(*) Economista e professor titular aposentado da UFC,

Fonte: O Povo, de 20/10/24. Opinião. p.18.

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