Por Emanuel
Freitas da Silva (*)
Na manhã do último dia 9, durante uma
live, o todo-poderoso fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd),
Edir Macedo, pronunciou-se sobre a morte do pastor Lucas Di Castro, de 35 anos,
que servia à igreja na Bolívia e tirou sua própria vida.
O tom com o qual se referiu à trágica
morte faz inveja àquele utilizado por Jair Bolsonaro para desdenhar das vidas e
das mortes durante a pandemia: segundo Macedo, que disse que não ia “ficar
chorando a morte da bezerra” para satisfazer “aqueles que vivem com a fé
sentimental”, que vivem “nhem nhem nhem” e que são “fracos, doentes, enfermos”,
cobrando dele um posicionamento, Lucas “nunca foi pastor, nunca foi homem de
deus”.
Numa só declaração: desumanização da vida
humana, deslegitimação da fé e ataque aos “fracos”, a quem sua igreja deveria
ofertar consolo. Imitando seu “mito”, Macedo continuou: “Morreu, morreu.
Acabou. O que eu posso fazer? ‘Ah ele se matou’: problema dele”.
Lembra-nos o “e daí? Não sou coveiro!”.
Talvez, o pior das falas desumanas e anticristãs
de Macedo seja o fato de que elas se deram dois dias depois de a própria Iurd,
por meio de nota publicada no site e nas redes sociais, ter lamentado a
morte do pastor e ter oferecido consolo aos familiares, negando que tenha
deixado o pastor sem os devidos cuidados após pedidos de socorro que teria
solicitado, dado seus problemas de saúde mental.
O tom inadequado adotado ao vivo por
Macedo sugere uma série de pressões internas que o levaram a “explodir”.
Pastores também enfrentam problemas.
Também são fracos. Estão na ponta do serviço prestado pela Iurd. Macedo sabe
disso. Nos últimos anos, mesmo com uma estrutura poderosa sob seus pés
(partido, emissoras de rádio e tv, portais, filmes, editora etc.), sua igreja
tem enfrentado sérios problemas no cenário internacional, inclusive com
expulsão de pastores de Angola, após rompimento interno.
Ao ver Macedo debochar de “fracos,
doentes e enfermos” que vivem uma “fé sentimental”, pus-me a pensar naqueles
que frequentam os bancos da IURD em busca de conforto, salvação e amparo. O que
os pastores devem dizer, à luz da palavra de exortação de Macedo? Terão esses
desvalidos, de fato, lugar na cosmologia da IURD?
(*) Professor adjunto
de teoria política da Uece/Facedi.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 20/08/25.
Opinião. p.20.
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