sexta-feira, 17 de outubro de 2025

FOLCLORE POLÍTICO: Porandubas 849

Totó e Mimi

Para não ir longe, relato um dos episódios ocorridos numa das campanhas políticas, que coordenei em Roraima.

Ficava 15 dias em Boa Vista e 15 dias em SP. Na campanha para prefeito de Boa Vista, em 1996, em uma das minhas voltas para São Paulo, ainda no aeroporto de Congonhas, atendi ao telefonema de meu diretor de campanha, Luiz Fernando Santoro, aflito, nervoso, estressado:

- Torquato: (assim me chamava), volte urgente. Urgente. Nossa campanha está no despenhadeiro. Botaram o gaguinho no programa de Salomão, nosso adversário. (Salomão Cruz, médico, família tradicional no Estado).

O gaguinho aparece na rodoviária, perguntando diversas vezes:

- Quem...qu..em é o vi...ce, quem é o vi...ce, qu...em é o vi...ce?

Explico. O gaguinho era um sujeito folclórico, muito engraçado com sua gagueira. Ottomar Pinto escolhera um empresário, Claudezir Filgueiras, do ramo de venda de automóveis para compor sua chapa. Tinha (tem) o apelido de Mimi. Certamente, pela dificuldade fonética de seu nome. A pergunta do gaguinho acionava o sistema cognitivo do eleitor, despertando suspeição e contrariedade. Ottomar queria usar a prefeitura, elegendo-se prefeito, em 1966, para voltar a ser governador de Roraima dois anos depois, em 1998. E quem iria substituí-lo? Um cara chamado Claudezir. Traição ao eleitor, que teria sido enganado. Iria chegar ao assento no lugar do Totó. Santoro complementava:

- Venha logo, a cidade toda está zoando, rindo, gargalhando com a pergunta marota, gaguejada:

- Quem....quem...qu...em é o vice? Qu...mes...mo?

Perdemos uns bons pontos no índice de intenção de voto. Não tive dúvida. No próprio aeroporto, comprei passagem para Boa Vista, no voo ao final da tarde e me despachei. Manhã seguinte, no sábado, caçamos o gaguinho pelas feiras livres de Boa Vista. Achamos o gaguinho. Levamos o "cabo eleitoral" para uma conversa cheia de promessas. Emprego para ele e família, etc. etc. etc. A muito custo, acedeu. Levamos o gaguinho para a rodoviária. Colocamos nosso festejado gago na mesma posição e no mesmo lugar onde gravara o spot do adversário. Combinei com Mimi, que ele deveria correr para o lugar de gravação na rodoviária. Gaguinho faz a pergunta:

- Quem...qu...em...quem é ..o vice?

Alarga os braços e vira-se para o lado e responde:

- Ah, é meu.eu.... queri...do Mimi. Um..abbra...ço Mimi.

Que aparece sorridente. E não diz nada. Ou seja, aproveitamos a pergunta teaser (chamativa, curiosa) do adversário e demos a resposta. Ganhamos a campanha do Totó e Mimi. À meia noite, despachamos o gago para Santa Elena de Uairén, na fronteira da Venezuela com o Brasil, onde morava uma irmã dele. Só voltou a Boa Vista, após a campanha. Perguntando quase todos os dias se já podia voltar. Voltou como vitorioso.

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/408287/porandubas-n-849

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