Totó e Mimi
Para não
ir longe, relato um dos episódios ocorridos numa das campanhas políticas, que
coordenei em Roraima.
Ficava
15 dias em Boa Vista e 15 dias em SP. Na campanha para prefeito de Boa Vista,
em 1996, em uma das minhas voltas para São Paulo, ainda no aeroporto de
Congonhas, atendi ao telefonema de meu diretor de campanha, Luiz Fernando
Santoro, aflito, nervoso, estressado:
-
Torquato: (assim me chamava), volte urgente. Urgente. Nossa campanha está no
despenhadeiro. Botaram o gaguinho no programa de Salomão, nosso adversário.
(Salomão Cruz, médico, família tradicional no Estado).
O
gaguinho aparece na rodoviária, perguntando diversas vezes:
-
Quem...qu..em é o vi...ce, quem é o vi...ce, qu...em é o vi...ce?
Explico.
O gaguinho era um sujeito folclórico, muito engraçado com sua gagueira. Ottomar
Pinto escolhera um empresário, Claudezir Filgueiras, do ramo de venda de
automóveis para compor sua chapa. Tinha (tem) o apelido de Mimi. Certamente,
pela dificuldade fonética de seu nome. A pergunta do gaguinho acionava o
sistema cognitivo do eleitor, despertando suspeição e contrariedade. Ottomar
queria usar a prefeitura, elegendo-se prefeito, em 1966, para voltar a ser
governador de Roraima dois anos depois, em 1998. E quem iria substituí-lo? Um
cara chamado Claudezir. Traição ao eleitor, que teria sido enganado. Iria
chegar ao assento no lugar do Totó. Santoro complementava:
- Venha
logo, a cidade toda está zoando, rindo, gargalhando com a pergunta marota,
gaguejada:
-
Quem....quem...qu...em é o vice? Qu...mes...mo?
Perdemos
uns bons pontos no índice de intenção de voto. Não tive dúvida. No próprio
aeroporto, comprei passagem para Boa Vista, no voo ao final da tarde e me
despachei. Manhã seguinte, no sábado, caçamos o gaguinho pelas feiras livres de
Boa Vista. Achamos o gaguinho. Levamos o "cabo eleitoral" para uma
conversa cheia de promessas. Emprego para ele e família, etc. etc. etc. A muito
custo, acedeu. Levamos o gaguinho para a rodoviária. Colocamos nosso festejado
gago na mesma posição e no mesmo lugar onde gravara o spot do adversário.
Combinei com Mimi, que ele deveria correr para o lugar de gravação na
rodoviária. Gaguinho faz a pergunta:
-
Quem...qu...em...quem é ..o vice?
Alarga
os braços e vira-se para o lado e responde:
- Ah, é
meu.eu.... queri...do Mimi. Um..abbra...ço Mimi.
Que
aparece sorridente. E não diz nada. Ou seja, aproveitamos a pergunta teaser
(chamativa, curiosa) do adversário e demos a resposta. Ganhamos a campanha do
Totó e Mimi. À meia noite, despachamos o gago para Santa Elena de Uairén, na
fronteira da Venezuela com o Brasil, onde morava uma irmã dele. Só voltou a Boa
Vista, após a campanha. Perguntando quase todos os dias se já podia voltar.
Voltou como vitorioso.
Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).
https://www.migalhas.com.br/coluna/porandubas-politicas/408287/porandubas-n-849
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