Por Emanuel
Freitas da Silva (*)
A busca pela legitimação cada vez mais
ampliada da presença pública das religiões, com destaque para as denominações
evangélicas com representação no Poder Legislativo, tem assumido diversas
facetas. A política, por óbvio, tem sido a mais estridente, antecedida pela
presença, hoje quase hegemônica, em emissoras de rádio e de tv. Já chegaram às
novelas e aos musicais da TV Globo.
Contudo, vai tomando forma uma outra via
de legitimação: a da relação aberta com órgãos de segurança pública. Reuniões
dentro de templos e projetos voltados às forças de segurança, executados por
diversas instituições, têm sido noticiadas nos últimos anos. Para além disso, a
retórica da guerra, da tropa, do exército e das armas configuram uma constante
em hinos, vestimentas e pregações.
No Ceará, ao menos três projetos
legislativos destacam-se por contemplarem essa relação igrejas-forças de
segurança. Tendo como autor o deputado estadual Luiz Henrique (REP), os
projetos de lei 379/2025 e 388/2025 buscam: promover a cultura de paz a partir
dos princípios da fé cristã, valorizando a atuação de igrejas e projetos
missionários, apoiando iniciativas de acolhimento espiritual e garantindo a
livre atuação religiosa em territórios conflagrados pela ação do crime
organizado, facilitando o acesso das igrejas cristãs às políticas públicas de
segurança cidadã e respondendo prioritariamente a denúncias oriundas das
instituições religiosas.
Por sua vez, o projeto de indicação 974/2025,
de autoria do vereador Jânio Henrique (PDT), solicita a “criação de Áreas
Especiais de segurança no entorno de templos religiosos”. Uma nova modalidade
de segurança pública: aquela garantida à segurança dos templos cristãos, que
requer, segundo o texto, “presença de guardas municipais ou apoio da polícia
Militar”, “instalação de câmeras de videomonitoramento”, “sinalização
indicativa de área monitorada e protegida”.
Um conjunto de privilégios que nem mesmo
escolas, unidades de saúde e residências dos cidadãos em geral sonham, um dia,
possuir. Prioridade até para denúncias oriundas de igrejas. Uma nova cidadania,
produzindo uma casta de “protegidos” pelo braço armado do estado. Subvenção às
igrejas. Não será isso inconstitucional?
(*) Professor adjunto
de teoria política da Uece/Facedi.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/09/25.
Opinião. p.18.
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