Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A
epidemia da obesidade tornou-se preocupante por volta de 1980 e a tendência é
de aumento.
Apesar de
todas as evidências, foi somente a partir de 1997 que a Organização Mundial de Saúde
começou a propalar ser a obesidade um dos maiores problemas da saúde coletiva
da nossa sociedade.Antigos que trazem diagnósticos de situação demonstram terem as populações asiáticas e latino-americanas maior inclinação para o aparecimento da obesidade e, com ela, a propensão para desenvolver a diabetes melitus tipo
Evidências
históricas demonstram que no índio, a resistência à insulina, desde o
nascimento, está ligada à ocorrência de baixo peso ao nascer e a uma maior
percentagem de gordura corporal e deficiência seletiva das vitaminas do
complexo B, ajuntada às anomalias metabólicas no desdobramento do carbono que
afetam 75% dos índios, comedores de milho.
Sabemos
(desde o tempo de Cortez e os "conquistadores") que povos que têm sua
base alimentar na cultura do milho produzem indivíduos de baixa estatura,
débeis e de grande fecundidade.
O mesmo
ocorre entre nós da civilização do açúcar, principalmente no Nordeste, onde a
falta de proteínas e a alimentação hipercalórica (para compensar o déficit
proteico) obrigam à ingestão de alimentos com alto teor de açúcar. Fatores
estes que contribuem para fazer surgir mecanismos adaptativos biológicos que
limitam o peso ao nascimento e aumentam a propensão dos adultos a desenvolver
obesidade, não sendo raro que, após perderem peso, essas pessoas têm maior
tendência a voltar ao sobrepeso anterior.
E, assim,
em parte, são responsáveis pela contínua epidemia generalizada de engordar e
emagrecer, o popularmente denominado efeito sanfona, tão comum nos pacientes de
dietas esdrúxulas, sem acompanhamento especializado.
O fardo
da doença induzida por "dieta inadequada" ajuntada a condições de viver
no limite da linha da miséria é fator agravante para o aparecimento da
obesidade epidêmica.
"Porém,
para entendermos essas diferenças entre populações desenvolvidas e
subdesenvolvidas teremos que lançar mão da Epigenética, termo que se refere a
um conjunto de fatores que atuam em conjunto com a sequência do DNA formador do
gene".
De acordo
com este antigo ramo da genética e que agora retorna com grande força, as
alterações epigenética (ambientais) geram consequências danosas específicas
para uma célula, um tecido, uma patologia, um indivíduo ou toda uma população.
Na
verdade a epigenética institui “um novo paradigma, onde a unidade hereditária
não seria apenas a sequência de DNA do gene, mas em associação com modificações
da cromatina (estrutura formada pelo DNA e proteínas que compõe os cromossomos)
que empacota o gene”.
Os
mecanismos não estão de todo esclarecidos, mas já foi comprovado que os efeitos
de alguns hábitos de indivíduos durante a vida - não os hábitos em si - podem
ser transmitidos aos seus descendentes.
Assim a
composição corporal do indivíduo no útero e na infância, tanto em termos de
formação de tecido gordo/magro, dimensão dos órgãos, vias metabólicas e outras
causas (não exclusivamente alimentares) tornam urgente o estudo do combate à obesidade
dos que nasceram com fome ancestral. Isto exige iniciativa e mudança política
profunda.
A nossa
desnutrição vem do nosso Antepassado Histórico e não há de ser por meio de
medidas paliativas que iremos vencê-la. Trocamos a fome magra pela fome gorda.
O leitor
já procurou saber o conteúdo das nossas cestas básicas?
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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