País dos
modismos, o Brasil. Não sei se nisso somos diferentes de outros povos. Pouco
importa. Cabe-nos analisar o que nos toca e a forma como as coisas acontecem em
nosso chão. Verdade é que, nos últimos tempos, muitos conceitos aqui arraigados
viraram de ponta-cabeça, afetando o modo de pensar e, em consequência, atitudes
e ações de grande parte do nosso povo. Certo? Errado? Cada um tem sua
verdade... Avanço? Atraso? Cada um tem sua ótica...
Uma coisa não se
pode negar: São estranhos, muito estranhos, certos comportamentos e formas de
pensar correntes hoje em dia, se comparados aos conceitos e atitudes de vinte
ou trinta anos atrás.
Um exemplo
forte é a questão racial. Hoje, chamar-se alguém de negro, simplesmente
apelando para uma realidade física visível, é ofensa grave. Por quê? O termo
negro é palavrão? É indigno ter a pele escura?
Chamar alguém
de negro, hoje, é mais grave que chamar de ladrão, ou qualificar de forma
indecorosa sua honrada mãe. Diferente de tempos bem recentes, quando as
expressões “negro velho” ou mais comumente “nego véi”, eram formas amistosas e
até carinhosas de trato. De igual modo, “minha nega”. Era comum maridos
tratarem as esposas por “minha nega” ou “minha veia”. Vá alguém tratar hoje um
semelhante com tais termos... Se a “ofensa” for levada à Justiça, pode o
atrevido ir parar na cadeia, visto que os juízes não têm ainda o poder de
mandar alguém para o fogo do inferno.
O rolo
compressor dos revisionistas é tão grande que até a obra de Monteiro Lobato,
ícone da literatura brasileira que fez a alegria de gerações de petizes, é
policiada e taxada de racista pelas autoridades deste governo de poucas luzes e
muitos preconceitos. Tende a entrar, se não já entrou, no Index Librorum Proibitorum. E lembre-se que o escritor viveu em
época em que ser negro era condição natural de herança étnica e, portanto,
pessoas de pele escura não se sentiam ofendidas com isso. A obra foi produzida
naquele contexto, mas os doutos de Brasília são incapazes de sentir isso.
Num mundo de
tanta hipocrisia e simulação, qualificar alguém de negro é ofensa.
“Politicamente correto” é designá-lo de afro-descendente. O que dá no mesmo.
Babaquice sem tamanho!
Aprendemos em
tempos idos que o Brasil era um país de brasileiros, onde não havia distinção
de cor e credo. Pelo menos do ponto de vista legal. Consequência natural da
mistura de raças e origens do seu povo. Um pais de mestiços, onde são raros os
que portam sangue europeu puro. Por trás de uma pele alva, corre com frequência
boa dose de sangue índio, africano ou asiático. Nunca tal fato foi motivo de
querela ou questionamento, nem despertou atenções.
O politicamente
correto e os eufemismos desnecessários dos dias de hoje jogam holofotes em tal
questão, sem nenhuma vantagem para o País. Levantam discussões, exacerbam
ânimos, abrem feridas. Um tiro no pé. Destruíram a boa convivência,
institucionalizaram o racismo. Um racismo às avessas onde “brancos” são
discriminados.
Hoje o Brasil é
um país de falsos brancos, falsos índios, falsos afro-descendentes, falsos
asiáticos. Um país de eufemismos.
(*) Membro do Instituto do Ceará Fonte: O Povo, Opinião, de 23/07/14.
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