Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Como professor de Pediatria
aposentado, fico esperando que este momento da vida nacional não seja mais do
que “dores de crescimento”.
Para os que não sabem,
licença para explicar. São dores, maioria das vezes localizadas nas pernas de
25% das crianças entre 9 e 10 anos. Geralmente as dores são simétricas (atacam
as duas pernas ao mesmo tempo). Podem ocorrer a qualquer hora, embora sejam
mais frequentes de madrugada ou pela manhã.
Muito embora elas se resolvam
ao final da infância, episódios frequentes são capazes de ter um efeito
substancial no início da vida. Elas passam com o crescimento. O leitor há de
perguntar: O que tem a ver essas dores com a corrupção? Será que a corrupção é
uma ‘dor’ necessária para que se chegue a uma democracia consolidada? Assim
como, para crescer, ¼ das crianças precisam padecer dessas dores?
Tal comparação apareceu na
minha mente depois das explosões midiáticas da corrupção nacional ocorridas
logo depois da acirrada eleição presidencial e talvez seja ela a responsável
mor pela falta crônica de progresso. Estranho.
Tudo bem, quem comete
ilícito deve pagar pelo malfeito, porém o que vai adiantar apenas punir os
acusados de corrupção? Se essa for a única medicação a ser adotada para nos
livrarmos de nossos problemas, é uma solução pobre e enganadora. O meu temor é
que essa situação criminosa esteja mais relacionada com a estrutura das
instituições ou com o seu engessamento, seja pela nossa formação ou por culpa
de políticos/burocratas/empresários inescrupulosos.
Acredito que prender,
condenar, punir, mesmo após o julgamento honesto, não seja suficiente para
garantir uma democracia adulta ou resolver nossos problemas. O que fico
abismado é que o problema não é circunscrito e muito menos será resolvido
apenas com penalidades aplicadas aos supostos corruptos e corruptores.
O que devemos avaliar é que
crescer, no caso de um país, é consequência da capacidade de saber/poder/criar
e não é apenas punindo criminosos ou tendo eleições livres que iremos crescer.
Chega-se a pensar que as condenações dos réus ou responsáveis pela corrupção
não passam de uma tentativa de deslocar o foco/causa do problema.
Deslocamento em psiquiatria
é a transferência de sentimentos de um alvo para outro, considerado menos
ameaçador ou neutro. Será que os donos
do Poder não estão tentando iludir o povo?
Ou será que eu estou sofrendo de deformação profissional? Acredito que
não! E digo por quê: ninguém pratica a Medicina impunemente por tanto tempo
como eu pratiquei, sem ser um probo.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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