Não só a Praça, mas as adjacências!
Este jornal, na edição de 19 de maio, página de Economia,
estampa a triste notícia: “a Prefeitura avalia projeto com túneis para a Praça
Portugal”.
Nunca imaginei que tamanho contrassenso pudesse ter
guarida nos setores técnicos da Prefeitura! A Praça Portugal, por suas
características e por seu charme, está nas manchetes há algum tempo. Procura-se
uma solução que favoreça a mobilidade, tanto de veículos como de pedestres.
Deixar como está, melhorando a sinalização, é proposta defendida por grande
parte da população, sobretudo pelos que cultuam a história da cidade e, em
especial, daquele logradouro. Mudar o traçado físico, transformando a rotatória
em cruzamento e ampliando as quatro pracinhas hoje existentes, é projeto que a
Prefeitura tem intenção de implantar. O caso está em análise no Conselho Estadual
de Preservação do Patrimônio Cultural (Coepa).
As duas ideias são defensáveis. Perdas e ganhos
haverá nos dois casos, pois não existe solução perfeita. Nenhuma delas, porém,
traz danos maiores ao visual e à mobilidade no local. Mas, construir um túnel
ali é a maior estupidez – desculpem, não consigo encontrar palavra mais
adequada – que se pode praticar; e o maior crime contra tão bela e simpática
área, atualmente centro de convergência de movimentos sociais, o verdadeiro
centro cívico da cidade.
Túneis degradam as adjacências dos locais onde são
implantados e dão ao espaço um triste ar suburbano. Aqueles horrorosos muros
que ladeiam as rampas de acesso – e não há como evitá-los – agridem a vista e
fazem verdadeiro “apartheid” entre os dois lados da via. Imagino que a ideia
monstruosa seria implantar o túnel na Dom Luís, onde já existe apenas um
sentido de tráfego. Isso demandaria a construção de muros de proteção, feios
muros de concreto, junto às calçadas dos shoppings Aldeota e Avenida, matando o
comércio, o conforto dos pedestres, e prejudicando a mobilidade de veículos nas
adjacências. Vejam o que aconteceu na Avenida Santos Dumont, onde havia
cruzamento com a Via Expressa. Querem repetir tal feiura no mais belo
logradouro da cidade!!!
Grande “vantagem” apresentada na nota do jornal:
tal “revolução” urbana seria executada através de parcerias público-privadas,
sem ônus para a Prefeitura. Ora, parcerias público-privadas são bem-vindas, mas
para melhorar a cidade, construí-la, nunca para destruí-la, degradá-la. Se é
para não ter a Prefeitura despesas com a Praça, melhor deixá-la como está.
É incrível que, a pretexto de facilitar o modesto
tráfego de veículos na Dom Luís e na Desembargador Moreira – modesto, sim! – se
pense em praticar tal barbaridade. A circulação de veículos, após pequena
intervenção praticada pela Prefeitura há alguns meses, melhorou
consideravelmente. Hoje, salvo casos esporádicos, não há engarrafamentos na
Praça Portugal. Fala isso quem mora a cem metros da Praça, e conhece. Como
está, com sinalização mais consentânea com o trânsito de pedestres, pode-se
dispensar por algum tempo a construção do cruzamento, a meu ver a melhor
escolha. Mas túnel, muros horrorosos de concreto, obstáculos à livre circulação
das pessoas, nunca! Chega de ideias malucas!
(*) Engenheiro civil e
militar, e membro do Instituto do Ceará.
Fonte: Publicado In: O
Povo. Fortaleza, 31/05/2015. Caderno DOM (Opinião). p.15.
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