"Enquanto
a nossa população cresce, como sobreviver com a diminuição de leitos
hospitalares?"
O conceito de saúde
hoje não se restringe apenas a postos de saúde, hospitais, médicos e demais
profissionais da área. Esse conceito ampliou-se e inicia-se com acesso à
moradia, educação de qualidade, saneamento básico, alimentação, emprego e
lazer. São itens essenciais a que todo cidadão deva ter direito e são
construtores da boa qualidade de vida, passando por uma boa condição de saúde.
A falta desses
serviços, certamente, vulnerabiliza o cidadão, expondo-o mais facilmente a
perda da saúde. No estado do Ceará, esse quadro de vulnerabilidade é real por
omissão de políticas públicas nessas variadas áreas. Quando se trata
especificamente da rede de saúde púbica, aí sim tem-se uma lógica necessária
para o seu bom aproveitamento, contemplando minimamente a excessiva demanda que
existe no estado do Ceará.
O primeiro grave
problema reside na falta de atendimento básico, responsabilidade das
prefeituras municipais e feito pelos postos de saúde, existentes em números
insuficientes, mal equipados e, muitas vezes, com falta de profissionais e
medicamentos. Sem o bom atendimento na rede primária e sem uma boa resolutividade,
um quadro simples de doença pode se complicar, necessitando aquele paciente de
uma internação hospitalar que não deveria acontecer. É o caso, por exemplo, de
um diabético que não controla sua diabetes nos postos de saúde ou de um
hipertenso que também não controla a sua pressão arterial, culminando com
complicações vasculares, como trombose e derrame cerebral e, no caso do
diabético, com a cetoacidose, que pode levar ao coma diabético.
Além desse problema
bem palpável no nosso cotidiano médico, existe a insuficiência de leitos
hospitalares para atender a enorme demanda, a ponto de não se encontrar com
facilidade vagas até em hospitais particulares já que, ao longo dos últimos
anos, o número de leitos fechados no Ceará foi maior que o número de abertos,
mesmo com a construção dos hospitais regionais Norte (Sobral) e do Cariri
(Juazeiro do Norte). É tão crítica a falta de leitos que há poucos dias a
Justiça Federal, através do juiz Jorge Luís Girão Barreto, determinou que o
Governo do Estado construísse 150 leitos de UTI’s nos próximos quatro anos. Ou
seja, é a judicialização de procedimentos médicos por conta de uma crise
estabelecida e construída ao longo dos anos.
Enquanto a nossa
população cresce dia-a-dia, como sobreviver com a diminuição de leitos
hospitalares? E por que esses leitos foram fechados? Temos aqui outro
complicador. Essas unidades não sobrevivem porque os procedimentos pagos pelos
SUS são tão fora da realidade que muitos hospitais no Estado tiveram que fechar
suas portas, por não conseguirem se manter com os repasses do Governo Federal,
amargando severos prejuízos financeiros e cessando suas atividades.
Portanto, dentro
dessa escassez de recursos, é fundamental a existência de uma boa rede
primária, item número um para se evitar a enorme quantidade de pessoas nas
filas dos nossos hospitais terciários, que precisam, assim, fazer papel de
unidade primária e atender pacientes fora do seu perfil.
(*)
Deputado
estadual e médico especializado em clínica geral.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 30/5/2015. p.11.
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