Por Alessandro Grassani/New York Times
Manuscrito 263,
um dos 13 manuscritos medievais do Sagrado Convento de São Francisco em Assis,
na Itália, que foram restaurados para uma exposição em Nova York em novembro de
2014. Agora, o pesquisador francês Jacques Dalarun, especialista em estudos
franciscanos, descobriu uma biografia inédita de São Francisco de Assis que
apresenta novos dados sobre a vida do santo pobre.
O francês
Jacques Dalarun, especialista em estudos franciscanos, descobriu uma biografia
inédita de São Francisco de Assis que apresenta novos dados sobre a vida do
santo pobre.
O jornal da
Santa Sé, "L'Osservatore Romano", informou nesta segunda-feira (2/01/15)
sobre esta descoberta em biblioteca particular daquilo que parecia ser "um
manuscrito insignificante" e publicou uma entrevista com o historiador,
que sustenta que esta nova biografia apresenta detalhes interessantes, como a
passagem que narra uma viagem de Francisco, filho de um rico mercador, a Roma.
Esta versão mantém
que "Il Poverello" ("O Pobrezinho"), como ficou conhecido,
realizou esta viagem não como peregrino, como se acreditava, mas como um
negociante surpreendido com o sofrimento dos mendigos que se amontoavam ao seu
redor.
"Nada a
ver com a versão edulcorada que se divulgou sucessivamente: um Francisco já
religioso que sofre com os mendigos. Nesta versão o contraste é muito mais
forte. Não é uma mudança paulatina, mas um verdadeiro choque", explicou
Dalarun.
Além disso, o
livro revela outros detalhes "muito concretos e realistas" sobre, por
exemplo, a forma como Francisco remendava sua túnica, usando fibras extraídas
das cortiças das árvores.
Francisco
morreu em 1226 e no ano de 1260 o Capítulo Geral da Ordem Franciscana
encomendou uma biografia oficial para acabar com todas as versões não aprovadas
pela congregação. Com o passar dos séculos foi possível encontrar estas obras
anteriores.
Trata-se dos
relatos de Tomás de Celano, um dos homens mais próximos a São Francisco, e que
no ano 1228 recebeu a incumbência do papa Gregório IX de narrar a vida do
santo. Esta primeira biografia foi encontrada no século XVIII, enquanto em 1806
foi descoberta uma posterior, redigida pelo mesmo autor no ano 1244.
A obra
descoberta por Dalarun é datada de 1237 a 1239 e foi escrita pelo mesmo amanuense,
Tomás de Celano. Esse achado abre um novo episódio de uma das pesquisas
historiográficas mais "vastas e complexas": a busca de
"vidas" não oficiais de "il Poverello".
"Estava
procurando este texto há sete anos. Durante os meus estudos, encontrei
fragmentos soltos e tudo indicava à existência de algo intermediário de Tomás
de Celano, sucessiva à primeira versão e precedente à segunda biografia que
conhecemos", apontou.
O especialista
afirmou que "ainda resta muito por compreender", mas que encontrou
entre suas páginas outros "elementos de interesse", como um resumo
escrito entre o ano de 1232 e 1239 da primeira versão, "considerada longa
demais pelos contemporâneos".
"É um
texto amplo: a edição latina conta com 64 partes com algumas folhas de papel.
Muitos comentários acrescentados na primeira versão foram eliminados e há
alguns pontos novos", explicou.
Nesta nova
biografia, segundo disse o pesquisador, "se ressalta muito mais a
experiência da pobreza", mas não em sentido simbólico ou meramente
espiritual, "mas real". Além disso, o autor se aprofunda sobre a
questão da fraternidade com a criação, um traço essencial da filosofia
franciscana.
"No
começo, Tomás de Celano falava disto como algo admirável, estranho e surpreendente,
mas substancialmente alheio a sua experiência. Nesta versão faz uma reflexão
sobre o fato de que a fraternidade com a criação afeta também os seres carentes
de consciência, não só os seres humanos", acrescentou.
Fonte: UOL Notícias/New York Times, de 26/01/2015.
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