Wallenberg, herói da 2ª Guerra, desapareceu depois de ser preso ainda em 1945 |
O misterioso desaparecimento de Raoul Wallenberg, o 'Schindler' sueco que foi declarado morto 71 anos depois
Budapeste, Hungria, 1945. O diplomata sueco Raoul Wallenberg
é detido naquele ano por militares soviéticos que entraram na cidade perto do
final da Segunda Guerra e nunca mais é visto.
Em 1957, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia
informou que ele tinha morrido após um ataque cardíaco em 17 de julho de 1947
na prisão de Lubyanka, em Moscou. A família do diplomata não acreditou nesta
versão e passou décadas tentando descobrir o que realmente tinha acontecido.
Até que eles finalmente desistiram e pediram à Agência Tributária da Suécia
para declarar Wallenberg oficialmente morto.
A agência atendeu o pedido no fim de outubro de 2016, 71
anos depois do desaparecimento. Mas Wallenberg não era um diplomata comum.
Durante sua estadia em Budapeste, ele ajudou milhares de judeus a escapar dos
nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e sua história se transformou em
lenda depois de 1945.
Mesmo sendo considerado o "Schindler sueco", ainda
persiste o mistério sobre o verdadeiro destino do diplomata.
Resgate
Wallenberg nasceu na Suécia em 1912. Em julho de 1944,
chegou a Budapeste, já ocupada pelos nazistas, para trabalhar como diplomata.
Naquele mesmo ano, ele começou os esforços para resgatar judeus.
Os alemães já tinham deportado quase 440 mil judeus da
Hungria em apenas dois meses. A maioria deles tinha ido para o campo de
extermínio de Auschwitz, na Polônia.
Wallenberg então começou a emitir documentos suecos que
protegeriam seus portadores e evitariam que mais judeus fossem deportados. Com
estes documentos eles iriam para a Suécia.
Antes da chegada de Wallenberg, a embaixada sueca em
Budapeste já emitia documentos de viagem para judeus húngaros, que funcionavam
como passaportes do país.
Wallenberg decidiu modificar a aparência destes documentos,
para dar um cunho mais oficial aos passes. Ele acrescentou as cores da bandeira
sueca e colocou selos com a coroa sueca. Estes documentos ficaram conhecidos
como os "passes de proteção" (ou "Schutzpass" em alemão).
A irmã de
Wallenberg, Nina Lagergren, ajudou a inaugurar memorial em homenagem a ele
|
Wallenberg negociou com o governo húngaro para emitir quase
5 mil destes passes. De acordo com a Fundação Internacional Raoul Wallenberg, o
diplomata chegou a entregar três vezes mais do que 5 mil documentos.
Algumas pessoas faziam filas na embaixada sueca em Budapeste
para retirar estes documentos de viagem, mas Wallenberg e os funcionários
diplomáticos também distribuíam os passes pela cidade.
Uma testemunha relatou à BBC como o diplomata interceptou um
trem cheio de judeus que estava prestes a sair de Budapeste com destino a
Auschwitz.
Wallenberg subiu no teto dos vagões do trem levando um
pacote de passaportes e começou a distribuir os documentos para mãos estendidas
pelas janelas abertas.
O diplomata também comprou e alugou mais de 30 edifícios em
Budapeste, incluindo hospitais, e colocou bandeiras suecas em suas portas. Desta
forma, estes locais funcionavam como território neutro e pelo menos 15 mil
judeus se refugiaram nestes prédios.
Wallenberg foi homenageado no Memorial do Holocausto, o Yad
Vashem, em Jerusalém, como um dos "Justos
entre as Nações".
Nina Lagergren e o prefeito de Budapeste, Gabor Demszky, perto de um monumento em homenagem a Wallenberg na capital húngara em 2003 |
Ataque cardíaco ou execução?
A teoria mais comum sobre o destino de Wallenberg é que ele
morreu em uma prisão soviética. De acordo com o jornal sueco Aftonbladet,
em 19 de janeiro de 1945, Wallenberg foi encarcerado em Lubyanka, em Moscou,
acusado de espionagem.
O "relatório Smoltsov", incluido no ano 2000 em
uma investigação de uma equipe de especialistas russos e suecos, informou que o
diplomata morreu de um ataque do coração em sua cela no dia 17 de julho de
1947, quando tinha apenas 34 anos.
Mas documentos do serviço secreto soviético, a KGB, tornados
públicos em 1991, indicavam que Wallenberg tinha sido interrogado em Lubyanka
no dia 23 de julho de 1947, ou seja, seis dias depois da data divulgada pelo
"relatório Smoltsov".
A mãe de Wallenberg, Maj von Dardel, e seu padrasto, Fredrik
von Dardel, cometeram suicídio em 1979.
Em agosto de 2016, o Congresso Mundial Judeu citou um
relatório no qual se alegava que Wallenberg tinha sido executado em 1947. A
informação vinha dos diários de Ivan Serov, ex-diretor da KGB, publicados em
junho de 2016.
'Morte em 1952'
Em novembro de 2015, a família de Wallenberg pediu à Agência
Tributária Sueca que ele fosse oficialmente declarado morto. "Será
considerado que ele morreu em 31 de julho de 1952", afirmou a agência.
Pia Gustafsson, funcionária da agência, explicou que a data
foi escolhida por ser exatamente "cinco anos depois de seu
desaparecimento, que acredita-se ter ocorrido no fim de julho de 1947".
Este procedimento segue uma lei sueca que se aplica quando
as circunstâncias da morte de uma pessoa não ficam claras, disse Gustafsson à
BBC.
O jornal sueco Aftonbladet informou que a família do
diplomata pediu que ele fosse declarado morto oficialmente para "deixar
Raoul descansar em paz".
Fonte: BBC Brasil/UOL
Notícias, 14/11/2016. Imagens Pin it/AFP.
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