Médico-Psicoterapeuta
Nunca antes na
história, um líder decidiu que, em um espaço de tempo delimitado, um grupo
étnico ou religioso devia ser totalmente eliminado e que criaria todo o
equipamento necessário para realizar este propósito’. “Isso não tem precedentes.”
(David Cesarini: 1956-2015) perito/escritor em holocausto de quem apanhei o
título deste artigo).
Os nazistas
assassinaram milhões de judeus e membros de outras minorias, como os ciganos,
nas câmaras de gás dos seis campos de extermínio instalados na Polônia –
Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Birkenau, Auschwitz e
Majdanek – em alguns casos com o sinistro Zyklon B e, em carbono.
Mas o uso de gás não só ocorreu durante o Holocausto. Antes da guerra,
antes dos massacres em que dezenas de milhares de prisioneiros eram mortos por
gás todos os dias, esse método já tinha sido utilizado para matar pessoas com
problemas físicos ou mentais. O uso de gás para matar pessoas que não se
encaixavam na delirante doutrina racial nazista está no próprio coração do
nacional-socialismo, mesmo antes da Segunda Guerra Mundial.
Para não ir mais
longe, começo com o fato esquecido e encoberto, a invasão de Vél d’Hiv”,
que é um dos capítulos mais indigestos da história francesa durante a Segunda
Guerra Mundial. Na primeira quinzena de junho de 1942, em plena ocupação
nazista de Paris, 13.152 judeus, entre eles cerca de 4.000 crianças, foram
presos em toda a capital e seus arredores e levados ao Velódromo de Inverno
conhecido como Vél d’Hiv. A operação foi realizada por policiais franceses.
Os presos
acabaram no campo de extermínio de Auschwitz e afirmam que dessa leva
sobreviveram quatro centenas de pessoas. Na praça “des Pétits–Pères”,
estava o Comissariado de Assuntos Judeus, cuja missão era aplicar as leis
racistas contra judeus e ciganos. Bom lembrar: não era uma instituição nazista,
era uma instituição francesa.
Saindo da Europa
e indo para os USA, “os antissemitas da direita americana nunca desapareceram,
só eram marginalizados. KKK (Ku Klux Klan) e neonazistas sempre existiram, o
que mudou foi o que apareceu na campanha presidencial desse país que elegeu
Trump, quando os radicais ganham coragem e se sentem poderosos para manifestar
seu antissemitismo.
Será importante
não esquecer que a intelectualidade europeia, de Kant a Fichte e Hegel, era
antissemita. Assim também eram os proeminentes intelectuais que os seguiram ou
que foram contrários a eles, como Schopenhauer, Nietzsche e Karl Marx.
Essa espécie de
preconceito chegou ao ponto culminante com Martin Heidegger, e seu
comprometer-se com o nazismo. Nisso, não devemos esquecer Karl Marx e sua obra,
a Zur Judenfrage (A Respeito da Questão Judaica). Entre as inúmeras citações em
seu trabalho, encontram-se frases como: 'dinheiro é o Deus mundano dos judeus',
ou 'o mundo cristão atual na Europa e na América do Norte atingiu o ápice desse
tipo de fenômeno e se tornou totalmente judaizado adorador de dinheir’.
O antissemitismo
é presente em todas as colorações ideológicas. Deslegitimar Israel está hoje na
moda entre as elites cultas globalizadas (de esquerda ou de direita).
Inúmeros escritores,
artistas, proeminentes jornalistas e acadêmicos estão na vanguarda, fazendo
comparações odiosas do sionismo em relação ao nazismo, e de Israel em relação à
Alemanha de Hitler. O Prêmio Nobel português José Saramago foi apenas um entre
muitos. No entanto, todos eles se encaixam em uma longa tradição dos
intelectuais de ódio aos judeus.
O antijudaísmo
metamorfoseado em ser contra o Estado de Israel é mais uma atualização do mais
antigo e perene preconceito do Homem. O novo antissemitismo teve tamanha mutação
que qualquer um de seus adeptos pode negar que seja antissemita, o que é um
grande passo para esconder esse preconceito. Saber que
o antijudaísmo (antigo antissemitas), que quando não nega o acontecido
no Holocausto afirma que: Nos campos de concentração morreram não
exclusivamente judeus... Ou que o estado de Israel deveria desaparecer.
Esquecem todos
(judeus e não-judeus) que o preconceito não se localiza no discriminado mas no
discriminador.
Matar um milhão
de pessoas por ano.
Isso não tem precedente.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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