sexta-feira, 6 de setembro de 2019

AOS VIVOS: " Não ter um pau pra dar numa gata!"... e outro causo


Não ter um pau pra dar numa gata!

Tem quem naturalmente fale baixo, mas tem quem escute alto também. Aos que tudo ouvem com muita categoria, diga-se, esses têm "ouvido de tuberculoso". Pois eu tenho. Consegui, como se fora um sussurro, ouvir dona Mariquinha pronunciar oração forte e evitar que o netinho Galdino, de 8 meses, fosse atingido mortalmente pelo olhar de inveja da vizinha que nunca pariu na vida. Somente horas mais tarde eu soube que aquilo lá era reza federal contra quebranto; na ocasião achei estranho. E bota estranho nisso!
Afinal, contra quebrante e mau-olhado, aprendera com mãe aquela em que, colocando a destra na moleira dos mais novos, ela dizia assim:
"Nosso Senhor Jesus Cristo, me ajude onde ponho a mão.
Cristo vive, reina e impera por todos os séculos dos séculos.
Amém.
Pelo poder divino que tem, Nosso Senhor Jesus Cristo, este quebrante vai sair pelos lados, pelas costas, por cima, por trás e pela frente. Pela fé em Nosso Senhor, assim se fará: saindo pela frente, por cima, por trás, por baixo.
Amém."
Pra reforçar o poder da benzedura, mãe ainda lambia a testa do menino três vezes e rezava um Pai-Nosso, segurando as mãozinhas dele. Em seguida repetia três vezes as palavras:
"Deus te criou,
E eu, mãe, te pari;
Quebranto que te puseram,
Eu, mãe, lambi."
Mas a reza de dona Mariquinha para livrar o netinho Galdino, de 8 meses, era muito diferente. Tão eficiente, eficaz e efetiva que o pivete saiu dando pinote na sala, e a botadora da caé ficou muda por três dias. Por isso, não posso negar-me a reproduzi-la na íntegra, parte que é da crendice popular, muito usada no interior do estado:
- Cheire meu cuzim três vezes, cheire meu cuzim três vezes, cheire meu cuzim três vezes!!!
O baião do Giovani Oliveira
Seu Paulo Solon, agricultor nascido em Pernambuco, tinha na época áurea da cultura algodoeira, em Iguatu, vários homens que para ele trabalhavam. E que se alimentavam. Todos, tão somente de "baião de dois" - no café da manhã, no almoço e no jantar. Os servidores de seu Solon já não aguentavam a ladainha "comidativa", e reclamavam de tanto "baião", à exceção de um deles, que comia caladinho seu prato.
O dito "baiãodedoisófilo", depois que a esposa deu à luz uma criança, benza Deus, corada, chamou o patrão e pediu-lhe que fosse o padrinho. Pedido aceito. Acontece que com a praga do bicudo devastando o algodão de toda região, seu Solon voltou de mala e cuia com a família para a terra natal, no interior pernambucano.
Certo dia, jogando sinuca e tomando cachaça com os amigos num bar de Iguatu, o acima mencionado trabalhador chegado à típica comida de cearense ouve o rádio anunciar:
- Senhoras e senhores, acaba de falecer, na cidade de Recife, "O Rei do Baião"...
O pobre iguatuense correu pra casa, tinha de urgente dar a notícia funesta à mulher. Lá chegando, em lágrimas, falou constrangido:
- Expedita, tu não sabe a tragédia que aconteceu! Cumpadi Paulo Solon morreu agorinha!
Fonte: O POVO, de 7/9/2018. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.

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