Por Pedro Sisnando Leite (*)
A Ciência e a
tecnologia foram determinantes historicamente no desenvolvimento econômico
mundial. Nos anos recentes, com o surgimento da quarta revolução industrial
(4.0) quando as máquinas computadorizadas e robôs estão substituindo o trabalho
intelectual e os níveis de desemprego permanecem tão altos, há considerável
mal-estar nos meios acadêmicos em como equacionar esse dilema. Isso,
naturalmente, com a simultânea superação da pobreza e da desigualdade existente
nos países emergentes e mesmo desenvolvidos.
Com base em
estudos e experiências práticas ao redor do mundo, inclusive no Ceará, tem
crescido a esperança de que se possa atacar a pobreza e o desemprego com a
utilização de novas tecnologias mais simplificadas e pouco onerosas a serem
adotadas pelas próprias populações pobres. É uma estratégia direcionada para a
base da pirâmide, com inovações denominadas de frugal. Este enfoque se
caracteriza pela economia de uso de recursos, limitações institucionais, com
produtos mais baratos e acessíveis aos mais pobres.
Sobre o assunto, a
Academia Brasileira de Ciências realizou uma Conferência Internacional "Como Ciência e Tecnologia podem contribuir para a redução
da desigualdade e da pobreza", realizada
no Rio de Janeiro em 2018. O propósito desse encontro foi reunir renomados
especialistas internacionais para discutirem como a comunidade científica pode
se mobilizar em prol da implementação dos objetivos do Desenvolvimento
Sustentável 2030 das Nações Unidas contra a pobreza e as desigualdades.
Discussões sobre inovação frugal e sua relação com a melhoria das condições de
vida da comunidade estão sendo realizadas na Universidade Federal de Santa
Catarina, por sinal, o estado com menor índice de pobreza do Brasil.
Nos últimos cinco
anos, o Centro de Inovação Frugal na África (CFIA) estabeleceu-se como o
principal centro de excelência no tema emergente da inovação frugal em Nairóbi
(Quênia). Para o período de 2019 a 2024, a CFIA pretende fortalecer ainda mais
sua posição para se tornar o centro global da pesquisa sobre inovação frugal
com vistas à criação de emprego e superação da pobreza mundial.
As universidades
públicas do Nordeste poderiam dedicar maior atenção as pesquisas acadêmicas no
campo das inovações frugais na busca de soluções mais sustentáveis e
includentes em saúde, energia, água, agro-alimentos em comunidades de baixa
renda.
(*) Professor
titular de economia do Caen/UFC. Sócio do Instituto do Ceará e membro da Academia Cearense
de Ciências
Fonte: Publicado In: O Povo,
Opinião, de 5/3/20. p.17.
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