sábado, 5 de abril de 2025

JACKSON SAMPAIO: o professor e médico que transita entre a ciência e a sensibilidade IV

Por Lara Vieira, texto Fabio Lima, foto

O POVO - No pós-Covid, qual foi a Uece e a reitoria que o senhor encontrou?

Jackson Sampaio - Observei uma convivência muito boa entre alunos e professores, especialmente na pesquisa. A universidade, mesmo com dificuldades, sobrevive, muitas vezes, apesar da gestão. Houve uma reitoria interina, porque eu não pude mais participar do processo eleitoral de um novo reitor. Quando chegou o momento da eleição, o novo reitor foi o meu vice por oito anos. Então, eu me senti muito à vontade na universidade em geral.

Era um ambiente que recuperou muito do que eu estava fazendo, também muito da herança deixada pelos ex-reitores Manassés (Fonteles) e (Assis) Araripe. Mas havia dois candidatos que queriam justamente essa ruptura. Eles sabiam que, se o Hidelbrando [atual reitor] ganhasse, ele levaria essa herança consigo.

Então, eles entraram com uma manifestação no Tribunal de Contas do Estado (TCE), alegando corrupção. Se houvesse algum problema nas minhas contas, tanto eu quanto meu vice, que era o Hidelbrando, seríamos responsabilizados, o que ajudaria na vitória deles.

Eu, mesmo debilitado me recuperando em casa, entrei em ação. Contatei o TCE e conseguimos agilizar a análise das minhas contas. Hoje tenho seis anos de contas analisadas. Até o momento, a denúncia não resultou em nada. O ambiente também tem seus lados tóxicos, suas pontas negativas. Isso foi uma ação absolutamente antidemocrática.

O POVO - Muitos jovens hoje questionam o valor do ensino superior, principalmente pela dificuldade de conseguir emprego após a graduação. Como você enxerga essa situação?

Jackson Sampaio - Um ponto a se entender é que a universidade é um local de produção de conhecimento, não apenas como um passaporte para conseguir um emprego. Quando a universidade é vista apenas como uma preparação para o emprego e o aluno não consegue entrar nesse mercado, isso não é um fracasso da universidade, mas sim de um modelo econômico que não valoriza a formação acadêmica.

Na sociedade capitalista, o trabalho muitas vezes exige três coisas: dinheiro, satisfação pessoal e segurança. Porém, poucos setores oferecem essas três coisas. O mercado fragmenta isso para evitar que as pessoas sejam autossuficientes, criando uma individualidade que dificulta a luta coletiva, como a sindicalista.

A universidade é um lugar de produção de conhecimento, amadurecimento intelectual e cidadania plena, que, por acaso, também pode proporcionar entrar no mercado de trabalho. No entanto, se o mercado não valoriza a educação superior e prefere pagar mais barato para profissionais com formação técnica, a universidade enfrenta um desafio. Mesmo assim, ela deve manter seu compromisso com a formação acadêmica e cidadã.

SBPC/ Expansão

Em 2005, Jackson Sampaio, na época diretor do Centro de Ciências da Saúde (CCS), foi responsável por trazer para a Uece a 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A realização do evento impulsionou a expansão do campus Itaperi, com construções como da Reitoria e novos blocos

Covid

Vítima da Covid, o professor Jackson Sampaio enfrentou o período dramático. Chegou a ter alucinações, experiência que ele transformou em estudo científico. Foi uma forma de ressignificar o sofrimento, inclusive através da poesia. “Mas eu disse a mim mesmo que não queria que minha poesia fosse um canto fúnebre”, conta

Atuante/ Pós-graduação

Mesmo aposentado, Jackson Sampaio segue atuando no Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPSAC) e Grupo de Pesquisa Vida e Trabalho (GPVT) da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

Literatura

Também foi um dos escritores que integravam o grupo Siriará, movimento levantado na década de 1970 e que reuniu alguns dos grandes nomes da Literatura Cearense da década de 1980.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/03/25. Páginas Azuis. p.4-5.

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