quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A CRÔNICA (O mais brasileiro dos gêneros literários)




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Apesar das discussões acadêmicas, se a crônica é, ou não, um gênero literário, nem por isso, grandes escritores, a partir do século XIX, deixaram de cultivá-la.
No mundo atual, a crônica aporta numerosas vantagens: é opinativa e, de certa forma, representa uma conversa com o leitor. Por ser seletiva e curta, tornou-se uma das modalidades narrativas para a internet e para os periódicos impressos.
A internet, por sua vez, libertou-a do acanhado espaço jornalístico. Voltou a ser um factível de maior liberdade. Ademais, se permitido, de serem acrescentados novos lances, novos enredos, diferentes finais e histórias, que crescem e adquirem novos contornos, à medida que são lidas.
Diante do corre-corre, da rapidez da vida moderna, adquiriu, junto com pequenas histórias, novelas, quadrinhos, fotografias, animações, e tantos outros, um sólido espaço, em se tratando de modos de contar e opinar sobre o momento.
Não poucas vezes, esquecem os escritores que, as plateias (os leitores), mudaram. Elas não são mais constituídas por ouvintes passivos. Sobram-lhes informações. A crônica não representa mais aqueles ouvintes, de narrativas contadas à beira do fogo, à beira da água, ao luar, nas bagaceiras dos engenhos, nas calçadas, nos alpendres das casas, nos balcões das vendas, ou em velórios.
O leitor-escritor transmudou-se em narrador de sua própria saga. Passou a ser um agente ativo da epopeia de como se encontra no mundo. Narrar, é mais que contar a própria história.
Nós, médicos, gostamos de contar nossos ‘causos’, nossas historietas dos/com os nossos pacientes, e com a crônica ganhamos uma ferramenta facilitadora. Talvez, para algum ortodoxo literário, o médico não passe de um nadador de piscina, no que se refere à Literatura.
A crônica aparenta ser um modelo literário bem mais fácil, para aqueles que não ousam, ou não merecem ter uma existência literária. A vida é dinâmica. Diante da posteridade, tudo se torna bastante pequeno. Como arremate, no mais, eu considero a crônica como a canção da Literatura.
E o resto é, tão somente, o resto!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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