Por Rita Trevisan e Thaís Macena
É muito comum alguns pais afirmarem, até com certo
orgulho, que seus filhos "andaram direto", dando os primeiros passos
precocemente. No entanto, as crianças que dão esse salto no desenvolvimento
perdem os benefícios relacionados à fase de engatinhar, que são muitos.
Explorar o mundo sobre quatro apoios antes de andar é tão importante que a Fundação Maria
Cecília Souto Vidigal, ONG que atua em prol do desenvolvimento da primeira
infância, promove a Engatinhata, evento que reúne bebês (com seus pais e/ou
cuidadores) para engatinhar em um espaço público devidamente adaptado com
tapetes emborrachados. Já foram organizadas Engatinhadas em cidades como
Votuporanga e Penápolis, no interior de São Paulo.
A seguir, o consultor da fundação, o neurologista Saul
Cypel, com outros especialistas, explica a importância de engatinhar para o
desenvolvimento global da criança e o que fazer para estimulá-la a se
movimentar de maneira autônoma, a partir dos seis meses de idade:
1) Engatinhar
ajuda a desenvolver grupos musculares importantes das mãos, dos braços, dos
ombros, além de fortalecer ligamentos, necessários para o aprimoramento de
habilidades motoras finas. A articulação da base do polegar, em especial, é
bastante estimulada. "Todos esses ganhos são importantes para o
desenvolvimento da escrita e da coordenação fina", afirma o pediatra
Daniel Becker, do Rio de Janeiro.
2) É nessa
fase em que começa a andar sobre quatro apoios que a criança aperfeiçoa
habilidades visuais, que envolvem a percepção espacial e de profundidade. Essas
competências serão empregadas no momento de ler e escrever. "Ao pular a
fase de engatinhar, aumenta a probabilidade de a criança apresentar
dificuldades futuras, principalmente na aquisição da leitura, escrita e
cálculos", diz Quezia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de
Psicopedagogia.
3) Engatinhar
não representa apenas um ganho de motricidade, mas a entrada em uma nova etapa
do desenvolvimento neurológico. "Quando uma criança começa a engatinhar, o
movimento repetitivo ajuda a estimular as conexões dos neurônios, permitindo
que o cérebro possa controlar processos cognitivos, como a concentração, a
compreensão e a memória", declara o pediatra Daniel Becker.
4) A criança
que engatinha fortalece a coluna, ganha equilíbrio e aprimora a coordenação
motora geral, tudo isso antes de andar. "É a primeira atividade do bebê
que envolve a alternância de braços e pernas, em movimentos simétricos. A
coordenação entre os hemisférios esquerdo e direito do cérebro é trabalhada, e
o bebê processa a visão e o movimento ao mesmo tempo. Assim, ele se prepara
melhor para ficar de pé, caminhar, correr e praticar esportes", diz
Becker.
5) Um bebê
engatinhando constrói autoconfiança e toma suas primeiras decisões. Aprende
quando desacelerar, ir mais rápido e quando investigar os obstáculos em seu
caminho. "É melhor e mais natural fazer isso engatinhando. Em pé, é mais
difícil e, se a criança cai, machuca-se mais", fala Becker.
6) Bebês a
partir de seis meses já podem ser estimulados a se deslocar em superfícies
seguras, firmes e quentinhas, como um chão de madeira ou um tatame feito com
peças de EVA ou borracha. "A melhor maneira de motivar a criança a se
movimentar é abrir espaços livres de obstáculos e deixá-la à vontade para
explorar", diz o pediatra Daniel Becker.
Fonte: Do UOL, em São Paulo, de 18/10/2013.
Um comentário:
Belo texto.
Vinculei uma de minhas notas a esta postagem.
http://blogdopg.blogspot.com.br/2013/07/quem-tem-pressa-vai-devagar.html
Postar um comentário