Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Os traços
das pessoas em nossa cultura são, em grande parte, desenvolvidos pelas
leituras. Desconheço leitor (não importa a profissão que desempenhe) que não
seja grato aos livros, pelo que eles lhe tenham ensinado: de bom e de ruim. Não
existe livro que não ensine algo ao leitor. Na mocidade, lê-se muita coisa ou
não se lê nada. Não poucas vezes, lê-se de afogadilho.
Lembro-me
de certas leituras de minha adolescência que me influenciaram perenemente. Como
os livros de aventura do holandês Hendrick Van Loon — [nasceu em Roterdan, na Holanda, em 1882. Emigrou,
em 1903, para os Estados Unidos e trabalhou como jornalista e professor de
História. Em 1922, o seu livro mais importante foi lançado; A História da
Humanidade (Story of Mankind). Faleceu em 1944], quando afirma:
Longe do norte, numa terra chamada Svithjod, existe uma
rocha. Possui 100 milhas
de altura e 100 milhas
de largura. Uma vez em cada milênio, um passarinho vem à rocha para afiar seu
bico. Quando a rocha tiver sido totalmente desgastada, então, um único dia da
eternidade terá se escoado.
Certos
livros conservam seu frescor como se nunca tivessem envelhecidos. Quando os
releio, dão-me a sensação de melhor compreendê-los, seja valorizando-os ainda
mais, ou colocando-os no seu devido lugar na importância da minha subjetividade
que, na eternidade do tempo.
Lembro-me
de Os Lusíadas.
Pareciam-me
os seus cânticos um inferno didático para os exercícios da análise gramatical.
A procura do sujeito da oração e os predicadores daquela história de aventura
em versos e, quando pensava que o sujeito estava no fim da frase, estava ele
escondido no meio ou no princípio, nunca no lugar em que eu pensava que
estivesse. Hoje, sinto parte da grandeza
daquela obra de uma maneira bastante diferente dos meus tempos de ginásio.
Às vezes,
ao ler um livro, um artigo, uma crônica, uma poesia, minha memória desperta.
Adquire aquela leitura uma significação sui
generis, incorporada à minha natureza. Outros, tão decantados na
adolescência e juventude, não mais me tocam como dantes.
Desconheço
algo que seja capaz de substituir o sabor de uma leitura, apesar da nova era da
informática. O livro possui textura, beleza gráfica. Sensualidade. Cheiro. As
palavras impressas são uma forma de escultura — de letras — de palavras — de
frases — dos parágrafos... São, como estátuas impressas, expressões da Arte
Gráfica.
Há um
prazer sensual em folhear as páginas de um bom livro, as suas páginas e capas
são como a pele da mulher amada, parecem vivas. Quando um jovem me pergunta
quais são os melhores livros para um médico ler, respondo sem titubear:
- Leiam os clássicos. Neles encontrarão as novidades do
Mundo!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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