João Brainer Clares de
Andrade (*)
Ameaça realmente parece ser a
definição mais acertada ante as declarações recentes do governador Cid Gomes
sobre o curso de Medicina da Uece. Em um momento de se discutir a importância e
as conquistas sociais das universidades estaduais, desinformado e
intransigente, o governador defende o corte ao curso médico ueceano.
A justificativa, no entanto, é
pífia: de que faltam recursos ao custeio do ensino superior público estadual,
traindo o próprio discurso, quando afirma ser prioridade investir em educação e
saúde. E os médicos estrangeiros vindos aos montes ao Ceará e tão calorosamente
recebidos pelo próprio governador? Como se defende que faltam médicos no Ceará
fechando um curso de Medicina? A quem interessa fechar um curso médico
gratuito?
Há de se ponderar que o curso
em degola prevista é o melhor avaliado do Ceará no último Enade pelo MEC,
logrando a 13ª posição nacional, em meio a quase 200 cursos de Medicina
avaliados no país. A taxa de evasão rumo a nossa congênere federal também é
irrisória, já havendo mais de uma dezena de casos de migração contrária.
A formação médica da Uece é, ao
mesmo tempo que logra os melhores resultados do estado, também a mais barata:
não temos o peso dos departamentos hipertrofiados que alimentam o ímpeto da
especialização hospitalocêntrica. Somos formados na rede de hospitais estaduais
e unidades de saúde, com o espírito do bom exercício da Medicina, mesmo sob
pobres condições. Tiramos proveito dos problemas que encontramos devido ao
subfinanciamento e negligência do Governo do Estado.
Assim, resta o desejo que haja
revés nas ameaças públicas do governador, que haja informação acertada sobre os
méritos já conquistados por esse curso médico de parcos recursos, mas com a
vocação humana de formar bons médicos. Na verdade, parece que já houve o tal
revés: em última ida midiática ao Hospital Geral de Fortaleza, o governador Cid
Gomes foi atendido por um médico formado na Uece. Boa coincidência do destino.
(*) Médico formado pela Uece
Publicado In: O Povo, Opinião, de 14/03/2014. p.10.
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