Por Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Em uma escola
médica, pertencente a uma universidade nordestina, durante muito tempo, o
ensino de Anatomia era ministrado em dois anos. Com a reforma do currículo,
para inclusão do Internato, a sua carga horária foi diminuída e concentrada
apenas no primeiro ano da faculdade.
Posteriormente, já
no limiar dos anos setenta, essa universidade aderiu ao Acordo MEC/USAID, para
implantação de uma drástica reforma universitária, que, entre outras medidas,
abolia a cátedra, substituía as cadeiras por disciplinas, introduzia o sistema
de créditos, com inclusão de matérias optativas e fim do regime seriado
anualizado, passando a matrícula a ser semestral.
No caso da
Anatomia, a Pró-Reitoria de Graduação traçou, como norte ou balizamento, o
enxugamento da carga horária da Anatomia, de modo a ser lecionada em um único
semestre letivo. Um coordenador acadêmico do curso, atento à vontade da
Reitoria, era simpático à ideia, e, para pressionar os docentes a acatarem a
mudança, ameaçou com uma retração ainda mais dramática da carga horária da
disciplina, arguindo a perda da sua importância, com a modernização da Medicina
e o avanço tecnológico.
A questão só não prosperou, com resultados
nefastos, quando o antigo catedrático, em tom de recado, declarou:
– Se for para ensinar a Anatomia que o nosso
coordenador acadêmico sabe, não precisaremos de dois meses, ou de duas
semanas; bastam duas horas/aula.
Depois disso, a disciplina recuperou parte
de suas perdas em carga horária.
* Publicado, originalmente,
In: SILVA, M.G.C. da. Medicina, meu humor! Fortaleza: Edição do
Autor, 2012; e republicado In: SOBRAMES-CEARÁ. Digno de nota. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão,
2014. 304p. p.212.
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