José Jackson
Coelho Sampaio (*)
"A sala de aula também não se reduz às práticas presenciais expositivas"
A lei brasileira
concebe educação superior como responsabilidade de faculdades isoladas,
faculdades integradas, centros universitários e universidades, em grau de
atributos que incluem diversidade de campos de atuação, complexidade de missões
e autonomia. As maiores diversidade, complexidade e autonomia definem
universidade.
A complexidade de
missões se expressa pela unidade ensino/pesquisa/extensão. A autonomia encarna
a responsabilidade institucional pela decisão interna sobre os critérios de
distribuição de atividades e de desempenho dos professores. A liberdade
acadêmica autoriza um professor a apenas praticar ensino, pesquisa ou extensão,
mas a autonomia leva à regra de que nenhum se exima da graduação, base do
processo.
A universidade não
é redutível ao ensino: há pesquisa, extensão social, inovação tecnológica e
gestão acadêmica, prerrogativas docentes consolidadas. O ensino não é redutível
à graduação: pois a pós-graduação fundamenta a carreira acadêmica. E qualquer
ensino não pode se reduzir à sala de aula: há orientação de trabalhos finais e
supervisão de estágios curriculares, pré-requisitos para o aluno concluir
curso, além da previsão de tempo para planejar atividades, preparar e corrigir
provas, programar e atualizar disciplinas. A sala de aula também não se reduz
às práticas presenciais expositivas.
A Uece tem 36
cursos de pós-graduação e 77 de graduação, distribuídos em 11 campi, com 806 docentes efetivos. Nossa
norma determina 16 a 20h/s de ensino para professor contratado por 40h/s. O
máximo é para os que optam por atuação exclusiva na graduação e assim dispõem
da diferença para extensão, pesquisa e gestão. Os docentes-pesquisadores que
atuam na graduação e na pós podem qualificar seu desempenho e transitar por
extensão, inovação e publicação, tarefas que pontuam para a imagem institucional
e permitem captar recursos financeiros nacionais e internacionais.
Proposta de
distribuição de carga horária que estabeleça o indicador de 52% para sala de
aula não pode prosperar. Este indicador fere liberdade acadêmica, autonomia
institucional e complexidade da missão universitária, reduz educação superior a
ensino de graduação e este a sala de aula, desconstruindo a universidade.
Neste momento
realiza-se a 19ª Semana Universitária da Uece, com vigorosa mobilização da
comunidade em torno de conferências, minicursos, seminários, festivais de
arte-cultura, lançamento de livros e apresentação de trabalhos científicos.
Assim, celebra-se
o final de um 2014 pródigo de desafios e a chegada de 2015, quando entregaremos
o diploma de graduação n° 60 mil, faremos 20 anos de semanas universitárias e
40 anos de criação da Uece, patrimônio intelectual do povo cearense.
(*)
Professor titular em saúde pública e reitor da Uece.
Publicado In: O
Povo, Opinião, de 22/11/14. p.9.
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